Capítulo três: entre dores e confusão

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Erwin... Erwin

Já havia repetido o nome do homem em nossa frente pelo menos umas dez vezes. Eu já ouvi isso, e agora também percebo que também conheço o de Levi... Ackerman.
Talvez só agora tenha me dado conta porque antes estava eufórica demais.

- Não está brincando comigo, certo Levi? - Sua voz estava rígida. Havia se curvado em nossa direção e apoiado suas mãos sobre a mesa. Do seu lado direito, um enorme armário de ferro tinha em uma de suas portas um papel escrito "Certidão de óbito".

Em que merda eu me meti?
Penso comigo mesma.

- Não, senhor. Embora não haja uma prova concreta, além da sua própria presença, eu posso afirmar com certeza de que vi ela aparecer por um portal de vidro, ao que parece. - Levi não expressava nenhum desconforto pela situação, muito pelo contrário. Estava sério e falava de forma confiante o suficiente que se estivesse relatando que viu um unicórnio voando no céu, eu acreditaria.

- Então quer que eu acredite em você, mesmo sem nem uma prova? - Erwin estava com suas sobrancelhas arqueadas, mostrava dúvida diante das falas do seu subordinado.

- Confie em mim, comandante. Acharei um jeito de provar minha tese. - O moreno o retrucava, agora com um tom de voz um pouco mais ríspido. Talvez não tenha gostado tanto que seu superior estivesse achando aquela conversa uma perda de tempo.

Eu ainda estava ao lado de Levi, sem dar nenhuma palavra. Estava ficando aflita, acho que preferiria estar em algum lugar com a única pessoa que acreditava em mim, do que sozinha lá fora em uma cidade sobre o qual eu não conhecia. Meu coração estava acelerado.
Queria que Erwin acreditasse, ele provavelmente faria com que mais pessoas me ajudassem, e assim toda essa maluquice seria resolvida o mais rápido possível. Mesmo que sem expressar nada, sei que Levi também sentia aquilo. Minha raiva crescia, talvez pelo idiota que salvara minha vida e agora estava sendo taxado de mentiroso, ou porque eu não queria ter que pensar na situação de ser abandonada por um imbecil que não conseguia deixar suas crenças de lado quando a verdade estava bem em sua frente.

- Seu nome é Erwin Smith. Você se culpa pela morte de seu pai. - Dou uma pausa e me pergunto o que caralhos estou fazendo. - Ele contou histórias do mundo real para saciar a sua curiosidade, e você saiu espalhando. Seu pai foi sentenciado à morte por causa disso, por falar o que tinha de verdadeiro no mundo, mesmo que nunca tenham realmente assumido.

Os olhos de Erwin estavam em mim. Me observava com curiosidade e o que parecia ser susto e desconforto. Levi também depositou seus olhos em mim.
Me viro para ele e começo a falar.

- Levi Ackerman. Não tenho certeza se já descobriu seu sobrenome. - Erwin agora conduzia seu olhar para Levi e eu a medida que falávamos. - Sua mãe era uma prostituta, ela morreu de fome e você quase teve o mesmo destino. Por sorte, ou não, foi criado por Kenny Ackerman no subsolo, criado pra matar desde criança.
- Sua expressão havia mudado para uma que nunca vi, nem imaginei que veria em Levi. Um sentimento de morte exalava sobre sua presença.
Ele anda em minha direção a passos lentos e com uma raiva estampada no rosto. Apertava seus punhos e por um segundo estava pronto para me matar. Não vi só raiva em seu olhar, vi sofrimento.
Erwin que logo percebeu o que o moreno estava prestes a fazer, veio e o segurou pelos ombros.

- Mantenha a calma, soldado. - Parece que ele havia se recomposto, diferente de Levi, que ainda me olhava com a mesma expressão.

O comandante se vira de volta para mim.
- Como sabe de tudo sobre nós? Nossos segredos que nunca contamos a ninguém.

- Porque no meu mundo vocês são parte de uma história.

•°•

Com as duas mãos sobre a testa, Erwin mantinha uma expressão de imensa confusão. Levi havia se sentado em uma das cadeiras de madeira acolchoadas em frete a mesa do comandante. Sua perna direita estava em cima da esquerda e seus braços cruzados. Havia voltado a seu olhar frio de sempre.

- Mas como isso é possível?

- Eu não sei, mas aconteceu. E para piorar a situação, o portal se fechou. - Aparentemente sua voz fria e grossa também havia voltado ao normal.

Com as coisas calmas novamente, pude organizar meus pensamentos e tentar entender de onde veio aquilo e porque não me lembrei antes.

- Attack on Titan. - É a única coisa que sai da minha boca.

- O que disse? - O loiro se volta para mim.

- Esse é o nome que deram a história de vocês, "Attack on Titan".

- Faz jus a nossa realidade. - Levanto minha cabeça e vejo Levi com aqueles olhos acinzentados que não consigo decifrar.

- Certo, isso é demais para uma noite só. Vão para suas camas, amanhã discutiremos isso com mais clareza. - Ele da uma pausa e se vira para o baixinho. - A leve para seu quarto, não a deixe sair até o amanhecer. Tentem ao máximo não falar com ninguém, não quero mais pessoas surtando além de nós três.

Depois de ouvir isso, o capitão se levanta e vai em direção a porta, ele a abre e olha para mim como se quisesse que eu fosse em sua direção. Estava receosa demais para querer ficar sozinha com ele depois do que pretendia fazer. Não me movo apesar do seu olhar ficar cada vez mais irritado.

- Eu não vou machucar você. - Mesmo com suas belas palavras, não faz eu me sentir melhor. Mas vou em sua direção, com medo e insegurança. Não é como se eu tivesse outra alternativa. Depois da discussão de hoje à noite, era como se eu me tornasse propriedade dos dois, pelo qual analisariam como um experimento em laboratório.
A imagem dos dois soldados como cientistas malucos vem a minha mente e me permito a diversão soltando um pequeno sorriso enquanto ando por um corredor macabro com um homem que está prestes a me matar se necessário.
Muito motivacional.


Estilhaçados Pelo Tempo Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon