- Não sei. - responde seco, suavizando mais seu aperto em torno de mim. - Talvez, porque sou muito educado. - muda seu tom de voz para um mais divertido. Sorrio baixinho.

- Finalmente, estamos quase chegando. - comemoro, vendo o quanto a chuva está se transformando em tempestade. As rajadas de ventos estão mais fortes, e os trovões não param de se manifestar.

- É. Parece que você chegou. - ele diz.

- Mas, não vou poder entrar se você não me soltar. - digo olhando para seu braço em torno de mim.

- Oh! Verdade... - ele me solta e eu corro em grande velocidade.

Quando já estou na porta do térreo do prédio, olho pra trás e vejo Edward através do temporal, começando a se encaminhar pela rua alagada, de volta para sua casa.

- Edward! - grito com todo ar dos meus pulmões, esperando ser ouvida.

Ele se vira rapidamente e me olha questionador. Eu o chamo com aceno de mão. Então vem até mim, caminhando com uma mão no bolso da calça.

- O que? - pergunta ao adentrar no local e fechar o guarda-chuva.

- Você pode entrar... Se quiser. - digo meio sem jeito.

- Ufa! Pensei que não fosse me convidar. - brinca com um leve sorriso.

Reviro os olhos.

- É claro, até a chuva cessar. - esclareço. - E vamos logo. - digo caminhando até o elevador.

- Tem certeza que quer que eu entre? Não tem medo de ficar sozinha comigo? - No instante em que diz isso, sinto um arrepio pelos meus braços e um frio na barriga repentino. Sua pergunta é em tom brincalhão, mas percebo um toque de seriedade por trás dela.

- Por... por que? Aliás, essa não é a primeira vez que ficamos sozinhos. - finjo não dar importância.

- Deveria estar meio receosa... Você sabe o que aconteceu da última vez... - sussurra me encarando com o semblante sério e sua voz ligeiramente rouca.

Engoli em seco. Minhas bochechas arderam. Não posso acreditar que ouvi isso. Queria poder evaporar agora, sumir.

Edward ri bem alto, nunca o vi gargalhar assim. Fico totalmente constrangida. Estou sem palavras. O elevador se abre, me direciono para fora, enquanto ele vem em minha trás, morrendo de rir. Estou começando ficar irritada.

- Nossa, Sophie! Estava brincando. Da última vez que estive aqui não aconteceu nada, né?! Se aconteceu foi esquecido, porque não me lembro... Você se lembra? - profere enquanto abro a porta.

Ele só pode estar gozando da minha cara. Nunca conseguirei me esquecer. Lembrar disso é como estar revivendo tudo novamente, sinto todas as emoções que estiveram presentes, além da minha aflição após tudo.

- Não. Não me lembro de nada. Você mesmo me pediu para esquecer.

- Ah! Então, realmente aconteceu... Agora me lembro, vendo o local em que ocorreu, vendo suas faces ainda coradas como naquele dia... - paro. Coloco a gatinha no chão e me viro para ele, dando de encontro com seus olhos verdes hipnotizantes.

Edward me dá um sorriso torto e fala:

- Repito. Só estava brincando. Prometo não falar mais sobre isso. - Se senta em uma cadeira na cozinha. - Mas, não esqueci.

- Idiota. - alego.

Vou até o refrigerador e pego uma caixinha de leite. Em seguida, despejo um pouco do leite para a gata em uma vasilha pequena e coloco no chão para a mesma. O animal bebe devagar, mas ao mesmo tempo com bastante vontade. Ela está meio magra, por ter sido abandonada, mas ainda bem que a encontrei a tempo.

InalcançávelWhere stories live. Discover now