Capítulo cinco: futuro

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•Aurora.

Acordo com a voz de Levi ensurdecedora em meus ouvidos, além da luz do sol que entrava pela janela. Havia dormido no colchão embaixo e Levi em sua cama. Pensei por um momento que ele fosse ser educado e me concedido a cama mais confortável, mas isso não aconteceu. Também não o julgo, eu faria exatamente igual.

- Vamos, pirralha. Acorde logo de uma vez. Por causa da sua lerdeza vamos nos atrasar. - Sua voz demonstrava irritação, por isso deduzo que ele tentava me acordar a um tempo considerável.

- Que horas são? - A preguiça em minha voz deve ter lhe irritado mais ainda, porque depois da minha fala ele dá um chute no meu colchão que me balança em cima e quase bato a cabeça na parede.

- Você tá louco?!

- Será que você não entendeu a sua posição aqui ainda? Eu mando, e você faz. - Começo a me estressar com sua grosseria e sua síndrome de chefe autoritário.

- Não enche, duende de jardim. - Eu o olho e por sua expressão de confusão percebo que ainda não existem duendes aqui. Que bom, eu acho.
Me levanto e vou direto ao banheiro, lavo meu rosto e me volto para Levi, que agora estava encostado na parede próximo a mim.

- Eu preciso de uma escova de dentes e outra roupa. - Ainda me olhava com o rosto frio. - Só uma calça na verdade. E sapatos. Não quero andar por aí parecendo uma mendiga.

- Você acha que sou seu empregado? Vai desse jeito, não me importo com o que vão achar de você.

- Mas e a escova de dente? - Ele solta o ar de seus pulmões e aponta para um espelho acima da pia.

Eu o abro e vejo o que procuro ainda lacrado em um plástico, mostrando que ninguém havia usado-a. Fecho a porta na cara do baixinho com uma expressão de deboche.
- Obrigada.

Um tempo passa, e quando saio do banheiro, vejo Levi deitado sobre a cama. Suas pernas tocavam o chão e seu rosto estava coberto com suas duas mãos. A luz do sol batia sobre seu corpo deixando pequenas partes dele e de sua roupa meio amareladas. Por causa dos braços levantados, dava para ver um pouco da sua cintura, que agora estava tão fina quanto a de uma mulher. Ao seu lado, uma calça jeans azul-escuro dobrada de uma forma tão perfeita que dava vontade de deixá-la daquele jeito.
Agora que estava tão quieto e sob uma luz tão melancólica e suave, poderia se arriscar a dizer que sua beleza era tão extrema que não sentia vontade nenhuma de tirar os olhos sobre aquele corpo que subia de baixo para cima por causa da respiração de forma lenta e calma.

- O que está olhando? - Sua voz soa um pouco mais alta do que deveria. Seus olhos, que antes me assustavam, agora pareciam cada vez mais incrível e interessantes. - Ei, não me escutou?

- Ah, eu escutei sim. Não sou surda, só estava pensando um pouco.

- Pense em outro momento, já estamos atrasados. Vista-se rápido, vou estar atrás da porta. - Ele falava enquanto saia do quarto.

- Eu realmente estou delirando.

Vesti a calça que ele disse que não iria trazer e caminhei até a porta.

O caminho até o escritório do Erwin foi silencioso e entediante. O estressadinho só olhava para frente com a mesma cara de sempre. Alguns olhares nos perceguiam, mas tentei não dar muita atenção.

- Erwin! - Dessa vez ele bateu na porta.

- Entrem. - A voz abafada que vinha daquele cômodo me causou alguns arrepios e o nervosismo voltou. - Sentem-si.

- Diante de tais acontecimentos, quero fazer um acordo com você, Aurora. - Atrás da mesa, sua expressão era seria e um pouco esperançosa. Já sabia o que viria. - Já que tem total consciência dos acontecimentos futuros, vai nos ajudar a passar por eles e em troca nós iremos te ajudar a voltar para casa.

- Como pretende me levar para casa?

- Vamos contratar alguns especialistas que possam ajudar. - O olhar de Levi, coberto de confusão, mostrava que aquilo era pura baboseira.

- Vocês não tem o básico de tecnologias que seriam necessários em tal pesquisa, não vão encontrar isso em livros de ciência comum. Se fosse dar um palpite, seria melhor contratar alguns bruxos ou demônios. - Meu tom sarcástico fez Erwin perceber que eu daria muita mais trabalho do que parecia.

- Nós do reconhecimento somos conhecidos como "demônios". - Esse foi uma ótima "tirada".

- Senhor, ela está certa. Não temos o necessário para entender, muito menos investigar tal coisa. - O baixinho me defendeu.

- Mas vamos tentar. Com o que temos e os seus conhecimentos podemos chegar a algum lugar. - Seu olhar pesava sobre mim. Eu não tinha muitas opções, mas queria tirar o máximo possível do homem a minha frente. - Sua presença aqui não aconteceu por acaso, talvez seja a chance que temos de salvar as pessoas nessa ilha. - Sua voz era simpática e melancólica.

Eu o entendia. Era a esperança daquelas pessoas, poderia avisá-los sobre tudo. Sobres as mortes, ensina-los coisas, ajudar em novas tecnologias...

- Levi, você tinha toda razão quando disse que eu era uma covarde. Eu só... Queria proteger todos vocês, e é isso que vou fazer. - Dou uma pausa enquanto via aqueles dois homens na minha frente prestes a ter um surto, loucos para saber o que aconteceria. - Na próxima missão, com o objetivo de prender a titã-fêmea, todos do seu esquadrão vão morrer.

Pela primeira vez vejo alguma expressão feita com intensidade no rosto de Levi. Seus olhos estavam arregalados e um pouco tristes. Senti como se tivesse os matado ali mesmo em sua frente, todas as pessoas que ele amava... Inclusive ela. Seu olhar permanecia em mim, parecia estar procurando um rumo, um motivo. Não conseguiria olhar para eles de novo nunca mais em minha vida. Sou realmente uma covarde, preferiria o Levi sem expressão do que aquele que sentava ao meu lado com tamanha dor e sofrimento.

- Quando vocês conseguem pegá-la, ela solta um grito que faz vários titãs virem e comerem seu corpo. Mas antes que pudessem comer o portador da titã, ela foge e na tentativa de capturar o Eren, todos são mortos por ela.

O silêncio daquela sala me fazia questionar se minha escolha foi a certa.

- Certo. Levi, não se preocupe. Com as informações dadas pela Aurora vamos conseguir salvar todos eles. - Erwin tranquilizava o homem ao meu lado que agora havia tirado seus olhos de mim. - Quero que faça uma coisa. Para ela continuar aqui, sem que pareça suspeito, vai ter que treina-la como um cadete. Diga que ela é uma soldada excepcional e que os seus treinos seriam muito mais favoráveis.

- Quer que eu vire babá dessa pirralha? - Sua voz havia voltado ao normal, então me permito olhar para ele.

- Não me chama de pirralha, seu anão. - Seu rosto se volta para mim com uma expressão de raiva tão forte que me arrependo de ter dito aquilo.

- A partir de agora é Capitão Levi, mas você continuará sendo uma pirralha. - Embora tentasse disfarçar, Erwin estava sorrindo.

- Na minha opinião, você vai ser sempre um idiota.

- Certo, você vai começar limpando os banheiros.

- Você é um babaca mesmo. - Minha raiva subia para minha cabeça, mas para ser sincera gostava daquela brincadeira.

- É Capitão Levi, pirralha idiota!

Apenas mostro o dedo do meio e recebo uma cara feia do baixinho.

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