Pedaços desamparados

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Edward vira as costas, ignorando ao chamado de Della, mas eu sei que seu ato é para me ignorar. Retorna sua caminhada, depois se senta em outra mesa, onde se encontram alguns de nossos colegas.

Abaixo a cabeça, sentindo toda a angústia e dor me consumir.

- O que deu nele? - Della pergunta, confusa.

- A razão sou eu.

Della que está com a boca cheia, me olha espantada, percebendo finalmente que o problema está em nós dois.

Eu não sinto nenhum pingo de fome, então deixo meu lanche de lado.

- O que aconteceu? Vocês brigaram? - ela indaga, ainda de boca cheia.

- Sim. - respondo seca sem olhar para ela.

- Por quê?

- Porque eu sinto que ele não tem confiança em mim. Porque tenho certeza que ele me esconde algo e não quer me contar - dou um longo suspiro, lembrando o quanto Edward ficou irritado por eu ter o seguido.

Olho para a mesa em que ele está, enquanto penso se devo contar a Della sobre o que ouvi nas ligações e o que vi quando fui atrás dele. Chego à conclusão que é melhor não.

Edward olha para cá, como se de uma forma involuntária sentisse que estava sendo observado.

Rapidamente desvio o olhar.

- A gente brigou por causa disso e se for pra ser assim, é melhor cada um ir para o seu lado. - continuo. Cada palavra que sai da minha boca causa uma enorme tristeza em mim.

- E você não tem ideia do que ele pode estar escondendo?

Engulo em seco. Uma ideia, com certeza, eu tenho. Apesar de não saber se é verdade ou não.

- Não. - minto para Della, pois não quero falar sobre isso.

Pego meu sanduíche, arriscando comer mesmo que meu estômago não esteja pedindo; para assim indicar que não quero conversar mais.

- Eu te avisei que ele era um babaca. - ela fala espontaneamente.

- Nossa, você acabou de me animar bastante! - digo irônica.

- Mas eu também pensei que com você ele havia mudado. E apesar de ele ter se mostrado um babaca, não gostei de saber que vocês brigaram.

Fico sem palavras para respondê-la.

- Se Edward gostar realmente de você, ele vai te pedir desculpas. - ela para, pensando um pouco e depois dá um sorrisinho. - Pode até parecer estranho falar isso de um cara que já namorei, mas eu acho que ele gosta de verdade de você.

- Ele pode gostar mesmo de mim, só que ultimamente não é o que parece. Eu acho que a gente não dá certo. - digo expulsando mais uma porção de palavras que me rasgam por dentro ao serem liberadas.

***
Dois dias são equivalentes a 48 horas.

Então quer dizer que já faz 48 horas desde que brigamos.

48 horas que ele saiu por aquela porta, me deixando transtornada e amargurada.

Dois dias que ele não fala mais comigo...

Pode parecer pouco tempo para uma passagem de tempo normal, para as coisas simples da vida ou para quem tem uma vida corrida e agitada.

Mas é muito tempo para mim que tem dois dilemas em sua vida: De um lado minha mãe, que a cada hora eu imagino que Roman pode estar fazendo algum mal para ela; do outro Edward que não me dirige mais a palavra, nem para falar acabou tudo e mandar eu sumir da vida dele.

Hoje quando cheguei da faculdade, após ter vivenciado mais um dia de indiferença da parte dele, não aguentei mais seu silêncio e acabei mandando uma mensagem, na qual dizia:

"Vamos continuar assim? Agindo como se fossemos desconhecidos para o outro? Se não quer mais falar comigo, chega para mim e fala que acabou tudo e pronto. Seria muito melhor assim."

Não obtive resposta até agora. Não sei se fico mais irritada com o seu silêncio ou se fico um pouco aliviada de não ter que me deparar com uma mensagem sua que possa vir a me machucar ainda mais.

Dói pensar que iremos terminar. Que não vou poder mais ter sua companhia; seus beijos; seus abraços...

Uma lágrima solitária escapa de um dos meus olhos. Reviro inquieta na cama e não consigo dormir.

Outra lágrima escorre pela minha bochecha. Então, me lembro da correspondência que recebi hoje de novo e que a pouco rasguei sem receios; sem ler, assim como fiz com a outra.

Levanto meio tonta e acendo a lâmpada do quarto. Olho para o chão e vejo ali espalhados os quatro pedaços de papéis rasgados.

Sem saber por que estou fazendo isso, pego os papéis e coloco em cima da cama. Em seguida os junto na ordem correta. Transparecendo o que está redigido:

"Tenho um conselho para você: Não acredite em tudo que lhe dizem; não tire suas próprias conclusões de alguma situação que vê. Pode não ser da forma que alguém lhe fala, pode não ser o que você pensa. Sinceramente, arrependo-me de tudo que fiz... Prometo não mandar mais nenhum bilhete para você, percebi que sua vida ficará bem melhor sem mim."

Não deveria ter lido isto. Quando lia era como se escutasse a voz levemente rouca dele falando para mim.

Deito-me na cama, tentando conter que o abalo e a melancolia estilhassem meu corpo e que eles caiam pelo chão desamparados.

Fico com os olhos abertos olhando para o teto, imaginando o que está acontecendo em minha vida. As palavras do bilhete continuam ressoando em continuidade na minha cabeça.

As lágrimas transbordam dos meus olhos. Meu coração bate lento e pausadamente. Respiro com dificuldade. Não consigo mover meu corpo.

As únicas coisas que estão movimentando-se rapidamente são as lágrimas salgadas que descem desenfreadas pelo meu rosto.

Finalmente, consigo mexer meu corpo. Viro-me e me encolho, formando uma pequena bola solitária no meio da cama. Fecho os olhos com tremenda força na intenção de que o meu choro acabe.

Minhas lágrimas uma hora deixarão de rolar, mas a minha dor e o que estou enfrentando continuarão rondando em torno e dentro de mim, me assombrando e deixando-me louca.

InalcançávelWhere stories live. Discover now