-DILÚVIO-

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Evelyn Drop

Justiça

     Sinceramente, aqui não parece uma caverna, não tem como isso ser uma caverna. Pelo que sei sobre esse assunto, e também por fotos que vi, cavernas são normalmente escuras, abandonadas e tenebrosas. Essa aqui, passa muito longe disso tudo, além de não ser escura, de poder ouvir sons de alguns seres mágicos, ela não da nenhum medo, é simplesmente lindo e transmite paz, como se tudo ali fosse colocado milimetricamente calculado da forma mais perfeita possível. A beleza estonteante desse lugar não se compara a nada, é diferente de tudo, as formas complexas esculpidas nas largar paredes, algumas com formas de animais, com toda certeza alguém mora aqui, e cuida desse lugar como a si mesmo.

     Fui andando com passos curtos e lentos para poder apreciar e observar mais o lugar. Não andei muito e cheguei em uma parte onde as parede eram de mármore branco com desenhos de o que suponho ser gnomos ou algo do tipo nas cores prata e dourado. Andei mais um pouco e agora eu estava em um penhasco, na minha frente se estendia uma grande cidade dentro daquela caverna, na verdade duas cidades, ela era nitidamente dividida duas, um lado vermelho e outro azul.

     Estar naquele lugar fez eu recordar-me do meu meu avô, que apesar de ser da família real, era uma pessoa simples que trabalhava nas minas de pedras preciosas, fez-me lembrar das histórias que ele me contava sobre esse tipo de lugar, e também o quão horrível os seres humanos são. Mineradores trabalhavam nesses locais em condições desumanas, para extrair o carvão, pedras e outros minerais, os mineradores encaravam perigos extremos. Lá ocorriam várias explosões nas galerias, por causa dos gases tóxicos expelidos pelas pedras perfuradas. Muitos morriam, a menos que a vida de um pássaro fosse sacrificada para avisá-los.

     Os adultos mandavam crianças para as profundezas das minas, carregando gaiolas com pequenos canários. Como os gases mortais não possuíam odor algum, se os pássaros morressem do nada sem aviso algum, esse seria o alerta de que ali havia um vazamento. Em alguns acontecimentos infelizes, não dava tempo das pessoas saírem do local e a explosão os surpreendia.

     Tentei afastar esses pensamentos horríveis e arranjar uma maneira de conseguir sair desse local. No meio da caverna haviam dois castelos, decidi que vou para lá, talvez eu consiga alguma informação de onde estou e de como sair daqui. Abaixo dos meus pés tinha uma escada, não muito grande nem muito pequena, a desci rapidamente. As casas desse lugar são muito engraçadas, elas são baixinhas e meio arredondadas, aquelas imagens que vi no começo provavelmente retratavam os moradores dessa cidade. Eu já estava bem perto dos castelos quando comecei a ouvir uma gritaria vinda do castelo azul, então segui para ele. Comparando com as outras construções, essa era uma gigantesca. Chegando lá, bati na grande porta, ninguém me respondeu mas ela estava aberta, então entrei.

     Dois gnomos bem mais altos que os outros e muito parecidos (Um vestido de azul e outro de vermelho) estavam brigando aos berros enquanto pequenos guardas tentavam afastá-los. Quando me notaram, os dois se calaram e todos olharam para mim. Eles me olhavam com cara de admiração, como se eu fosse uma deusa, uma divindade.

     -Quem é você?- Perguntou o de azul -Como chegaste até aqui?

     -Eu sou Evel...- fui interrompida pelo de vermelho que falou:

     -Não importa que ela é, chegou na hora certa, é uma enviada dos deuses e vai nos ajudar a resolver esse problema.

     Era quase impossível levar eles a sério por conta do tamanho, mas tentei ao máximo me controlar.

     -Que problema?- Perguntei -E como posso ajudá-los?

     -Nossos pais nos deixaram essa cidade para nós dois cuidarmos dela juntos, mas ele não consegue trabalhar em equipe- Falou o de azul -Antes dos nossos pais morrerem eles nos deixaram algumas coisas, pra mim eles deram essa espada, e para ele um colar que ele nem usa.

     -Mentira- Falou o de vermelho furioso -Essa espada é minha, eles deram para mim, e me pertence, você a roubou.

     -Eles deram para mim, não para você- Continuou o de azul -Como você pode nos ajudar?

     Eu fiquei observando eles dois e a espada, ela era bem parecida com a minha, porém prateada. Depois de muito pensar em um modo de ajudá-los, lembrei de uma história muito muito antiga sobre um grande rei sábio, um dia uma mulher estava acusando outra de roubar seu filho, uma era a verdadeira mãe e a outra é a  que o pegou e cuidou dele. Nenhuma das duas queria ceder o filho, então o rei disse para partir a criança ao meio e cada mãe ficar com uma parte, logo a verdadeira mãe falou que entregasse seu filho a outra mulher, que ela preferia ver o filho com outra mãe do que morto, o rei muito atencioso pegou o garoto e entregou a verdadeira mãe.

     -Me dêem a espada- Falei.

     -O que você vai fazer?

     -Vocês verão.

     O de vermelho me entregou a espada.

     -Guardas- Chamei dois deles e tentei falar o mais sério possível -Segurem a espada, vou a partir no meio.

     -Não, não faça isso- Gritou o de azul -Entregue a ele, mas não a quebre, ela tem um valor muito grande, e é a única coisa que ainda me liga aos meus pais.

     O de vermelho mal reagiu a situação, então falei:

     -Notavelmente o verdadeiro herdeiro da espada é o de azul, e é com ele que a espada vai ficar.

     -Ah tanto faz- Falou o de vermelho -Não preciso disso, ainda vou descobrir para quê aquele colar serve, tudo bem, sem problemas, fique com a espada.

     Depois de muito conversar e conhecer os dois, perguntei por onde eu poderia sair, eles me apontaram uma escada vertical que dava em um túnel dourado, e é para lá que eu vou, finalmente uma saída daqui. Bem no topo do castelo vermelho se encontrava a escada estava me preparando para subir quando parei e voltei para me despedir deles.

     -Bom gente, infelizmente já tenho que ir, muito obrigado por tudo e me prometam que vão parar de brigar, prometem?

     -Prometemos- Falou o de azul e completou o de vermelho -Pelo bem do povo.

     Dei as costas para eles e enfim entrei no túnel dourado que antes parecia muito claro, mas agora estava super escuro, não era possível enxergar nada, só segui o caminho da escada rumo ao nada.

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