Capítulo seis: o que ela sente.

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•Levi Ackerman

- Idiota, imbecil, anão filho do capeta, Pincher raivoso, miniatura do satanás, desgraçado... - Ela me xingava de todos os nomes possível. Decidi não fazer nada, por causa da sua excepcional criatividade. Para falar a verdade, achei até um pouco engraçado. Sua coragem de me tratar dessa forma é burra, cada vez que me xinga eu aplico mais punições.

- O que está falando? - Pergunto, mesmo que eu já estivesse escutando atrás da porta a algum tempo.

- Estou conversar com os vermes e micróbios que tem aqui nesse vaso. - Ela apontava com a escova de cabo grande para a privada em sua frente. Seu olhar estava puro ódio. Estava me divertindo muito com aquilo. - Elas concordaram comigo quando eu disse que você era um baixinho de merda.

- Quer conversar com elas por mais um mês?

- Pelo menos elas são carismáticas. - Embora eu estivesse apenas brincando, a opção de deixá-la responsável pelos banheiros por um mês ainda era possível.
O banheiro estava realmente imundo. Nem tive a coragem de tentar descobrir o que tinha dentro daquele vaso sanitário. As paredes que antes eram brancas, estavam meio marrons e com um pouco de fungos. Mandar alguém limpar aquele lugar é o mesmo que mandá-la para o inferno.

- Quero que me ajude com os almoços e jantares. Mas antes, tome um banho com água sanitária. - Talvez não seja uma má ideia tirá-la dali por um tempo.
Como se eu tivesse salvado sua vida ou lhes dado o melhor presente do mundo, ela levantou do chão com um sorriso de orelha a orelha. Agora estava radiante, deixará aquela garota emburrada ir embora. Nunca tinha visto esse sorriso em seu rosto, na verdade, não vi nenhum até agora.

Arregalo meus olhos quando a vejo vindo em minha direção com os braços abertos.
- NEM FUDENDO, AURORA!! - Grito para ela que finalmente para. Sinto o ar dos meus pulmões saírem com muita força.

- Olha só, você sabe meu nome. - Ela se retira do lugar dando gargalhadas pelo corredor.
Agora entendo o porquê de tamanha felicidade.
Acho que quero ver... Aquele sorriso de novo.
O som deles ficava cada vez mais abafado e eu me perdia no vazio que sentia agora toda vez que ela não estava por perto.
Que estranho.

•°•

- Não imaginei que você também fosse cozinheiro. - Aurora estava com seu novo uniforme de cadete. A camisa branca social e uma calça jeans escura. Suas botas um pouco desgastadas, porque eram de Petra, tinham seus cadarços amarrados até um pouco acima da canela.

- Você não sabe nada sobre mim. De qualquer forma, prenda seu cabelo e amarre um pano na cabeça. Também coloque o avental e lave as mãos. - Falei enquanto terminava de cortar algumas verduras.

Ela fez o que mandei e logo em seguida foi em minha direção para tomar o meu lugar enquanto eu fui dar uma olhada na panela. O arroz estava quase pronto, um leve cheiro adocicado que provavelmente vinha da canela em pó que eu havia colocado para experimentar algo novo.

Aurora apenas ficou responsável por limpar a cozinha e raramente me ajudar na comida. Passou o resto do tempo calada, o que me surpreendeu um pouco. Ela apenas me olhava com um olhar vazio às vezes e só parava depois que eu começava a encara-la.

O tempo passou e o jantar ficou pronto.
- Leve isso até os soldados. - Digo entregando a panela de arroz.

Pego a bandeja com as carnes e a salada e vou logo atrás dela.
Os soldados estão eufóricos mesmo que graças a Aurora eu tenha conseguido fazer o jantar mais rápido. Os cadetes tem uma aparência meio cansada, mas apesar disso lá está Eren e Jean em uma discussão sem nenhum fundamento.

- Atenção soldados! Alguns de vocês já estão cientes dos acontecimentos recentes, mas outros ainda não. Por esse motivo decidi fazer uma apresentação mais formal durante o jantar. - Dou uma pausa e vejo todos a minha volta ficarem cada vez mais atentos. - Essa é Aurora, a nova cadete. Porém, a questão dela é diferente. Como já devem ter reparado, ela não está aqui para os treinamentos comuns. Ela é uma Ackerman e receberá uma atenção especial minha durante o tempo que estiver aqui. Será treinada especificamente por mim e ninguém mais. Com as novas descobertas o Erwin decidiu que essa seria a melhor escolha, porque assim ela poderia se tornar uma soldada tão forte quanto eu. - Nunca menti tanto na minha vida.

Olha para Aurora e vejo sua expressão tão calma e serena, ela finge muito bem. Não disse nada para ela sobre essa apresentação, mas isso ela já deve ter deduzido. Um fio de cabelo cai sobre sua testa e sinto a vontade esquisita de colocar para dentro do pano em sua cabeça.

- Oi, é um prazer conhecer vocês. Espero que sejamos bons amigos. - Sua voz estava um pouco diferente do habitual, meio rouca. Um pouco mais doce e gentil. Senti como se fosse uma melodia passar pelos meus ouvidos, tão gratificante e assustador ao mesmo tempo que me fez arrepiar um pouco. O barulho dos outros que estavam na mesa levantando e indo abraça-la me tira do transe. A animação deles contagia todos a volta, dando um ar de tranquilidade e compaixão, às vezes em que finalmente nos desligamos da realidade horrível que estamos. O único momento que o sorriso é sincero, a única vez que não sentimos medo da morte.

- Tá bom, tá bom, chega! Ela vai me ajudar a limpar a cozinha. - falo enquanto a tiro de cima da multidão a puxando pelo braço e levando-a. Alguns barulhos que expressão tristeza ficam a nossa cola. - Amanhã conhecerão ela melhor, não se preocupem.

- E o jantar?? - Aurora me reprime.

- Vamos jantar depois que todos terminarem. Nós, os cozinheiros, só comemos quando todos estiverem satisfeitos.

- Eu vou morrer de fome.

- Não, eu nunca morri. - Ela bufa para mim e lhe mando um olhar que a faz me obedecer.

...

Os barulhos param, o que me faz acreditar que todos já foram embora, o único som que escuto é o que vem da barriga de Aurora. Olho para ela que está sentada em uma cadeira com um olhar triste para o teto. Respirava pela boca às vezes, mostrando o tédio e raiva que estava sentindo nesse momento. As mãos sobre a barriga e as pernas abertas, sem nenhuma compostura. Nem acredito que chamei ela de soldada e a comparei com o poder que tenho.

Que vergonha.

- Todos já acabaram. - Ela me olha com o mesmo olhar triste de sempre, e me pergunto se ainda há a possibilidade de que eu veja aquele sorriso de novo. Vou até o fogão e pego dois pratos que já estavam prontos a algum tempo. Neles haviam um punhado de arroz com carne, e uma salada com batatas cozidas.

Começo a andar em direção ao salão que, como imaginei, estava vazio. Coloco a comida na mesa e me sento, Aurora se põe em minha frente deixando cada vez mais aparente os seus sentimentos.

- O que aconteceu com você? - Pergunto.

- Eu só... Estou pensando. - Embora tenha voltado o seu olhar para mim, ela o desvia em menos de dois segundos.

- Deixe os pensamentos de lado por um tempo, estamos no meio do jantar. - Ela apenas confirma com a cabeça.

Aquele típico silêncio constrangedor toma conta da sala, encontrar alguém que saiba aprecia-lo é algo muito difícil. Naqueles minutos não se ouvia nada além das árvores se mexendo aos poucos, do vento que vinha de fora e sussurrava em meus ouvidos para quebrar aquilo. Os pássaros já haviam dormido, mas uma coruja era o que se ouvia ao longe. Um dia os homens se perguntavam como seria voar, então fizeram os DMT's. Eu estou perguntando o que ela sente, será que um dia sentirei também?

Estou ficando louco.

Estilhaçados Pelo Tempo Where stories live. Discover now