Capítulo dois: não há respostas

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•Levi Ackerman.

O barulho dos cascos do cavalo batendo no chão agora parecem um pouco gratificantes. Suas mãos seguravam em minha cintura, mesmo que eu não estivesse correndo.
- Por que está fazendo isso? - Pergunto de forma curiosa.

- Isso o que? - Sua voz parece um pouco irritada e grosseira.

- Está segurando em minha cintura. Por acaso não está com medo de cair, certo?

- Sim, estou com medo de cair. Nunca andei de cavalo antes.

- Como pode nunca ter andado de cavalo antes? - Viro meu rosto para trás na intenção de observá-la, mas não tenho sucesso.

- Porque no meu mundo existem outras coisas mais rápidas, como carros, motos ou bicicletas. - Uma pedra no meio do caminho faz o cavalo tropeçar, nada que não o faça voltar a ter seu equilíbrio, mas Aurora aperta minha cintura mais forte e se choca contra minhas costas. Suas unhas se cravam contra meu abdômen, o que me faz dar um pequeno salto.
Torço um pouco para que ela não tenha percebido o impulso que dei, ou mesmo veja que meu pescoço ficou um pouco arrepiado.

- O que são essas coisas?

- São máquinas que não são movidas a cavalo, e sim, por um combustível. Alguns são mais avançados e conseguem se mover utilizando a energia solar, que vem do sol. Obviamente.

- Aquela coisa em cima da sua mesa funciona da mesma forma? - Embora não tenha entendido como um carro possa ser movido com o sol, me dou o trabalho de fazer mais algumas perguntas.

Tento novamente observá-la virando meu corpo em sua direção, porém a única coisa que vejo são seus cabelos de cor castanho escuro, um pouco bagunçados por causa da queda de um tempo atrás. Percebo agora que sua pele parece ser extremamente delicada, o que me fez questionar como ela não tinha nenhum corte depois daquele vidro ter quebrado próximo a ela.

- Não, aquilo é muito mais complexo. - A pirralha da uma pausa antes de continuar. - Percebo agora que você não me disse para onde estamos indo. - Esticando um pouco seu corpo para o lado esquerdo, finalmente consigo olhar em seu rosto. Na verdade, o único lugar para onde olhei foi seus olhos, que tinham neles o reflexo da lua um pouco a nossa frente.

Segurando o cabresto apenas com uma mão, já que a direita estava machucada, sinto uma certa dificuldade de controlar o kuro.
- Estou levando-a para o QG do esquadrão de reconhecimento.

- E onde é isso? - Suas sobrancelhas se arqueiam um pouco, parecendo estar um pouco preocupada.

- É o lugar onde trabalho. Não se preocupe, não á ninguém lá para lhe fazer mal. Talvez a "quatro olhos" queira testar alguns experimentos em você, mas nada que seja tão ruim.

- Como é a história?

Sinto um sorriso se formar em meu rosto depois da sua frase sem sentido nenhum, mas que apesar disso, engraçada. Talvez seja algum tipo de sotaque, penso comigo mesmo.

Sinto sobre minhas costas Aurora bater sua testa, solto um pequeno grunhido, mas não reclamo por ter a impressão de que ela está apenas tentando se proteger, ou chorar escondido. É uma situação difícil para os dois.
Não sei se devo acreditar nela. Mas como poderia explicar aquela parede/portal mágico?
Respiro fundo, o que faz a garota se mexer um pouco atrás de mim, mas não tirar sua testa de minhas costas.
Pela sua reação a tal acontecimento, vejo que não é sua culpa, ou que ela queria que isso acontecesse. Decido então acreditar nela, não é como se houvesse outra opção também. Apenas seguimos o caminho em silêncio.

•°•

- Você precisa descer do cavalo. - Perto do estabolo, tentava a pelo menos dois minutos fazer aquela pirralha descer do cavalo. O chão agora era de pedra, embora boa parte estivesse coberto por uma terra fina.

- Eu vou cair! - Ela falava em um tom desesperado demais para parecer minimamente real. Já estava cogitando deixá-la lá em cima pelo resto da noite.

- Você não vai cair. O chão está bem aqui embaixo pronto para segurar você.

- Sério, Levi? - Sua cara de irritada estava ficando cada vez mais engraçada. - Se eu cair, vou socar sua cara.

- Se conseguir me tocar, fique à vontade. - dou uma pausa esperando algum comentário sarcástico dela. - Apenas passe sua perna esquerda para esse lado e pule.

Ela faz o que mando e em um segundo consegue descer sem nenhum problema.
- Viu? Não é difícil descer. - Sinto uma vontade enorme de zombar de sua cara, mas me seguro o máximo que posso.

Entrego as rédeas para um dos cadetes responsável pelo cuidado dos cavalos. Seus olhos cansados e fundo davam a entender que a algum tempo estava dormindo, e que provavelmente só acordou para me receber. Seus cabelos pretos caiam sobre seu rosto e ele os tirava com um movimento os empurrando para trás da orelha.
- Vem, me siga.

•Aurora.

As paredes do lugar feitas por pedras e as tochas presas a ela me fazem acreditar mais ainda que viajei no tempo. Mas em que ano estou? 1600? 1500 a.c?
Isso é muito absurdo para conseguir acreditar.
Pelo fato de não haver ninguém andando pelos corredores, tirando o rapaz perto do estabolo, acreditei que já fosse tarde da noite.

Levi está ao meu lado, com a cara fechada de sempre, embora eu tenha tido a nítida impressão de vê-lo sorrir quando ainda estávamos naquele cavalo. O olhando de canto de olho, percebo o quão baixo ele realmente é, contudo ainda aparenta ser alguns centímetros mais altos que eu. Percebo agora também que ele me parece ser um tanto quanto familiar.

- Pare de me olhar. - Tomo um susto com sua voz que agora parece mais grave que o normal.

- Só estou tentando entender o que está acontecendo.

- Não vai achar a resposta no meu rosto. - Agora estava virado para mim, com aqueles olhos que assustam qualquer um.

Abro a boca para comentar algo, mas penso melhor e decido não falar nada.

Paramos em frente a uma porta, onde Levi a abre sem nem sequer bater. Sua mão indica que eu entre primeiro, e assim faço. O baixinho fecha a porta atrás dele, enquanto procuro desesperadamente um rosto conhecido por causa do nervosismo, onde só consigo em Levi, já que não conheço ninguém ali além dele. Se é que posso dizer que o conheço.
A sala, que não era muito espaçosa, tinha como móveis apenas uma mesa feita de madeira escura, um armário com altura próxima ao teto, duas cadeiras nada confortáveis e uma lixeira do lado esquerdo.

- O que trás você aqui essa hora da noite, Levi? Vejo que está acompanhado. - Seus olhos eram tão azuis que davam a sensação de estar olhando diretamente para o céu. Seus cabelos loiros eram encantadores. Me perguntou agora se estou em algum tipo de conto de fadas escrito pelos irmãos Grimm.
Sua postura de militar era tão impressionante que quase me fez fazer algum tipo de cumprimento.

- Boa noite, Erwin. Essa é Aurora. Ela não é desse mundo...

Estilhaçados Pelo Tempo Where stories live. Discover now