Capítulo dez: Missão

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•Levi Ackerman.

A noite foi tranquila, apesar da ansiedade. Não sentia isso a um tempo, o medo do desconhecido, do que poderia acontecer. Eu queria que a missão desse certo, que todos voltassem sãs e salvos. Mas as probabilidades dizem o contrário. Será que o destino existe? E se existe, que chances temos contra ele?
Coloco a mão na testa tentando aliviar a dor de cabeça que esses pensamentos estão me causando. Respiro fundo e tento voltar a realidade olhando meu quarto.
Eu estava sentado na beirada da cama com o corpo inclinado para trás apoiado sobre a minha mão esquerda. As paredes de pedra dariam calafrios aos que nunca estiveram sobre aquele tipo de cômodo. Será que Aurora sentiu?

Olho para baixo, onde normalmente encontraria Aurora deitada com o braço para fora da cama, babando, desgrenhada, e em na posição de alguém que acabou de cair de um lugar alto e quebrou o pescoço. Será que vou voltar a vê-la daquele jeito? Será que vai ser a minha vez de partir? Jogo meu corpo sobre a cama e durmo, nem havia percebido o quão cansado estava.

...

O som dos cascos dos cavalos batendo no chão eram ensurdecedores. Erwin gritava alguma coisa que fazia eles se esbaldarem de tanta alegria, esquecendo o perigo que iam correr daqui algumas horas. Apenas os membros do meu esquadrão e alguns dos cadetes foram requisitados para essa missão, embora não muito experientes, mas como eles conheciam a portadora da titã fêmea seriam essenciais. 

Chegamos no distrito e todos foram para suas posições. Vejo ao longe Armin, Eren e Mikasa tentando convencer a Annie a entrar no túnel. Embora eu não conseguisse ouvir, via bem que ela estava muito relutante. Eles conversavam um pouco, o sorriso de Armin era verdadeiro, estranhamente verdadeiro. Ele me lembrava muito o Erwin, não só em sua aparência, mas no caráter, na curiosidade que é vista em seus olhos, na persistência e na incrível capacidade mental. Ele seria um ótimo comandante, a começar por essa missão que foi arquitetada por ele.
Eren era muito irritante, mas tinha uma força de vontade que nunca havia visto. É de se admirar tais pessoas assim, ainda mais em um mundo como este.
Mikasa era fria, fazia de tudo pelo Eren. Era excepcional em tudo, mas não controlava seus próprios sentimentos quando se tratava daquele moleque.

Todos naquele lugar usavam umas capas feitas com um tecido beje. Me movo um pouco para tentar desprender minha mão, aquilo me encomodava. Não conseguiria lutar preso naquela merda. Estava agachado em cima do telhado, pronto para atacar. Perto de mim estavam três dos membros do meu esquadrão. Lutavamos melhor juntos e o Armin sabia disso, pois colocou nós três juntos e dividiu o resto com os cadetes recém formados. Assim eles não morreriam tão rápido.

Minha visão se volta para Annie que estava parada. Um movimento rápido dela faz com que uma espécie de raio verde caia do céu. Em um movimento mais rápido ainda todos começaram a ir para cima dela. Erguendo minhas espadas, usei o DMT e alcancei a maior  velocidade que consegui. Fui diretamente em direção a sua nuca, mas ela usou suas mãos para cobri-las.
- Mas que merda!! - Eu gritava com ódio em meus pulmões.
Meus colegas começaram a estraçalhar seus tornozelos e joelhos a fazendo cair no chão. Ainda com a mesma velocidade, fui em seus braços e comecei a corta-los um por um. Cada vez mais fazendo com que minha lâmina a perfura-se bem fundo. Outras pessoas do meus esquadrão começaram a fazer mesmo. A medida que os cortes aconteciam ela enrijecia o corpo, mas isso não mudava nada, só me fez colocar mais força ainda.
Até que... Ela caiu no chão. Seus braços cessaram.
O sinal de fumaça feito por um dos cadetes fez com que a Quatro olhos soltasse as redes atiradas pelos canhões que estavam escondidos sobre o telhado.

Ela não tinha mais forças para fugir. Estava cercada. Um único movimento e morreria em segundos por mim.

- Muito bem Levi!! - Ela gritava enquanto vinha em minha direção. Estava do mesmo jeito de sempre, com seu uniforme, cabelo preso. - Os cadetes se sairam muito bem para a primeira missão. Agiram exatamente como planejado, e o Eren se controlou em não querer lutar. Que milagre.

- É, impressionante mesmo. - Não havia baixado a guarda, então nem prestei atenção no que ela falou. Só escutei alguma coisa sobre "se saírem bem" e deduzi o que significava.

- Ei, coisa feia. - Batia meu pé sobre a cabeça daquela Tita. - É bom você sair daí logo, ou eu vou ter que te tirar a força. Posso acabar errando na hora de cortar sua nuca e enfiar a espada no meio da sua cabeça, mas vou tentar não matar você. - Ela deve ter sentido medo, seus olhos arregalaram um pouco.

Ela começa a se debater, e sinto um pouco de nojo ao ver seus braços cortados balançando. Quando estava prestes a falar algo, ela se levanta de uma vez me fazendo quase cair. Uso o DMT para me prender em uma casa próxima e percebo que um dos seus braços já estava completamente curado.
Que droga! Penso.
Ela deve ter usado sua força para curar apenas um dos braços.

Também percebo que ela não havia se levantado, só dado um impulso para cima, provavelmente para me distanciar.
Muito inteligente. Vejo os membros do meu esquadrão se aproximarem dela, aos poucos seu braço vai sendo cortado. Até que ela se rende novamente.
Espera! Não! Ela não se rendeu. Sua mão direita, que antes estava protegendo a nuca, vai em direção a Petra. Os outros soldados tentam ataca-la, mas ela desviou de todos. Ela levanta sua mão esquerda e coloca sobre a nuca.
Porra! Como ela consegue se curar tão rápido?

Começo a ir até a mão que segurava minha parceira. Sentia a raiva me devorar aos poucos. Ouvia os soldados gritando ao meu redor. A Quatro olhos gritava com todo mundo, falando sobre capturar ela de novo quer.
Atacar a Annie estava sendo inútil, então pelo menos vou tentar salva-la. Pensava. Que mentira. Por que eu estava sendo tão sentimental? Que patético.
Mudo a minha rota de última hora e vou em direção a sua mão, começo a corta-la repetidamente.
Consigo ver de relance a outra mão da titã jogando Petra contra o chão. Arregalo meus olhos quando vejo seu corpo se quebrando, tenho a impressão de que consigo escutar seus ossos, ou seria só minha imaginação que já estava acostumada com aquilo.

A titã trás sua outra mão até mim, mas desvio antes que ela me alcance.

Os gritos dos meus soldados ficaram cada vez mais altos, seus movimentos estavam desordenados. Eu não conseguia me concentrar. Não podia matá-la, ela tinha informações que precisávamos.
Eles a atacavam sem parar. Annie agarrou o cabo do DMT e usou um dos homens para matar pelo menos mais dois.
O tiro de um dos canhões me deixa meio surdo. Eu estava muito próximo, a um metro de distância. Fico atordoado por um momento, mas consigo voltar minha atenção para a titã.
Me arrependo de ter feito isso, a única coisa que pude ver eram meus colegas sendo massacrados por ela.
A raiva e desprezo que senti me fez ignorar a dor que estava sentindo em meus ouvidos. Vôo em direção a ela com tudo que posso, faço com que a dor e raiva que sinto se transformem em força que vão direto para minhas mãos.

Minha velocidade se torna absurda, mas ela, que já havia se virado para mim, age de forma mais rápida e faz uma fumaça quente surgir de seu corpo.
- Não! Desgraçada!!
O corpo da titã começa a sumir, ficando só uma espécie de ovo de cristal.
Paro o DMT e fico em cima daquela coisa. Uso a minha espada para tentar quebrar, mas falho e ainda perco ela. O corpo de Annie, em seu estado normal, estava lá dentro.
- Mas que merda!! - Olho em volta e vejo o estrago que ela havia feito. Muitos dos soldados que estavam prendendo a rede no chão quando tentamos segura-la estavam mortos. Alguns foram arremessados, outros pisoteados. Todos os membros do meu esquadrão estavam no chão mortos, ou quase mortos, mas não havia mais salvação. Um deles gritava, a parte de baixo do seu corpo estava estraçalhada. Suas entranhas estavam jogadas no chão.
Me perguntava como ainda podia estar vivo.
Seu desespero embrulhou meu estômago, nunca conseguiria me acostumar com aquilo.
Sua voz estava meio abafada, provavelmente foi por causa do canhão. Mas apesar disso eu escutava bem suas palavras; "Por favor, me ajuda. Eu só quero ir pra casa. Mãe!! Eu só quero a minha mãe!!"

Sinto meu peito doer. O arrependimento. Eu deveria ter matado essa desgraçada. Eu podia tê-la matado. Sinto minha garganta ser cortada por dentro, uma dor insuportável, mas não tão insuportável quanto a que eles estavam sentindo.
Nenhum soldado morre sem arrependimentos. Foi o que aprendi do pior jeito possível.

Estilhaçados Pelo Tempo Where stories live. Discover now