Entre anseios e revelações

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Memórias são fatos que fazem parte do passado. Dependendo da sua dimensão elas têm o poder de definir o seu presente, de uma forma boa ou má.

As más têm o poder de te perseguir para a vida toda e te acorrentar a algo que é extremamente doloroso. São lembranças que estão na nossa cabeça em forma de imagens perturbadoras e que quando colocadas para fora sairão em forma de palavras envoltas em dor.

As últimas palavras são expelidas de sua boca com uma carga de emoções tão grande, que eu me transferi para aquele momento do passado junto a ele. Literalmente, sinto toda a sua angústia.

Edward termina de relatar aquela cena agonizante em meio às lágrimas. Ele chora convulsivamente, despertando soluços e mais soluços de seu interior.

Meu coração vai se fragmentando, se estilhaçando cada vez mais. Parece que ele havia guardado tudo aquilo dentro de si durante todo esse tempo que se passou da morte do seu pai e que só agora conseguiu colocar, definitivamente, para fora.

Eu também choro silenciosamente. É inevitável isso. Aproximo-me ainda mais dele e o abraço, tentando encontrar uma forma de consola-lo e lhe dar um amparo.

Edward me aperta fortemente em seus braços e apoia sua cabeça em meu ombro. Ouço e sinto sua respiração irregular acalorando meu pescoço. Seu choro passou de convulsivo para calmo e quase silencioso.

- Sinto muito. - digo em um sussurro.

Ele não diz nada. Apenas continua envolto em nosso abraço, como uma criança deprimida que só precisa estar nos braços da mãe. Eu fecho os olhos, sentindo uma triste paz infiltrando-se entre nós.

Ficamos assim por alguns minutos, tempo suficiente para Edward acalmar-se mais.

Ele se afasta de mim, enxuga com a mão algumas lágrimas que umedeciam seu rosto e outras mais que alagavam seus olhos.

Em seguida, olha para mim atentamente e limpa com o dedo indicador sinais do meu choro que ainda escorriam por minha face.

- É muito difícil falar sobre isso. Posso vê-lo aqui, caído no chão com todo seu sangue saindo do seu corpo. - declara com a voz embargada.

- Se não quiser não precisa falar mais...

- Eu quero falar, Sophie. Você é a única pessoa que não é da minha família que sinto que posso falar sobre isso.

Não digo nada, não há nada o que dizer. Então, eu só fico encarando seu rosto e olhos avermelhados de tanto chorar.

- Depois do enterro do meu pai, eu fiquei atordoado, inconsolável. Pode-se dizer que entrei em estado depressivo. Sentia-me culpado. Na verdade, sinto-me assim até hoje.

- Você não teve culpa de nada. Por que está falando isso?

- Eu era um egoísta, um idiota. Não me preocupei realmente com meu pai. Estava preocupado com o que as pessoas diriam da nossa família quando descobrissem, estava inquieto de ter que chegar à escola e ouvir as pessoas comentando. - Edward apoia os cotovelos nas pernas e enfia a mão entre os cabelos. - Eu ficava indignado de ter que lidar com um alcóolatra e ainda por cima um viciado em jogos. Se eu tivesse me preocupado mais com ele e não com a nossa decadência, as coisas poderiam ter sido muito diferentes. Meu pai provavelmente não estaria... morto. - conclui, abaixando a cabeça, tristemente.

- Edward, você pode ter sido um idiota, sim. Mas de uma coisa você pode ter certeza, não havia como mudar o destino. Põe isso na sua cabeça.

Edward se levanta e começa a caminhar inquietamente pela sala.

InalcançávelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora