Capítulo onze: Durante o pôr do sol.

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•Aurora.

Já haviam se passado três dias que eles partiram. Eu saí do hospital a dois, e por isso tentei me distrair usando o DMT (Dispositivo de Manobra Tridimensional usado pelos soldados para voar), estive treinando com ele e até que me saí muito bem. O Levi discordaria, falaria que eu sou péssima, mas ele que se dane.
Respiro fundo.
Para ser sincera, sentia falta dele. Sentia falta de todo mundo.

Eu estava deitada no sofá do escritório do Levi, olhava pela enorme janela a minha frente e via de vez em quando alguns pássaros que sobrevoavam aquele lugar. O lugar estava impecável, tinha uma pequena sensação de ver o cômodo brilhar de tão limpo. Sua estante de livros continha algumas histórias de romance e mistério. Me pergunto se ele realmente os lia ou só estavam ali de enfeite.

Em sua escrivaninha tinha alguns papéis, mas apesar de tê-los lido não entendi absolutamente nada. Ele surtaria se me visse aqui.
Dou um sorriso quando imagino sua cara.

A enfermeira me falou que levaria pelo menos um dia para chegar no lugar onde a missão seria realizada, então eles já deveriam estar no caminho. Eu rezaria por eles, mas não acredito em nenhum Deus. Eu cruzaria meus dedos, mas também não acredito em nenhuma superstição. É nesses momentos que eu gostaria de ter alguma crença, mas até a esperança eu já havia perdido.

Me levanto e a passos lentos, ando até a janela de vidro com seu estilo meio vitoriano. Olho por ela e arregalo os olhos quando vejo os cavalos. Seti a ansiedade arrebentar meu coração de dentro para fora. Minhas pernas tremiam. Eu queria vê-los.
Apenas Levi e alguns dos cadetes voltaram, Eren, Mikasa, Armin, Jean, Conie, Sasha, Ymir e História. Ninguém... Nem um dos veteranos. A tenente Hange também estava com eles junto com mais alguns soldados que eu não conhecia, mas mudou a rota antes de chegar aqui.

A tristeza em seus rosto já dizia tudo que tinha acontecido. Pareciam traumatizados, mortos. Nem imagino o inferno que passaram.

Saio do escritório e vou em direção a cozinha para alcança-los, mas eles passam por mim como se eu não estivesse ali. Olhando para baixo e com expressões de medo. Aquilo dava angústia. Era óbvio que a missão deu errado. Todos foram para seus quartos e não saíram de lá até o anoitecer.

Eu fiquei pensando sentada na mesa da cozinha. Por que eu estou aqui? A missão era perfeita, deveria ter dado certo. A não ser que a morte deles não pudessem ser impedidas, mas então por quê? Por que eu vim parar nessa merda se não consigo impedir que eles morram?
Me sento sobre o enorme banco de madeira que ficava em volta da pequena mesa e apoio minha cabeça na mão direita.
Decido fazer um chá, de qualquer coisa, não me importo com o sabor, só preciso fazer alguma coisa.

Me levanto apesar de ter acabado de sentar e vou em direção ao fogão à lenha. Uso um frasco de álcool para molhar a madeira e acendo um fósforo. Encho uma pequena panela comprida e a deixo lá até ferver.
Abro um armário que ficava na parte de baixo do lado esquerdo do fogão, lá haviam algumas garrafinhas de vidro com folhas. Um pequeno papel colado no lugar mostrava sua composição.
Passo meus olhos por todos que estavam naquela prateleira e acabo tendo um pequeno susto quando vejo em um dos papéis "Maconha".
Já havia me esquecido que antes as pessoas usavam isso com intuito medicinal.

Do seu lado havia um pote seco com o nome "Camomila". Embora só pudesse ser visto Levi tomando chá, a maioria das pessoas usavam dessa espécie. Até os melhores soldados precisam de paz no meio de suas guerras.

- Coloque mais uma xícara de água. - Tomo um susto quando ouço uma voz vindo sobre minhas costas. Me viro para ver quem é e me deparo com o capitão. Estava se sentando na mesa. Uma blusa preta bem folgada cobria a parte de cima do seu corpo. Uma calça cinza também fazia parte da sua roupa. Acho que pela primeira vez na minha vida vejo Levi descalço.

Apenas faço o que ele manda. Não consigo sair do pé do fogão. Não queria olhar para ele. Eu não sabia o que dizer.
Uso um pano para pegar a panela e colocar em duas xícaras o chá. A sala estava coberta por aquele aroma. Era muito bom. Um cheiro fresco corria pelo meu nariz. Estava confortável, se pudesse ser esquecido o que aconteceu.

Entrego a xícara para ele e o vejo segura-la daquele jeito estranho. Me pergunto se seria um bom momento para questiona-lo. Afinal, ele está aqui, embora não pareça ele está vivo. Fico feliz por isso.
Me sento em sua frente, mas não tento manter contato visual.

- Por que você segura a xícara assim? - Pergunto. Seu olhar se volta para mim de forma curiosa. Ele inclina a cabeça para o lado antes de me responder.

- Eu estava tomando chá uma vez e a alça quebrou. Não quero vivenciar isso de novo, então a seguro dessa forma. - Ele levanta sua mão e logo em seguida toma um gole. - Está horrível.

- Então não beba. - Coloco minhas mãos na mesma posição que as dele para tentar copiá-lo. Até consigo levantar, mas é quase impossível de beber. - Beber assim que é horrível.

Os próximos segundos foram resumidos em silêncio. Nem uma única palavra. Levi já havia terminado seu chá, mas não levantou. Pego a pequena xícara transparente e vou em direção a pia, lavo a minha e em seguida a dele. Quando me viro de volta, ele não está mais lá. Não consegui escutar ele se levantando, nem seus passos.

Ando em direção ao quarto que me foi dado, embora eu não dormisse lá. Acho que ele precisa de um tempo sozinho.
Uso um dos panos para tirar a poeira e me deito em seguida.

Eu estava triste, mas queria anima-lo. Ele já não parecia muito sorridente, imagina agora. Eu não sabia nada sobre ele, mas também sabia tudo. Eu conhecia sua história, suas manias, alguns dos seus gostos, sua rotina. Mas apesar disso, eu não o conhecia.
Me pergunto como eu poderia fazer uma pessoa feliz sendo que eu mesma não estou. De onde eu tiraria um sorriso, já que não pode ser da minha própria boca?

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