Preciso ser o suficiente para mim.

Assim que abro a porta do meu quarto, paro subitamente no batente, levando um susto do tamanho do mundo ao ver que meu avô está sentado na minha cama.

Sinto-me num universo paralelo. Então fico aqui, parada e piscando, pra ver se sua figura some da minha frente. Mas não. Meu avô continua aqui. Folheando uma cópia antiga de Crepúsculo que provavelmente pegou da minha prateleira. É até irônico comparar minha situação com a de Bella... uma personagem que teve sua vida destruída depois que seu grande amor a abandonou. Talvez a independência emocional esteja mais presente no nosso mundo do que pensávamos.

— Hm... vô? — eu falo, tomando coragem, o que o faz se levantar imediatamente e alisar seus jeans conservados. Me sinto estranha por chamá-lo de . Pelo nosso nível de intimidade, o nome Marcus Becker encaixaria mais.

— Oi, querida... estávamos preocupados. Tá tudo bem?

Sua feição é séria e desajeitada, como se não soubesse como agir comigo tanto quanto eu não sei como agir com ele. Que tristeza. Somos uma família de estranhos.

Me baseio em confirmar com a cabeça, o que o faz repetir meu gesto, engolindo em seco e olhando para baixo. Fico esperando que ele explique por que está aqui, mas o nervosismo parece atrapalhá-lo.

Aquele silêncio chato entra em cena.

Bacana. Pensei que pudesse enfim me enfiar debaixo das cobertas e passar o resto da noite pensando sobre tudo o que falei a Logan, mas é claro que meu avô tinha que estar aqui. Hoje poderia até chover, pela quantidade de coisas improváveis que estão acontecendo.

— Sua avó tava preocupada — repete ele simplesmente. Outro silêncio surge, e eu permaneço quieta enquanto meu avô olha ao redor desconfortavelmente. — E eu também estava. Preciso... falar algo com você.

Um nervoso estranho me atinge. Ai, lá vem. Já estou super bem emocionalmente mesmo pra aguentar mais uma agora. Ótimo.

— Onde... onde elas foram? — eu pergunto baixinho, sem saber o que fazer. Mudo o peso do pé trezentas vezes, cruzo os braços e depois descruzo de novo. Sentar ao lado do meu avô parece estranho demais.

Ainda assim, quando ele volta a se acomodar na borda da minha cama e mexe levemente em sua gravata, vejo que eu não tenho escolha.

Suspiro antes de me sentar ao seu lado, achando tudo muito bizarro. Foco meu olhar em minha penteadeira, vendo uma foto polaroid de quando eu era criança colada nas bordas.

É engraçado como o meu próprio quarto pode se transformar em um lugar tão formal e desconfortável simplesmente pela presença de alguém diferente aqui. Alguém que é o meu avô, aliás. Que não deveria ser esse tipo de pessoa em minha vida.

Mas, o que eu posso fazer? O mundo não é um conto de fadas.

— Bom, sua avó obrigou sua mãe a dar uma volta com ela. — Olho de esguelha para ele, vendo meu avô suspirar com vontade ao olhar para frente seriamente. Ele aparenta cansaço ao falar das duas. Não me surpreende. — Fiquei surpreso por ela ter aceitado, mas talvez eu tenha ajudado dizendo que esperaria você retornar.

Franzo a testa, processando suas palavras. Não entendo por que isso teria motivado a minha mãe. Não entendo como ela poderia aceitar sair com a mãe que não suporta e deixar meu avô aqui, esperando por mim. Nada mais faz sentido ultimamente. Muito menos o que eu fiz hoje.

Amor VirtualWhere stories live. Discover now