Capítulo 12

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CHRIS POV

O silêncio repousou. Pânico. Desespero. Dor. Sofrimento. Não sei qual dessas palavras definia a cena que eu acabara de presenciar. Todos estavam boquiabertos, pasmos, não sabíamos o que fazer. Até que finalmente o silêncio foi quebrado.

- GABI, ACORDA! GABRIELA, EU NÃO ESTOU GOSTANDO DESSA BRICADEIRA! EI, EI! - Vivian sacudia a Gabi, chorando desesperadamente. Fred puxou ela para trás. - ME SOLTA, A GABI NÃO TÁ SE MEXENDO! ME SOLTA, EU TENHO QUE VÊ-LA! POR FAVOR, FRED...

- TEMOS QUE PARAR ESSE SANGRAMENTO! - Frederick carregou a pequena menina no colo, correndo para dentro da casa. Vivian o seguiu.

Eu não conseguia acreditar no que via. A Gabi, aquela criancinha adorável e inteligente... Ela foi acertada por um tiro, talvez morreria...?

- Ah, que pena! Errei o tiro! – O homem na moto sorria, psicótico. Ele ligou a sua motocicleta e sumiu dali.

- Ah, vai se foder, filha da mãe! - Pedro apareceu, com uma dos calibres atirando no motoqueiro que fugia. Infelizmente ele usava um colete a prova de balas. – Merda... VOCÊ NÃO TEM CORAÇÃO? VOCÊ ACABOU DE ASSASSINAR UMA CRIANÇA A SANGUE FRIO!

- FILHO DA MÃE! – Gritei enfurecido, correndo em direção ao carro. Não queria que esse panaca fugisse, queria matá-lo e fazer sofrer pelo que fez.

- Vamos lá. - Frank abriu a porta, como se eu tivesse o convidado para matá-lo. Pedro também entrou.

Eu não estava acreditando que aquela criança tinha acabado de levar um tiro certeiro na barriga. Eu não ia ver tal cena e deixar barato. Lembrei-me da promessa que eu fiz com ela.

FLASHBACK

2 DIAS ATRÁS

- Moço, você é amigo da Vivi, né?

- Sim, eu sou...

O sorriso contagiante desapareceu e agora tudo o que restou foi um olhar triste, cabisbaixo. Naquele momento, eu sabia que ela iria dizer alguma coisa bem séria.

- Minha irmã me ama demais! E assim como ela, eu também a amo! Mas, você sabe... Do jeito que as coisas estão, eu não vou sobreviver por muito tempo...

- Você não vai mor...

- Mentir é feio! – Ela suspira. – Eu não tenho chances...

Realmente ela estava certa. Tinha pouca probabilidade de crianças conseguirem sobreviver nessa era. Mal conseguíamos nos cuidar e a Vivian, levava a responsabilidade em dobro.

- Se um dia eu morrer, faça de tudo pra Vivi nunca se culpar por não ter conseguido me ajudar. Eu a amo, não quero vê-la sofrendo... É por isso... – Ela estava chorando, mas ainda continuava sorrindo. – Por favor, cuide da minha irmã... Não deixa ela ficar triste!

- Vai ficar tudo bem. Eu prometo que vou cuidar dela pra você. - Respondi, num tom sério. - E você não vai morrer, você vai estar salva conosco para sempre! Quem sabe, nós não te ajudamos a treinar e utilizar armas? Você iria ser uma sobrevivente tão boa quanto nós!

- Quem sabe! – E ela sorriu, esperançosa.

PRESENTE

Ana Luíza apareceu na frente do carro, nos impedindo de andar com a picape.

- Idiotas, já vai escurecer e vocês serão alvos dos zumbis! Se querem tanto morrer sigam em frente! Vocês podem ir atrás desse desgraçado amanhã!

Ela tinha razão. Não podíamos ir, mas ver a Gabi naquelas condições me doía.

Corremos para o quarto onde eles estavam, onde Fred e Vivian estavam com a Gabi. Pelo que parece, foi um tiro na costela. Os lençóis brancos da cama agora estavam cheios do sangue da menina. Eu não conseguia ver aquela cena sem querer chorar.

Sua barriga estava enfaixada e já haviam retirada a bala de dentro de seu corpo. Ana Luíza apareceu com uma agulha e uma linha.

- Preciso fazer isso ou ela perderá mais sangue. Vocês podem esperar lá fora?

- C-certo.

Demorou meia hora para Ana costurá-la. Todos estavam aflitos, principalmente a Vivian, que não sabia o que fazer. Ana Luíza saiu do quarto dizendo que a Gabi respirava, com dificuldade e que por ora, deveríamos deixar a criança descansar.

[...]

Estava chovendo.

Fui para a sala e encontrei o Frederick, na mesa de jantar. Perguntei sobre a Vivian.

- Ela não quer falar com ninguém, nem comigo...

- Cadê ela?

- Lá fora.

Fui até lá e a encontrei no chão, agachada observando aquele temporal. Sua maquiagem estava borrada, por causa do choro. Ela olhou para mim e novamente olhou para a chuva dizendo:

- Sou uma péssima irmã.

- Você não podia fazer nada.

- Poderia ter mandado ela voltar, poderia ter prestado atenção na rua, poderia ter me lembrado que existiam cinco deles no mercado... – Ela suspirou e tomou alguma coisa no que deduzi ser cachaça por causa do cheiro forte. - Merda, Chris... Eu não sou boa o suficiente para proteger minha irmã?

- Você é uma das mais fortes daqui do grupo. Se você não consegue, quem conseguiria?

- Eu me sinto inútil...

Ela ficou reclamando da vida, de como sua família agiria se estivesse aqui, de como ela amava a irmã e várias outras coisas que não prestei muita atenção, até ela ficar com raiva de si mesma e tacar o copo de vidro para o quintal, quebrando-o.

- Chris... Ela tem chance de viver...? - Seus olhos lagrimavam, mas eu percebia em sua face que ela tentava sorrir. - Tipo, ela perdeu uma quantidade muito grande de sangue e, pelo que sei, acho que ela pode ter... Hemorragia, né?

Não queria mentir. Os riscos dela não conseguir sobreviver eram altos. Ela perdeu metade do seu sangue e já parecia ter sintomas de anemia e estava com uma palidez terrível. Não queria machucar ela com as palavras então só disse:

- Por que não aproveita este tempo com sua irmã?

Ela olhou para mim, com os olhos arregalados e cheios de tristeza, saindo correndo. Deduzi que fosse para o quarto onde Gabi repousava.

Não era somente a Vivian que estava abalada com essa tragédia. Frank estava na chuva treinando tiros, Pedro estava quieto no sofá, escutando alguma música e puxava assunto com Ana, que não queria ser incomodada, tentando esconder seus sentimentos enquanto lia um livro e Frederick deve ter acompanhado a Vivian, para ela não se sentir tão sozinha.

Eu mesmo estava chateado com aquilo. Peguei o cereal com leite e fui comer na mesa de jantar, me perdendo em pensamentos.

Quando percebi, Pedro estava sentado à mesa, olhando para seu celular.

- Ela não tem chances... Né? - Ele perguntou.

- De acordo com a Ana... Ela perdeu muito sangue... Ah, maldito Deus! Onde está você para nos ajudar?!

- Não culpe Deus, isso tudo é culpa da humanidade. Mas também... Quem sou eu para falar disso? Então... Vamos atrás do filha da mãe?

- Sim, não posso deixar isso barato. Se aquele desgraçado quer matar alguém, que seja eu! Eu matei dois dos comparsas dele!

- Eu irei com você.

- Melhor não...

- Cara, todos nós queremos vingança pelo o que ele fez com a Gabi! Eu tô nessa, não adianta impedir!

- Tudo bem, já que insiste...

E então meu amanhã seria esse. Ia procurar aquele pedaço de bosta que acabara com a vida de uma garotinha de 8 anos e matá-lo, sem piedade.

Apocalypse Z [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now