Capítulo nove: cavalo.

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•Aurora.

Consegui subir no cavalo, mas ele estava dando muito trabalho.
Eu puxava as rédeas tentando controlá-lo, mas em resposta ele virava o rosto tentando se desvencilhar. Estava quase caindo com seus pulos.
- Levi!! Me ajuda!! - Eu gritava, porém ele apenas me olhava. Até parecia que queria me ver caindo do cavalo. Nem sei como estou de pé depois do corte da cabeça, imagina se eu cair do cavalo.

Levi estava a alguns metros de mim, estava parado e me olhava com a mesma expressão de sempre.
Se ele quer tanto assim me ver cair, então ele vai ter o que quer. Penso.
A raiva já havia consumido a minha mente, não estava conseguindo pensar de forma racional. Eu só queria que ele me ajudasse, mas a única coisa que fazia era me olhar com aqueles olhos vazios e sem sentimentos.

Pouco tempo atrás tive aquela sensação que não consegui entender, e sei que ele também sentiu, mas agora eu não via nada, nem um resquício daqueles sentimentos que antes seus olhos se cobriam por inteiro.
Soltei as rédeas e deixei o cavalo se conduzir sozinho. Vejo de relance que os olhos do moreno se arregalaram. Depois disso, consigo ver o céu, as nuvens, os pássaros que ali estavam voando. Em alguns segundos, também consigo escutar o relinchar dos dois cavalos e os gritos do capitão. A dor começa a surgir em minhas costas, como se fossem milhares de agulhas que me perfuraram cada vez mais fundo. Consegui sentir algo que me cortava por dentro, talvez uma das minhas costelas estivesse quebrada. A dor se volta para minha cabeça, mas a visão se escurece e não sinto ou ouço mais nada.

...

A escuridão vai se desvanecendo aos poucos. Começo a ter uma visão cada vez mais nítida do lugar, um quarto roxo. Meu quarto?
Quando finalmente abro os olhos de verdade, vejo que o lugar não é roxo, é branco. Tudo é branco, as paredes, a cama, o lençol. Ainda que estejam meio amarelados, era tudo branco. Odeio branco. É tão sem graça, sem personalidade. Não tem vida, é vazio, simples. Igual... Ao Levi. Não! Que mentira. Ele não é assim. Isso é só o que ele tenta mostrar, para disfarçar quem realmente é. Sua postura autoritária esconde um soldado que não gosta de seguir regras. Seus olhos frios mostram o quanto de sentimentos ele sente, principalmente dor. Sua baixa estatura é contrária ao grande homem que ali se formou. Suas manias de limpeza demonstram o quanto suas mãos estão sujas. Seu raciocínio lógico retrai o quão perturbador deve estar sua mente.
Ele é só um humano. E eu tenho os mesmos olhos, a mesma postura, a mesma altura, o mesmo raciocínio. Nós dois fomos vítimas do mundo, mesmo que diferente, e foi isso que sentimos naquele momento. Uma conexão.

- É bom vê-la acordada. - A voz de Levi toma meus ouvidos. - Você se lembra do que aconteceu? - Não respondo, apenas permaneço olhando para o teto.

- Aurora, me responda. - Sua fala saiu doce como o melhor chocolate do mundo. Me viro para ele encontrando seus olhos. Queria sentir aquela conexão de novo. Acho que deve ser um bom momento para perguntar.

- Você sentiu aquilo? - Perguntei.

- Aurora... - Ele começou com um tom meio preguiçoso, como se não quisesse falar sobre aquilo. - Responda a minha pergunta primeiro. - Ele havia quebrado a troca de olhares, nesse momento só mantinha seus olhos na parede. - Me diga porquê fez aquilo. Por que soltou as rédeas?

- Por que não me ajudou?

- Pare de responder minhas perguntas com outras perguntas!! - Levi volta seu olhar para mim. - Você é sempre irritante.

- E você? É sempre um idiota?

- Quantas vezes vou ter que fazer você lavar o banheiro para me tratar com respeito?! - Ele estava com raiva. - Me diga porquê soltou as rédeas.

- Porque você parecia querer que eu caísse. - Desviei o olhar, estava com vergonha. Agora não parecia mais tão sensato o que eu fiz. - Eu estava com raiva. - Ele soltou um longo suspiro e começo a andar em minha direção. Eu mantive meu olhar direcionado a pequena mesa, também branca. Haviam alguns utensílios em cima dela, tesouras, fita, agulha, linha, álcool e algodão.
Levi se sentou na cama em que eu estava. Começou a me observar, estava ficando cada vez mais desconfortável. Ele sempre soube como fazer as pessoas se sentirem assim, era o seu maior talento.

Sinto sua mão quente passar por minhas minha bochecha, embora o clima estivesse bom, dava a impressão de que ela estava muito gélida. Ele puxou meu rosto em sua direção me fazendo olhar diretamente em seus olhos.
- Olhe para mim quando eu estiver falando com você. Eu nunca ia querer que se machucasse, Aurora. - Um sentimento de conforto tomava conta do meu peito. Eu queria estar com ele, queria ser protegida por ele. Que ridículo da minha parte. - Não te ajudei, porque acreditava que você conseguiria fazer com que o cavalo a obedecesse sozinha.
Ele tirou sua mão do meu rosto e senti como se tivesse me deixado no frio da escuridão novamente.

- A missão contra a titã fêmea vai ser amanhã assim que o sol nascer. - Ele disse.

- Mas já? Não é muito cedo? - O questiono.

- Ordens do comandante. - Levi da uma pausa. - Agora descanse. Só deu tempo para que as pessoas enrolassem você nesses curativos. Posso pedir para que façam um chá de camomila se preferir, vai ajudar você a dormir.

- Obrigada. - Dou um sorriso antes que ele vire as costas e comesse a andar até a porta. - Levi... Tomei cuidado. - Ele para por um instante, mas não se vira.

- Eu sempre tomo, pirralha.

...

O vapor quente subia sobre a xícara. O cheiro refrescante tomava conta da pequena sala em que me foi dada. Nada daquilo me acalmava, muito pelo contrário, me fazia lembrar dele. Sua maneira estranha de segurar a xícara, me pergunto desde sempre o porquê disso. Me arrependo de não o ter questionado, talvez eu nunca mais voltei a vê-lo.
Não queria que ele fosse, não queria que ninguém fosse! Se eu tivesse o poder de estalar os dedos e acabar de uma vez com todos os problemas desse lugar, será que eles seriam felizes? Será que Levi Ackerman poderia ter a oportunidade de sorrir? Será que alguma vez já consegui? Alguém?

Respiro fundo tentando afastar aqueles pensamentos.

Eu não sou forte. A única coisa que tenho é o conhecimento do que vai acontecer nesse lugar. Preciso aprender a usar isso ao meu favor. Preciso lembrar de tudo que posso para ajudar as pessoas desse lugar.
Respiro fundo mais uma vez. Coloco a xícara sobre a escrivaninha perto da cama e tento dormir. A sala era confortável, principalmente agora com o cheiro do chá, então não demorou muito e eu adormeci.

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Queria perguntar uma coisa a vocês.
Gostam do tamanho dos capítulos? Querem eles maiores ou menores? Embora eu achei que menor não seria muito aprovado kakak.

Estilhaçados Pelo Tempo Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon