Capítulo vinte e dois: camomila ou erva doce?

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•Levi Ackerman.

Pedi eu mesmo para que a levassem para o mais longe possível dessa bagunça. Coloquei ela em uma carroça velha e usei a manga da minha camisa para estancar o sangramento, não era muito, mas foi o que consegui fazer. Não temos o material necessário, tive que improvisar. Acabei arrancando a outra também, assim, não me incomodaria tanto. Estava, agora, sentado em mais uma das carroças vendo o Titã enorme indo em direção às muralhas. Com a blusa, que antes era branca mas agora estava amarelada, com as mangas rasgadas até a altura dos ombros. Quase como uma regata. Estava preocupado com ela, o corte foi fundo, ela vai conseguir andar quando se recuperar. Se ela der conta.
Respiro fundo e passo a me concentrar na situação de agora. Percebemos que o Titã não dava atenção aos soldados que passavam perto dele, nem se quer incomodava. As ordens de Erwin foi para não evacuar a cidade que o Lord Reiss estava indo em direção, pois, como o Titã era atraído por uma grande quantidade de pessoas, poderíamos usar elas como iscas.
Apesar do absurdo do plano, vemos que não há outra opção melhor, mesmo que arriscado, esse é a que mais tem chance de dar certo.

Conforme avançamos, passamos ao lado da criatura. Era imenso, impossível de descrever o tamanho. Mas chutaria uns 120 metros se ficasse de pé, o que é improvável. Seus membros inferiores são muito finos em comparação ao seu tamanho. Ele se arrastava no chão como uma cobra imunda e nojenta. Graças a isso, conseguimos chegar antes dele. A maioria dos soldados já estavam de prontidão em cima da muralha, outros ainda subiam e passavam a ajudar na travessia dos cavalos. Não poderiam ficar daquele lado, seriam destruidos com o que viria mais a frente. O plano consistia em jogar barris com pólvora e explodir a nuca dele. Em resumo.

Soldados corriam para lá e para cá. Os sons de canhão ecoavam por todo aquele lugar. Que irritante. Sempre isso, nunca dá para se acostumar aos barulhos, as dores, os gritos...
Pego minhas espadas e me posiciono para cortar os pedaços quando aquela coisa nojenta explodir. Eren se transforma no titã e se mantém em posição de ataque com os barris de pólvora amarrados em uma rede de corda improvisada. Lord Reiss se aproxima e começa a escalar a muralha, tentando se levantar. Suas mãos agarram o topo da muralha, deixando seu tamanho cada vez mais evidente. À medida que seu corpo se levantava, podia se ver os órgãos daquela coisa caindo no chão e em cima dos muros de pedra. Sentia repulsa sobre aquilo, raiva, queria matar aquela coisa. Seu rosto não existia mais, apenas os buracos da boca e nariz. A oportunidade perfeita. Eren começa a correr e arremessa a rede que logo em seguida explode. Esse era o sinal para o ataque. Os soldados começam a voar e a destroçar cada mísero pedaço que saiu voando por aquele céu meio amarelado do por do sol. As espadas brilhavam com a luz antes de entrarem na carne daquela coisa. A gratidão de estar perto do fim dessa batalha era uma das coisas que me davam motivação.
Vejo Crista fazer seu discurso logo depois de ter acertado o pedaço de carne de seu pai.
Finalmente tudo acabou.

...

O QG da cidade de Trost era maior do que o do interior. Janelas de vidro por todo o lugar, corredores sem um ambiente macabro mesmo estando de noite. Já haviam se passado um dia inteiro, a coroação da rainha estava sendo planejada, roupas sendo montadas, entre outras coisas que já estamos acostumados. Um sentimento de leveza tomava, finalmente, conta do lugar. Estava andando em direção às escadas brancas para o andar de cima. O lugar estava vazio, ou deveria estar pelo menos. Vejo Hange correr em minha direção com um sorriso estampado no rosto.
- Vai vê-la de novo? Se ela não estivesse dormindo, diria que já era pra ela ter enjoado seu rosto. - Ela diz enquanto ri alto e dá um tapinha em minhas costas.

- Não enche, quatro olhos. - Volto a andar.

- Qual é? Assume logo que você está apaixonadinho. - Ela grita do topo da escada, me fazendo sentir um pouco de vergonha. Não olho para trás, apenas continuo meu caminho sem lhe dar uma resposta. Não estou apaixonado... Só quero ver se ela está bem. É apenas isso.

Bato na porta, sem entender muito o porquê já que ela estaria dormindo, não acordou desde ontem quando caiu em meus braços. Entro logo em seguida e a encontro deitada sobre uma cama com lençóis de cor lilás. O quarto é inteiramente branco, com uma cortina na pequena janela na parede enfrente a porta. As nuvens no céu tornavam a presença daquelas cortinas inúteis. Sua perna direita, onde foi cortado, estava para fora da coberta, toda a sua coxa. Mostrando sua pele parda e tão delicada que era reconfortante de ver, percebia que era macia só de olhar. Seu rosto estava virado para mim, mas ela permanecia no coma. Ela estava tão serena que penso que seria melhor deixá-la naquele estado do que trazê-la para essa realidade de volta.

Entro no cômodo e fecho a porta atrás de mim. Pego um banco feito de madeira clara, com um acolchoamento em branco, puxo para próximo da cama e me sento perto dela. Me arrependia profundamente de não ter feito a escolha certa naquele dia.
- Espero que não consiga me escutar. - Digo enquanto olho para seu rosto apenas para ter a certeza de que ela realmente não ouviria. - Eu gosto de você. - As palavras ficam presas em minha garganta por um momento, mas quando sairam foi aliviador. - Sendo sincero, isso é a coisa mais ridícula que já fiz. Mesmo assim, estou aqui em sua frente. Esperando que você acorde, porque com suas brincadeiras idiotas e sem graça as reuniões ficam mais insuportáveis de um jeito pelo menos interessante.

Seu rosto começa a se mexer, seu corpo se contorce um pouco, até que seus olhos castanhos abrem. Sinto meu coração acelerar.
- Você é mesmo um idiota, a primeira coisa que escuto vindo de você é que eu sou insuportável. - Sua voz travava, ela se esforçava para falar. Me pergunto o quanto ela ouviu. Sinto uma pontada de ansiedade.
Que droga!

- Fica quieta, droga. Você acabou de acordar. - Digo enquanto empurro seus ombros devagar para impedir que ela se levantasse. - Vou chamar uma enfermeira. - Me levanto do banco, mas antes que pudesse andar sinto algo me puxar pela manga da camisa.

- Eu já dormi demais, não preciso de um calmante ou algo do tipo. Só me tira daqui.
, por favor. - Sua voz estava rouca, me olhava com um olhar estranho e envolvente.

- Você não vai sair daqui tão cedo. Olhe o estado da sua perna. - Falo apontando para a mesma. Ela olha para baixo com tristeza e solta minha camisa.

- Pelo menos fique comigo, eu não... Não foi uma experiência muito boa ficar sozinha. - Seu rosto fica um pouco vermelho. A tristeza em sua voz me comovia aos poucos.

- O que quer dizer? - Pergunto de forma calma enquanto sentava de volta no pequeno banco.

- Foi só um sonho. Eu estava lá, sozinha, não tinha nada. Nenhum barulho, nada visível, nada que pudesse tocar, não escutava nem minha própria voz. Era o nada... A pior coisa que já senti. Só tive comigo o desespero, a angústia e a incerteza. - Ela faz uma pausa. - Tente imaginar, é pior do que você pensa. Muito pior. - Suas falas eram genuínas, ela realmente estava com medo. O que eu deveria fazer agora?

- Não se preocupe. Foi só um sonho, você nunca ficará sozinha. Não enquanto eu estiver... Com você. - Minha fala sai tortuosa. Era o que eu pensava naquele momento, embora sentisse vontade de falar, não pretendia. Seus olhos se encontram com os meus e me volta aquele sentimento de êxtase. Isso... é tudo que preciso. - Vou preparar um chá para nós dois. Prefere de camomila ou erva doce? - Seus olhos ainda estavam presos aos meus. Se eu quiser mesmo isso, vou ter que ir com calma.

- Pode ser os dois?

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