A última carta

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Não sei se é porque ele me pediu para vir novamente. Ou se é simplesmente pelo fato de eu ter sentido profundamente dentro do meu coração que eu deveria vir. Mas, aqui estou eu de novo, sentada na sala de espera do hospital, balançando as pernas e tamborilando os dedos nas minhas coxas em extremo nervosismo à chegada da minha vez para entrar lá no quarto para ver meu pai.

A verdade é que estou bem mais nervosa e angustiada do que no primeiro dia. Será ansiedade?

Durante uma semana, eu vim todos os dias ao hospital. Ele sempre me pedia para vir novamente e eu não conseguia recusar e acabava cedendo.

Conversávamos muito pouco, pois quando eu chegava, na maioria das vezes, ele estava dormindo. Então eu ficava somente reparando sua respiração dificultosa através de aparelhos, observando seu corpo mórbido estabilizado em cima de uma cama, e imaginando como tudo seria se ele não tivesse nos abandonado.

Quando acordava, me dizia as poucas e mesmas palavras, pedindo o meu perdão e falando sobre o seu arrependimento.

Ontem ele pegou em minha mão e com os olhos já pesados me disse que sentia que não iria melhorar. Talvez eu esteja com medo de que ele...

O que estou sentindo ao certo não sei. Só sei que minhas mãos estão suando muito e meu coração bate descontrolado.

Minha mãe, que não veio comigo nos outros dias, hoje veio e já está lá dentro há mais de 10 minutos, o que aumenta ainda mais minha apreensão. O que eles estarão conversando?

- Sophie, acalme-se. Você mal está conseguindo respirar direito. - Edward diz próximo ao meu ouvido, me fazendo arrepiar rapidamente.

Eu me viro para ele. Outra coisa que pode está me deixando dessa forma: Edward ter vindo conosco. Eu não pedi nem nada. Ele simplesmente quis, dizendo que iria somente me acompanhar.

- Como você sabe? - pergunto.

- Você está respirando tão alto quanto o som que está fazendo ao bater os pés no chão.

Eu sorrio nervosamente.

- É tão perceptível assim? - indago, tentando controlar meus movimentos e minha respiração.

- Sim, todos que passam ficam te olhando. - ele diz sorrindo um pouco.

Eu tento controlar minhas pernas, mas elas não me obedecem e continuam a balançar.

Edward ri mais uma vez.

- Ainda não entendo. - ele diz.

Iria perguntar o que ele não entende, mas acabei distinguindo no mesmo instante.

Edward não tem capacidade para entender como eu posso estar vindo aqui todos os dias para ver uma pessoa que eu deveria sentir simplesmente ódio.

Minha mãe, finalmente, aparece. Ela está com o rosto umedecido pelas lágrimas e com o semblante muito triste.

Eu me levanto e vou até ela.

- Eu posso entrar agora? - indago, demonstrando ansiedade.

- Sim, ele quer te ver. - eu assinto, e começo a caminhar para lá.

- Espere, Sophie. - minha mãe pede, então eu paro imediatamente e me viro para ela. - Ele quer que você entre junto com Edward.

Eu franzo as sobrancelhas e olho para Edward que endurece a expressão instantaneamente.

- Por que esse homem quer que eu vá? - Edward questiona, irritado.

- Ele quer conversar com vocês dois juntos. O que me surpreendeu é que ele sabe seu nome. - minha mãe esclarece.

InalcançávelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora