Abra os olhos

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Estou vestida como uma princesa. Não sei de onde veio esta roupa, mas antes a tristeza que me dominava se foi de repente e meu estado agora transparece felicidade. Corro pelos vastos campos, pelos imensos jardins. Arranco uma flor e rodopio sentindo seu perfume magnífico. Tudo está alegre, o dia está lindo, as árvores parecem sorrir...

Há uma música bem lenta tocando ao fundo. Olho ao meu redor. Estou agora em um salão de dança de um castelo. Mas, não há ninguém aqui... Ao fitar a escada o vejo descendo. Ele está vestido de príncipe e sorri para mim enquanto desce. Perco-me em seu sorriso e em seus olhos brilhantes, tudo que quero é estar ao seu lado.

Ele chega até mim, se ajoelha, pega minha mão com delicadeza e a beija. Imediatamente me puxa para uma dança, ao som de uma melodia clássica que tocava bem baixinho e que agora se tornou mais alta, ao ritmo em que dançamos.

Não paro de encarar seu rosto, ele também não desvia seu olhar por um segundo sequer. Eu o amo tanto...

Uma lágrima escapa de seu olho. Espanto-me ao ver que de forma automática uma lágrima também escorre pela minha face. Só então me lembro de tudo que aconteceu, e que não há motivos para estar feliz. Não depois de tudo...

Afasto-me dele. A dor ainda está presente... Ainda está recente... Não consigo conviver com isso. Ele vai se afastando progressivamente. Eu viro as costas, o deixando sair pelo enorme portão do castelo.

Eu não quero deixá-lo ir, de forma alguma. Talvez ainda haja alguma chance para nós. Corro atrás dele. Quando chego lá fora tudo está escuro. O dia mudou para noite de uma hora para outra. Não posso vê-lo. Olho para o céu, as estrelas são os únicos pontos brilhantes que existem.

Suspendo meu longo vestido com as mãos e começo a correr o mais rápido que consigo, na intenção de encontrá-lo em meio a esta vasta escuridão. Mas é inevitável não se cansar. Tento recuperar forças suficientes para continuar procurando. Minhas forças se esgotaram e não se renovam...

Ouço um sussurro dizendo adeus, que chega trazido pelo vento. E é nesse momento que percebo que ele está partindo. Como se fosse uma força que o puxa para bem longe, ele está lentamente me deixando para trás. Só posso ver o contorno de seu corpo se esvaindo. Já é tarde demais. Ele se foi...

O susto que eu levo ao acordar é como levar um forte e doloroso soco na cara. Respirando pesadamente, me sento na cama e tiro os cabelos que atrapalham minha visão.

As imagens continuam a se projetar repetidamente a minha frente. É como se este sonho fosse um evidente alerta para minhas terríveis e estúpidas dúvidas. É como se fosse um auxiliador para minha decisão. E através dele agora já sei o que fazer.

Passo a mão pelos olhos e desço rapidamente da minha cama.

Como pude vir com a minha mãe e ainda ficar por duas semanas inteiras aqui, sendo que deixei para trás as coisas entre mim e Edward totalmente mal resolvidas?

As lágrimas insistem em descer pelo meu rosto ao pensar que eu não deveria ter me isolado de qualquer contato com ele. Eu deveria ter conversado abertamente e entender que ele estava arrependido por tal ato, e mesmo que eu não conseguisse desculpá-lo de imediato eu teria pelo menos pensado melhor nas coisas e agora não estaria tão distante dele.

Ao que parece eu não dormi a noite passada, eu estava dormindo durante todo esse tempo. E só acordei, realmente, hoje.

Burra! É isso que sou.

Procuro desesperadamente por meus chinelos no quarto e quase atropelo Edhie, que também trouxe comigo, deitada no tapete ao lado da cama.

Saio correndo pelo corredor da minha verdadeira casa. E a verdade é que nem sei o que fazer primeiramente.

InalcançávelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora