— Nada. — Acabo falando rápido demais para que ela acredite. Nervoso, começo a mexer minhas mãos e olhar para os lados. — Não rolou nada.

Ouço-a suspirar, e então paro de mexer minhas mãos quando minha mãe coloca a dela sobre a minha, numa tentativa de me acalmar que estranhamente funciona.

— Eu não sei o que aconteceu, nem o que causou tudo isso. Mas se quer um conselho, filho, saiba que nada é o fim de mundo como às vezes a gente pensa que é. Essas coisas passam, e, acredite, você vai enfrentar dores muito piores um dia. Tudo que tem que fazer é seguir em frente e superar, pois ficar dentro de uma bolha de sofrimento só vai te levar para baixo. Confie em mim.

Olho para ela, desorientado. Suas palavras são estranhamente semelhantes com as daquele homem. Minha mãe tem um olhar determinado na face ao me encarar, apertando minha mão com força.

E é então que eu vejo que tá na hora de dizer algo.

— Não, mãe — eu murmuro, negando com a cabeça ao voltar a encostar-me contra o banco. — Você não entende. Eu não quero sentir dor maior que essa. Não quando se trata disso. Eu não quero porque não quero conhecer e passar por isso com a merda de mais ninguém. — Estou com raiva agora quando olho para ela. — Eu não quero que aja outra pessoa. E mesmo se houver, acho que nunca vai ser como era com ela. Não do mesmo jeito. Porque mesmo eu sendo tão jovem, sei que a Lara é única. E que o que eu sentia por ela sempre vai ser único também.

Minha mãe sorri, ainda que eu veja que se trata de um sorriso triste. Um sorriso de pena.

— Eu sei, meu amor. Mas existem muitas outras pessoas únicas por aí, que podem te fazer tão feliz quanto você nem achava ser possível — diz ela, baixo e carinhosamente. — Não se prenda ao que aconteceu. Você é jovem. Muitas coisas virão. Não está nem no começo da vida ainda... acredite.

Eu sei, mãe... eu sei. O que me mata é a leve intuição dentro de mim me dizendo que, mesmo se eu conhecer outras pessoas, não esquecerei dela. Não esquecerei do que eu sentia por ela.

E, pior. Não me esquecerei de quem eu era com ela.

Porque eu sentia que era a droga da minha melhor versão. E agora acabou.

— Valeu, mãe — eu digo baixinho, embora minha voz soe impaciente e nada agradecida.  — Vou tomar um banho agora.

— Faça isso. — Minha mãe já parece animada de novo quando se levanta, dando tapinhas em minhas costas. — Tire logo esse cheiro podre de álcool de você, vamos.

Dou risada, ainda que seja uma risada desanimada, conforme fecho a porta do carro e caminho para dentro junto dela.

Eu entendo que minha mãe queira me ajudar. Mas ela não entende que, pra mim, Lara vai sempre ser insubstituível.

Por mais que ela nunca me escolha.

LARA

Isso tem que valer a pena — eu digo a Dra. Ross, dando de ombros. — Porque, se não valer, tudo o que eu tiver feito terá sido em vão. Todas as coisas de que abri mão.

Gosto de como consigo me abrir mais com ela a cada consulta. De como fica mais fácil falar, expôr o que eu estou sentindo.

A Dra. Ross levanta uma sobrancelha para mim.

— Abrir mão? Quando diz isso, você se refere a quê exatamente?

Desvio o olhar.

— Ao Logan.

Um silêncio se instaura, e é desconfortável sentir o olhar dela em mim. Como se fosse um silêncio de desaprovação.

Ouço-a suspirar e remexer-se em sua cadeira. Quando tomo coragem de olhá-la novamente, a Dra. Ross está encarando algum ponto vazio, parecendo pensar no que dizer. Até que, por fim, ela fala:

— Lara, quando afastou Logan de você, tem certeza de que fez a coisa certa?

Solto uma risada cansada.

— Não. Eu não tenho certeza de nada ultimamente.

Desde que tudo aconteceu, tenho tido uma estranha impressão de que a intensidade de meus sentimentos por Logan são muito maiores do que eu pensava. E acho que só estou notando isso agora, depois de estragar tudo.

Apago o estragar de minha mente e finjo que não pensei nisso.

— Eu entendo, querida, perfeitamente, que você quer procurar a si mesma. Quando atingimos o amor próprio, nos tornamos praticamente invencíveis. — Ela abre um sorriso doce. — Mas confesso que entendo o que aconteceu. Você não tinha com quem contar. Nossa família precisa ser o nosso maior apoio, e, quando isso não acontece, ficamos perdidos. Entretanto, confesso que também é arriscado colocar essa segurança em alguém. Porque se essa pessoa for embora, desequilibrará o nosso mundo.

Não digo nada, concentrada em suas palavras. A Dra. Ross cruza as mãos sobre seu caderno de anotações quando olha para mim novamente, e sei que algo grande virá assim que ela continua:

— Mas acredito, Lara, que você não precise necessariamente se afastar de Logan para isso.

Franzo a testa, embora ela esteja sorrindo.

— Mas... seria mais arriscado se eu não tivesse me afastado, não seria?

Ela fica séria de novo conforme se recosta na poltrona.

— Olha, o risco sempre vai existir. De nenhuma forma você terá uma garantia de que dará certo, Lara. Mas acredito que haja uma maneira de... ainda assim, você poder ter os dois.

Nós trocamos um olhar, meu coração dando um grande sinal de vida dentro do peito ao ouvir suas palavras.

Minha voz está baixa quando eu faço a pergunta, aquela que meu ser todo almeja saber:

— Como?

Amor Virtualحيث تعيش القصص. اكتشف الآن