Capítulo oito: Sentimentos.

24 3 0
                                    

•Levi Ackerman.

Era por volta das 7:00 horas da manhã quando acordei. Ainda estava meio atordoado, mas via bem o rosto de Aurora e percebo que ela estava em um sono muito profundo.
Queria ter esse talento. Penso.

Aos poucos vejo uma gota de saliva descendo pelo lado esquerdo de sua boca.
- Tá bom, retiro o que disse. - Falo mais para mim mesmo do que para ela. Aliás, a pirralha nem deve estar me escutando.
Decido aproveitar essa situação para falar umas coisas.
- Até que tem um rostinho bonito, se não fosse tão irritante... - Falo enquanto a olho de cima da minha cama.

- Irritante é você, idiota. - Tomo um susto com sua fala que me faz arregalar os olhos e sentir um pouco de vergonha. Naquele momento agradeço muito a ela por ter virado o rosto, pois tenho a leve sensação de que minhas bochechas ficaram vermelhas.

Alguns segundos de silêncio são cortados pelo riso dela. Minha expressão muda para curiosidade e me volto para ela.
- Está rindo de quê? - Pergunto com um pouco de receio, mas tentando manter a mesma voz autoritária.
Ela se senta no colchão e vira seu corpo para mim com uma expressão séria.

- Ué. De você, é óbvio. Acha mesmo que eu tenho um rosto bonito? - Ela dizia de forma sarcástica, agora, esboçando em seu rosto um sorriso sínico.

- Vai se fuder, pirralha. - Me levanto da cama e vou em direção ao banheiro. Faço o que preciso, escovo os dentes e tomo banho, e volto para o lugar de antes, encontrando Aurora dormindo de novo. Chego perto do colchão e começo a chuta-lo repetidamente. Puxo seu cobertor e escuto um grunhido.
- Você é um inferno, sabia? Sabe que horas são? - Ela reclama.

- Hora de você levantar e sair do meu quarto antes que alguém te veja aqui.

- Foi você quem quis que eu continuasse dormindo aqui.

- Quem disse que eu quero você aqui?

- Dá para você falar baixo? Desse jeito vão acabar acordando por culpa sua. - Aurora já havia se levantado, estava com uma aparência arrumada até demais para alguém que acabou de acordar.

- É só você sair daqui. - Ela respira fundo e começo a pensar que eu deveria fazer o mesmo.

- Posso pelo menos tomar um banho? Afinal, eu vou ter que usar uma das suas camisas de novo. - Sua voz saiu como se estivesse exausta.

- Pode sim, mas seja rápida. - Começo a seguir seu olhar que está direcionado a toalha que estou usando no momento. - Tem certeza que quer me ver tirando agora?

- Se você quiser, fique à vontade. - Aurora olhava para mim como se eu fosse um prato de comida. Isso me deixou um pouco desconfortável, mas tentei entrar na brincadeira dela.

- Tudo bem, então. - Começo a desenrolar a toalha e vejo no rosto dela a mesma expressão indiferente. Quando termino, ela da uma risada e toma a toalha da minha mão. - Está decepcionada? Achei que fosse gostar do meu short. - Falo de forma sarcástica.

- Você fica péssimo de short. - Ela se vira e entra no banheiro. Olho para baixo e percebo que fiquei um pouco ofendido com o comentário.

...

- Tem sangue escorrendo pela sua testa. - Falo sem expressar nenhum sentimento, apesar de estar um pouco preocupado.

- É claro que tem sangue na minha testa, queria que tivesse o quê? Petróleo? - Sua raiva era eminente.

- Não fale assim comigo. Eu não tenho culpa de você não saber usar o DMT. - Ela me fitava com os olhos. Antes estava sentada em uma pedra, pouco depois de ter caído e batido a cabeça no chão. Uma pessoa normal estaria na enfermaria desmaiada, mas ela estava lá, caminhando para o mesmo lugar que caiu agora pouco. Não sei se é determinação ou vontade de provar que eu estou errado sobre ela não saber usá-lo. Seja qual for a resposta certa, ela está agindo de forma infantil.

Ela não estava usando o dispositivo solto. Ele estava preso em duas hastes de madeira, então seu único objetivo era ficar de pé sem tocar no chão ou se apoiar. Até agora ela durou dois segundos na posição certa.
Ela ainda vai me dar muita dor de cabeça.

Começo a observar seus movimentos. Prendeu o cinto da forma correta e está pronta para subir. Peço para que um dos soldados a levante devagar, e assim ele fez.
Ela começa a balança seus braços com a intenção de se equilibrar. Aos poucos ela consegue, e agora ficou de pé sem ao menos se mexer ou dar a impressão de que ia cair mais uma vez.

- Muito bem. Já estava perdendo as esperanças. - Começo a andar em sua direção enquanto recebo um olhar frio, provavelmente tentando copiar o meu.

- Tem certeza que ela é uma Ackerman? - O soldado estava ao lado do dispositivo. Seu cabelo loiro estava meio embaraçado por causa do vento. Sua cara de tédio o deixava cada vez mais feio e irritante.

- Não pedi sua ajuda para dar opiniões. Seus serviços não são mais úteis, se retire. - Seu rosto é coberto por medo e ele sai do lugar quase correndo. - Você foi bem, mesmo depois de duas quedas e um corte na cabeça. Você continuou apesar da dor que está sentindo, muito dos soldados desistiram na primeira queda. Mas você está aqui, e agora de pé, e nem é uma soldada. É apenas uma garota mimada que veio de um mundo muito melhor que o nosso. É uma qualidade importante em qualquer pessoa, fique orgulhosa disso. - Um sorriso surge em seu rosto junto com um brilho nos olhos que nunca tinha visto. Acredito que ela não deve escutar um elogio a muito tempo.

- Obrigada. - Aceno em concordância com a cabeça e começo a desce-la.

- Não tire o DMT, vai precisar dele para a próxima fase. Sabe andar a cavalo? - Pergunto.

- Não, acho que não. Nunca andei.

- Sério? - Fico um tanto quanto incrédulo. - Vai aprender agora mesmo.

- Você fala como se fosse só montar e sair andando. - Ela falava enquanto caminhavamos em direção ao estabolo. Alguns soldados mantinham o olhar firme sobre ela. Ela havia chamado a atenção deles na noite passada, não é nenhuma surpresa, principalmente por sua beleza. Não posso negar que ela tem algo que faz as pessoas prestarem atenção nela, ainda não sei dizer o que é, mas está começando a chamar a minha atenção e não saber o motivo me enche de tensão.

- Mas é literalmente isso. - Ela me lança um olhar de deboche e depois vira o rosto. Peço para que um dos homens que está responsável pelos cavalos pegar o meu e mais um, de preferência o mais passivo.

Olho para trás e vejo Aurora observando a paisagem. Embora não fosse muito bonita, ela tinha o seu "algo de especial". A garota a observava com tanta atenção que senti medo de não conseguir tirá-la daquele transe. Acabou me perdendo no seu olhar, observando o lugar através do reflexo em seus olhos castanhos, até que eles se voltam para mim. Seu olhar ainda brilhava pela luz do sol que acabara de nascer. Aqueles segundos pareceram mais rápidos do que realmente foram. Uma sensação estranha percorria minha barriga, um formigamento consumiu minhas mãos e subia até meus braços. Um sentimento estranho de que eu deveria estar com ela, que havia uma ligação, algo que não pudesse ser explicado, apenas sentir. Uma conexão tomava conta da minha mente, como se fosse um ímã que nos puxava aos poucos. Me pergunto se ela sente o mesmo, e como se lesse minha mente ela acena com a cabeça.
O soldado me tira daquele transe, mas eu queria que aquilo continuasse, seja o que fosse.

Quando me viro para Aurora novamente ela está conversando com o soldado que acabou de me entregar o cavalo, nem percebi sua presença e muito menos quando se afastou.
Não consigo escutar a conversa deles, apenas vejo os dois sorrindo. Pelos gestos que fazem, percebo que ele está ensinando ela a colocar a sela. Começo a sentir algo estranho me corroendo. Deveria ser eu a estar ali. Deveria ser eu a ensina-la.
Que merda eu estou pensando?

Respiro fundo e começo a preparar meu cavalo. O soldado já havia se retirado quando terminei. Fixo meus olhos em Aurora enquanto monto no meu cavalo cinza. Ele estava muito mais brilhante que de costume.
- Pensei que fosse me ensinar. - Ela me questiona.

- Não sabe subir? Parecia bem profissional quando o soldado estava te ensinando. - Falo tentando esconder esse sentimento confuso, mas falhando miseravelmente.

- Ficou com ciúmes, gatinho? - Ela provoca.

- Não enche.

Estilhaçados Pelo Tempo Onde as histórias ganham vida. Descobre agora