Irremediável

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Aquele momento em que temos plena consciência do que está prestes a acontecer. Temos conhecimento que não deveria ocorrer. Mas não conseguimos fugir. Não conseguimos escapar de algo que parece inevitável, que é tentador. É inevitável, justamente porque é tentador. Nos provoca de tal forma... É como uma droga, que está bem alí a frente do viciado. Por mais que ele tente fugir, correr, a droga o chama. E ele acaba se entregando ao vício...

Exatamente isso, estou vivenciando agora. Tenho a consciência do que irá acontecer...

Nossas respirações se misturam. Sua testa ainda está colada a minha. Não sei o que ele pensa, e o que espera. Algumas gotas de água escorrem pelo meu rosto, então fecho os olhos, esperando que ocorra o inevitável, que a tentação me vença por completo. A tensão permanece, cada vez o sinto mais perto.

O gato se esperneia nos meus braços, fazendo de tudo para fugir. Eu devo estar, literalmente, o esmagando.

- Eu te acompanho... - Edward sussurra no meu ouvido.

Permaneço de olhos fechados assimilando o que ele disse, quando sinto o estalar de seus lábios na minha bochecha. Um beijo rápido e calmo, que mesmo de pequena dimensão, enviou correntes de eletricidade, fazendo meu coração se acelerar ainda mais. Logo em seguida, desune nossas testas. É quando noto a falta de sua aproximação, pela falta do calor que emanava do seu corpo diretamente para mim. Dessa forma, abro os olhos ligeiramente. Minha expressão neste momento deve ser um misto de confusão e embaraço. Edward me lança um pequeno sorriso.

- Me espere. Volto já - ele diz andando de costas, ainda de frente para mim, enquanto se afasta. - Fique parada aí, por favor. - diz e se vira, atravessando correndo a rua, que agora está se tornando umedecida; Conduzindo-se direto para uma casa com muros brancos e um enorme portão de ferro.

Queria muito descobrir, qual o efeito que Edward tem sobre mim. Ele sempre me deixa assim, tão abismada, alucinada. Por que será que ele me pediu para esperar? Eu poderia simplesmente girar meus calcanhares e ir embora daqui o mais rápido possível. Porém, minha curiosidade fala mais alto e também nem teria como, pois o mesmo nesse momento se dirige até mim em velocidade e traz consigo um guarda-chuva aberto.

- Por que você me fez esperar? - digo quando ele está bem perto.

-Não te disse? Eu vou com você. - ele para em minha frente. - Trouxe somente um guarda-chuva, foi o único que encontrei de primeira.

Franzo a testa. O que será que ele pretende?

-Vem, Sophie. Se você não percebeu, a chuva está ganhando força. E... gatos não gostam de água, sabia? - ordena para entrar debaixo do guarda-chuva.

Reviro os olhos. É claro que sei que gatos não gostam de água. Olho para minha gatinha no meu colo, ela está tremendo, seus olhinhos cor de mel imploram por um lugar quente e aconchegante.

Ouço Edward suspirar altamente. Quando dou por mim, ele já me puxou para junto de si, passando o braço pelas minhas costas. Dessa forma, andamos colados lado a lado e ambos somos protegidos da chuva. Não revido. Porque, primeiro, ele ainda está pensando que eu possa fugir, então me aperta com uma certa força; segundo, a chuva realmente, está ficando mais intensa; terceiro, não vou negar, que estou gostando da estar assim tão próxima a ele.

Caminhamos devagar em absoluto silêncio. Estamos encolhidos, o que não impede que molhemos um pouco.

- Por que você fez isso? - quebro o silêncio.

- Isso o que?

- Vir comigo até aqui. Eu poderia muito bem ter vindo sozinha. - digo ao passo que já estamos chegando.

InalcançávelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora