Capítulo doze: Ao nascer do sol.

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•Levi Ackerman.

O sono não vinha, nunca veio na verdade. Nem ao menos posso dizer que ele me abandonou já que nunca o tive. Será que alguma vez na minha vida vou ter a oportunidade de dormir direito, ou pelo menos dormir.
Eu estava jogado sobre a cama com meus pés para fora dela. Aos poucos eu fiquei sem ar agora que enfiei meu rosto no lençol. Passo pelo menos uns dois minutos assim e levanto minha cabeça quando vejo que não vou aguentar mais. O ar entra em meus pulmões de forma tão agressiva que sinto ele me rasgando, cada vez mais parecendo estar bem afiado, mas ao mesmo tempo era aliviador. Eu só queria que houvesse um jeito de parar de doer. E que jeito melhor se não causando outra dor? Mesmo que física.
O tanto que eu tentei. O tanto que eles tentaram. Mas tenho que seguir meu caminho, não posso fazer mais nada.

...

Apesar do sol nem sequer ter se levantado, eu já estava de pé. Ele deveria aprender comigo.

O corredor estava completamente vazio, obviamente, por causa da escuridão que ainda consumia o lugar, com exceção das janelas. Embora escuras, ainda haviam sobre elas uma luz. Por culpa do céu, davam a impressão de serem meio azuladas. Era muito bonito de ver, era expendido na verdade. Dar valor a esse tipo de coisa só se aprende com o tempo, ou só depois de ver o que ele pode fazer com você.

Passo por um quarto que tem sua porta aberta e vejo Aurora. Estava deitada do seu "jeitinho". De barriga para baixo com um braço e uma perna para fora da cama. Babava como se fosse um bebê e ainda por cima roncava como um velho. Uma pontada de irritação surge em mim. Ela consegue ser irritante até dormir. Entro em seu quarto e começo a chutar a cama.
- Ei, pirralha. Preciso que você acorde. - Apesar de todo o balançar, Aurora apenas se mexe e vira o rosto para a parede.
Como pode ter um sono tão pesado?
Minha indignação tomava conta do meu rosto.
Uma janela quebrada atrás de mim fazia com que a luz amarelada do sol recém nascido caísse sobre seus cabelos, refletindo assim, o castanho que neles haviam. Alguns dos seus fios ficaram meio dourados, outros apenas o deixaram mais reluzentes do que realmente eram. Nunca havia reparado na beleza que eles tinham, também nunca havia tido ciência de como sua pele parda era deslumbrante. Nunca tinha reparado em sua aparência.

- Aurora. - Minha voz saía baixa.

Sua cabeça finalmente se levanta e seus olhos se encontram com os meus. Aquela mesma sensação que a uns dias atrás eu consegui me permitir contemplar, toma novamente minha mente e corpo. Eu não sei o que é, mas toda vez sinto a necessidade de estar com ela só para poder sentir aquilo pelo maior tempo possível. Sendo sincero, eu não me importava com o que significa aquele sentimento, se eu pudesse tê-lo já era suficiente para mim. Eu não sentia algo tão bom a muito tempo, a última vez foi quando experimentei o DMT pela primeira vez. Foi libertador, como se tivessem me devolvido as asas que nunca tive a oportunidade de usar. Era isso que eu sentia agora, algo que nunca consegui ter, mas que agora tenho todas as sensações de uma vez só. Uma delas era algo que me puxava, como um ímã, para a mulher em minha frente.
Ela me olhava do mesmo jeito, havia se sentado na cama, tendo seu cabelo um pouco bagunçado ainda. Seus olhos estavam brilhando, talvez por causa do sol. Não importa. Ela estava... Incrível.

Dou um passo à frente me aproximando dela, isso faz seu rosto se levantar um pouco para conseguir manter o contato visual. Involuntariamente meu corpo se aproxima do dela. Eu não sei o que estou fazendo, só sei que preciso fazer. Minha coluna se curva para que eu me proxime, levo minha mão ao seu rosto e coloco atrás de sua orelha uma pequena mecha de cabelo. Minha mão desce até seu queixo e eu o levanto um pouco para deixar seu rosto mais perto ainda do meu, consigo ver Aurora fechar seus olhos enquanto deixa seus lábios tão próximos que consigo sentir sua respiração que vem da sua boca. Nervosismo?
Antes que eu possa beija-la afasto meu rosto.

- Desculpa, mas eu não posso. - Minhas palavras soam como um sussurro, que seria impossível ouvi-las se não estivéssemos tão próximos. Me retiro do quarto e caminho até meu escritório, na verdade estava correndo. Entro e fecho a porta, acabo apoiando minha testa nela.

Eu não podia fazer aquilo, não podia beija-la. Eu sou um soldado. Se eu me apaixonar por alguém isso pode comprometer meu desempenho e posso acabar atrapalhando o resto também. Eu não posso amar alguém, não se houver a possibilidade de perde-la, e nesse mundo qualquer coisa pode matá-la. E mesmo se ela não corresse riscos, eu poderia morrer. E não quero que ela sinta isso, não quero machucar ela. Não posso fazer isso, seria muito egoísta.

Eu nunca poderia amar alguém, não importa o quanto quisesse.

...

Os cadetes já haviam se levantado, eu dei ordem para todos. Estavam arrumando todo o QG. Apesar do trauma, eles estavam bem. Não era sua primeira missão, e não foi a última. Eles estavam se divertindo, a felicidade estampada em seus rostos era de se admirar. Os sorrisos, tão singelos e verdadeiros, me lembrava dos meus companheiros que haviam partido. Eles sorriam do mesmo jeito, com a mesma energia e empolgação.

Eren e história estavam conversando enquanto cortavam algumas verduras para fazer o almoço. Sasha estava segurando uma carrada de madeira em um dos braços e comia uma batata com a outra mão.
Como pode ter tanta força?
Ymir estava com Connie nos estábulos e Mikasa estava em algum lugar desconhecido.

Olho pela janela da cozinha e vejo Aurora dando um belo soco no Jean. Ele caia no chão como um saco de estrume.
Estavam treinando ou só brigando?
Eu ainda não tinha falado com ela, não queria. Seria muito estranho. Planejava só fingir que nada havia acontecido. Mas será que eu realmente conseguiria fazer isso?
Eu sentia algo por ela, isso é óbvio, mas não posso arriscar. Será que valeria a pena conversar com ela e explicar? Acho que ela merece saber o motivo.

Jean já estava de pé novamente, só para receber outro soco dela e cair de novo, dessa vez demorando mais para levantar. Era melhor ele ficar por lá mesmo. Ando até o local em que estavam.
Eu não poderia me esconder para sempre mesmo.
- Não acha que está pegando muito pesado com ele? Vai acabar matando-o. - Seu olhar se volta para mim, estava com raiva e provavelmente era por minha causa.

- Quer entrar no lugar dele? - Ela desafia.

- Quero. - Seu corpo se vira para mim e ela fica em uma posição bem peculiar.

Ela estava na mesma posição que a Annie. Punhos cerrados e um pouco acima da cabeça, perna esquerda na frente completamente presa no chão enquanto a direita ficava mais atrás um pouco levantada. 
Ela estava apenas imitando?
Decido dar o primeiro golpe, já que sabia que ela nunca faria isso e íamos ficar naquela posição pelo resto da vida. Era apenas um soco, não pretendia atacá-la de forma tão brutal, mas, diferente de mim, ela não estava para brincadeira. Usou sua perna direita e chutou com tanta força a minha mão que tenho a impressão de ouvir seus ossos quebrarem, ainda na mesma posição, ela usa o impulso para tentar outro chute, dessa vez na minha barriga, por pouco consigo segura-lo.
Estava mais forte que o normal, se eu não tiver quebrado ao menos um dedo...
Isso era raiva? Adrenalina? Nunca tinha visto ela tão forte.
- O que você andou comendo? - Pergunto enquanto me afasto um pouco e tento averiguar minha mão direita.

- Eu não tenho culpa de você estar fraco. - Ela responde.

Sinto uma raiva corroer meu peito de dentro pra fora.
- Eu tava pegando leve com você, mas já que prefere assim. Depois não venha reclamar por ter perdido um braço ou uma perna, pirralha idiota.

- Relaxa, quem vai para enfermaria dessa vez é você. - Ela não estava sendo sarcástica do seu jeito normal, mas que se dane também. Eu vou dar o que ela quer.

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