Capítulo vinte e sete: adeus.

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•Aurora.

A mesma luz da janela, que um dia me cegava, agora não incomodava tanto. Gostaria de poder ver aquela luz mais vezes, porém sabia que isso não era possível. Levanto a parte de cima do meu corpo para tentar ver o resto do quarto e se Levi ainda estava ao meu lado.
Ele não estava.
Percebo que estou completamente nua, sendo coberta apenas pelo lençol. Levanto e começo a procurar minhas roupas. Algumas estavam perto da porta, outras do outro lado do quarto. Me visto e saio indo direto para o escritório do Levi.
- Droga. - Lembro que esqueci de arrumar a cama, mas decidi não voltar. Chego no lugar bem mais rápido do que esperava e acabo travando. Eu tomei uma decisão ontem, na verdade não tenho muitas opções. Mas mesmo assim, eu não queria ir. Mesmo que esse lugar seja horrível, as pessoas daqui são admiráveis e eu tenho a certeza de que não vou encontrar ninguém como eles, não importa o mundo ou realidade.
Eu não quero ir.
- Olá, bom dia. - Me viro e vejo Armin com um sorriso no rosto.
Abro o melhor sorriso que posso, apesar de ter a sensação de estarem rasgando minha garganta por dentro.
- Bom dia Armin.

- O capitão Levi disse para a gente se encontrar na sala de reuniões. Disse que você precisava falar conosco. - Ele diz. Seus cabelos dourados voavam sobre seu rosto com o vento da janela um pouco atrás de nós.

- Ah sim, ele já deve estar lá com a cara emburrada e dando sermão em todo mundo. - Dou um sorriso e ele faz o mesmo.
Começamos a andar em silêncio até o lugar e chegamos pouco tempo depois. Todos já estavam aguardando, sentados na mesa de madeira escura e me olhando. Sinto um aperto no coração.
Respiro fundo e sinto meus pulmões falharem.
- Eu... - Vejo seus olhares tristes. Podiam não ter certeza, mas tinham noção do que viria. Olho para Levi que me encarava, ele acena com a cabeça como quem dizia para que eu continuasse. - Quando eu apareci magicamente aqui, tive a impressão de que iria morrer. Foi como cair em um oceano, eu sei que vocês nunca viram, seria um sonho poder mostrar a vocês. Ver todos com cara de idiota olhando para uma coisa que para mim é tão comum. - Respiro, agora um pouco mais calma. - Mas não vou conseguir. Vocês me mostraram a importância do trabalho em equipe, da confiança, da motivação, da persistência, e antes de vir para cá, eu nem acreditava que podia sentir isso. Agradeço por tudo que fizeram e me ensinaram, até às táticas de luta. Isso... É uma despedida. - Termino de falar sem conseguir olhar para cima e ver seus rostos.

O silêncio tomava conta da sala e eu sentia que ele me devoraria. Ouço uma cadeira se arrastar e alguém levantar.
- Nós é quem devemos agradecer. Com as novas lanças que você nos ensinou a fazer, o número de mortes de soldados vai diminuir em níveis extremos. Agradecemos também por ter lutado ao nosso lado sem pestanejar, apesar de não ser nem desse mundo. Você se tornou uma saldada excelente e exemplar, ajudou a salvar inúmeras vidas... Nos ajudou a crescer. Obrigada. - Levanto meu olhar e vejo Hange com o punho fechado e junto ao seu peito. Faço o mesmo e ela corre para me dar um abraço. Sou tomada por uma multidão de pessoas se jogando em cima de mim e sinto uma vontade imensa de chorar que acaba se tornando mais que só uma vontade.
Vejo os olhos de Armin cheios de lágrimas quando se afastam de mim, isso acaba me deixando mais triste ainda. Começamos a andar até os cavalos e fomos em direção ao lugar onde eu caí em cima de Levi. Dou um sorriso quando lembro da cena. Todos do esquadrão estavam aqui. Íamos um pouco devagar já que o lugar não era longe.
O vento corria sobre meu rosto, estava relativamente frio. Não estava nublado, mas uma nuvem cobria os raios solares e deixava o clima ameno e muito confortável. Um ar refrescante tomava meu nariz me fazendo querer respirar cada vez mais fundo. A grama verde ao meu lado balançava com a brisa suave que passava. A frente, o mesmo caminho de terra com algumas pequenas pedras. O mesmo lugar que me arranhei aquele dia.
Desço do cavalo e vejo meus amigos fazerem o mesmo. Algumas voltam a me abraçar, outros apenas me olhavam com tristeza nos olhos. Eu os entendia. Doeria mais ainda se me abraçassem de novo, como está doendo agora. Tinha a sensação de haver arames farpados dentro da minha garganta, que a destroçavam aos poucos e me faziam sangrar por dentro.
Por que despedidas doem tanto?
Por que eu vim parar aqui?
Por que tenho que ir embora?
Por que não posso viver o resto da minha vida com ele?
Olho para o lado e vejo Levi. Seus cabelos pretos caiam tão bem com seus olhos acinzentados. Sua pele clara o deixa quase como o Edward Cullen, só que o que realmente brilhava eram suas doces palavras ontem. Eu não queria correr o risco de esquecê-las, então escrevi em um papel e coloquei no meu bolso. Estou com a roupa de quando vim. Havia trocado pouco antes de sair. Um pijama. É meio engraçado de ver.
Levi começa a andar em minha direção e me dá um abraço, colocando suas mãos na altura da minha cintura e me puxando o mais perto possível dele. Coloco meus braços acima de seus ombros e acaricio seus cabelos.
- Gostaria de ter dito isso muito antes, é o único arrependimento que vou levar pelo resto da vida. Você é uma garota incrível. Obrigado por tudo que fez por mim. Eu amo você, pirralha. - Por alguns segundos fico sem saber o que fazer. Ele havia sussurrado em meu ouvido, deixando para que apenas eu o escutasse.
- Eu também te amo, anão idiota. - Digo com o mesmo tom de voz e escuto sua risada ainda próxima a meu ouvido me fazendo arrepiar. Ele interrompe o abraço e leva suas mãos até meu rosto enquanto olhava nos meus olhos. Ele coloca sua testa contra a minha e fecha os olhos, faço o mesmo e logo em seguida ele me beija. Dura apenas alguns segundos e a gente interrompe. Ele olha nos meus olhos novamente e beija minha testa.
- Seja feliz... Dos jeitos mais sem sentidos que você puder encontrar. - Ele diz se afastando.

- Por favor, toma cuidado.

- Eu sempre volto inteiro, pirralha. - Dou um sorriso e ouço o barulho de vidro quebrando. Sinto algo me puxando e vejo pela última vez Levi com um olhar triste. Até que tudo some.

•Narrador.

Com a cabeça deitada sobre o teclado do notebook, Aurora acordava ainda meio atordoada. Seus cabelos emaranhados e letras marcadas em sua bochecha esquerda determinavam seu longo período de sono. Ela olha para a mesa e vê um pequeno papel dobrado que parecia ser muito velho, aquilo chama sua atenção, mas decidi olhar depois. Ao invés disso, levanta, mas para de andar pouco antes de chegar na cama. Não sabia o motivo, porém acreditava que deveria parar se não, algo poderia acontecer.
Intuição. Apenas isso. Ela pensava.
Voltou a andar e chegou até sua cama. Se deitou e voltou a dormir.

Estilhaçados Pelo Tempo Where stories live. Discover now