Capítulo quatorze: à luz da lua

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•Levi Ackerman.

Erwin estava em seu escritório no QG na cidade. O caminho foi feito de cavalo, apenas Aurora, Hange e eu fomos convocados.
A única pessoa que falou durante todo o trajeto foi a Quatro olhos.
Insuportável como sempre.
Aurora se manteve longe de mim durante todo o percurso. Olhava para o chão a sua frente perdida em pensamentos, provavelmente se tratavam de mim. Eu a beijei, porque não queria vê-la chateada novamente. A última vez levei um belo chute no saco. Foi por compaixão? Pena? Ou eu queria?
- Levi?! Leviiii?! Está me ouvindo? - Hange gritava enquanto aproximava-se de mim.

- É impossível não escutar sua voz, principalmente quando está quase entrando dentro de meus ouvidos. - Respondo-a.

- Então me responda. Por que o Erwin pediu para que a cadete viesse? - É verdade, ela ainda não está ciente do que aconteceu recentemente.

- Explicaremos tudo quando chegarmos. - A mulher de óculos faz uma cara de tédio e se volta para Aurora.
A estrada estava limpa, ninguém andava pelas ruas, nem mesmo uma carroça de vendedor existia por ali. Apenas os pássaros que sobrevoavam o lugar era o que tinha de vivo. A cidade estava próxima, a um quilômetros de distância, lá haviam pessoas e muito barulho, já conseguia ouvir o burburinho.

- Ei, garota. Você sabe porquê está aqui? - Hange tentava de todos os jeitos possíveis entender o que estava acontecendo, mas falhava miseravelmente. Minha subordinada não era burra, embora eu não tenha avisado ela sobre a reunião, se mantinha séria diante das perguntas da Quatro olhos.

- Como o capitão disse: quando chegarmos, você saberá de tudo. - Capitão? Desde quando ela me chama de capitão? Em nenhum momento do dia ela me olhou de volta. O que seria? Medo? Arrependimento? Se bem que fui eu a beija-la, e não o contrário.
Eu não estou arrependido, acredito que não pelo menos.

- Por que todo mundo aqui está um tédio hoje? - Os lamentos de Hange davam para se ouvir ao longe.

...

- O QUE?! Como assim?? - Era a terceira vez que aquela mulher gritava a mesma coisa dentro da sala. Erwin tentava explicar a situação, mas o que realmente queria era conversar com Aurora. - Tudo bem, eu já entendi. Continue. - Ela arrumava seus óculos.

- Então, como eu falava... A missão foi um desastre completo. Apesar das informações dadas, as perdas foram imensuráveis. Diante disso, chegasse a conclusão de que não podemos mudar o futuro.

- Se não podemos, então o que estou fazendo aqui? Por que tenho tais informações? - Aurora parecia um pouco triste. Era de esperar.

- Eu não tenho uma resposta. Ou nós não usamos o poder que tínhamos da forma correta, ou não podemos interferir. Eu acredito que a segunda opção seja a mais válida, e por isso chamei Hange. Ela ajudara você com o material necessário para construir as máquinas que puder. Nos ajudara a evoluir tecnologicamente, talvez assim podemos vencer. O que acham? - Erwin tinha razão, a maior chance que temos é ela. Precisamos tomar uma atitude, precisamos lutar contra o destino dessa vez.

- Eu apoio a sua ideia, Erwin. - Digo e volto o meu olhar para Aurora que solta um longo suspiro.

- Ajudarei em tudo que puder. - Ela afirma.

- Digo o mesmo, Comandante. - Hange se pronuncia.

- Bom, então está certo. Levi e Hange ajudaram você no processo. Além de outras pessoas que já tem o conhecimento sobre essa área. - Ele se dirigia a garota que antes eu havia beijado.

Me levanto e ando até a porta, paro a espera das duas mulheres. Aurora vem até mim pela primeira vez me olhando. Isso é muito estranho, prefiro que me evite. O corredor estava relativamente vazio, o que era de se estranhar, mas não dei tanta atenção. Vejo um dos soldados de Hange vindo em nossa direção. Seu cabelo era castanho claro, penteado para o lado esquerdo. Apesar da aparência nada agradável, ele tinha confiança e habilidade que o fazia ser respeitado.
- Tenente, preciso da sua ajuda com umas tarefas. Alguns experimentos com os novos titãs que foram capturados. - Os olhos da mulher brilharam.

- Vocês sabem voltar para casa sozinhos. Até depois. - Ela falava enquanto puxava o pobre soltado pelo braço o fazendo cambalear até que meus olhos não pudessem mais enxerga-los. Deixando, assim, apenas Aurora e eu no enorme corredor coberto por um silêncio constrangedor.
O melhor soldado da humanidade com medo de uma mulher? Meus olhos vão na direção dela e quando os olhares se cruzam, sinto um calafrio na espinha. Não dá para continuar assim.
Eu devo a ela, tenho que lhe dar um tempo. Um tempo de mim.

Ando em direção a saída e pego o Kuro de volta. Aurora já não reclamava de andar a cavalo, ela tinha ficado muito boa. Em pouco tempo conseguiu doma-lo, e já passava por quase todos os obstáculos no treinamento.
Em um segundo ela está a toda velocidade correndo com o cavalo branco. Estava rápida e longe o suficiente para que eu não conseguisse mais alcança-la. Não fiz nenhum movimento. Talvez fosse seu jeito de dizer que não queria estar perto de mim.
Não deveria tê-la beijado, mas me arrependeria se não o fizesse. Só que agora, eu a machuquei, apesar de ter feito com a intenção contrária. Queria falar com ela, contar a verdade. Mas como posso dizer a verdade se minto para mim mesmo? Como posso explicar algo que não entendo?
Enfim, já sei o que devo fazer. E assim farei.

Começo a cavalgar. A única coisa que eu podia ver era um pontinho branco no horizonte, que estava sumindo junto ao sol. A estrada de terra já estava sob os pés do cavalo. E sobre o ele, eu. Completamente perdido. Isso é confuso demais para alguém querer lidar, então o que devo fazer? Seguir meu coração? Ou a minha mente?

A escuridão da noite já tomava conta de todo lugar, dando espaço para as estrelas e a lua. O frio gélido endurecia minhas mãos que seguravam as rédeas, e em meu rosto, travava-se aquela brisa gostosa dando a sensação de liberdade. Acabo fazendo o cavalo ir mais rápido, e mais rápido. O Kuro era veloz, será que ela a alcançaria? Vamos ver.
A sensação é quase a mesma que o DMT, mas dessa vez eu não posso voar. Isso não faz ser menos incrível. O cavalo vai cada vez mais acelerando, e agora, o pontinho branco virou uma silhueta. Me pergunto se deveria mesmo fazer isso.
- Aurora!! - Grito para a mulher em minha frente que se vira de costas, mas não diminui a velocidade. - Eu estou dando uma ordem para que você pare. - Vejo sua velocidade diminuir e assim consigo acompanhá-la mais facilmente.

- O que quer? - Pergunta. Coloco meu cavalo ao lado do seu.

- Conversar. Apenas me escute se preferir. - Dou uma pausa para respirar. - Eu não posso deixar isso dessa forma, então quero que você entenda.

- Tudo bem, Levi. Eu já entendi. - Ela me corta e da um sorriso falso. - Você só fez aquilo para que eu não acabasse ficando chateada. A gente não pode ter esse tipo de relacionamento. - Ela estava tão encantadora, mas desmentia tudo que eu pretendia falar. É como se lesse a confusão em minha mente e me desse uma resposta. A de que eu deveria ouvir minha cabeça e não meu coração.

Fico sem palavras diante de suas falas. Eu não queria aquilo, mas parecia o certo, e também era mais fácil. Será que sou eu o covarde dessa vez? Se sim, eu permanecerei como tal. Para protegê-la. É pelo bem dela, da moça à minha frente que vai salvar esse mundo desgraçado pelos titãs.

Concordo com a cabeça.
- Eu confio em você para nos salvar. Sei que vai conseguir. - Coloco a mão em seu ombro e começo a andar. - Vamos, já está tarde. Você deve estar com fome.

- Estou faminta. Comeria você se possível. - Ela responde em tom sarcástico. É bom tê-la de volta dessa maneira.

- Fique bem longe de mim, pirralha.

Estilhaçados Pelo Tempo Where stories live. Discover now