capítulo 31

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Elisabeth

A semana do Natal se aproximava. Eu tentava focar em todo trabalho que tinha e esquecer de tudo que acontecera havia alguns dias. Levei Malu à psicóloga, e ela ficou encantada com a evolução da minha pequena. Queríamos muito que ela voltasse a falar, mas no último mês ela havia surpreendido todo mundo, inclusive a profissional que a acompanhava.

Também tirei algumas dúvidas em relação à entrada de Jughead em nossas vidas. Dúvidas que envolviam minha filha e eu. Ainda não acreditava que agira daquela forma, praticamente
me jogando nele. Sempre achara que seria imensamente difícil me entregar para outro homem, mas não havia sido isso que acontecera: se Jughead não tivesse parado, teríamos transado no sofá da minha sala.

As palavras da psicóloga ainda estavam frescas na minha cabeça. A maioria das vítimas tende a se fechar para o sexo, mas há uma parte que se põe na posição de reviver o trauma sofrido. Foi o que aconteceu com você. O medo abriu uma comporta de sentimentos e você se permitiu se entregar naquele momento apenas para ter algo para substituir o que estava sentindo.

Eu não era uma compulsiva sexual, não tinha me tornado uma, mas no momento de tensão, havia sido a primeira coisa que procurara para ter algum alívio. Isso e o fato de ser Jughead, já que nunca havia sentido aquilo antes.

Era mais uma consequência que enfrentava. Saíra do inferno, mas parecia que ele ainda insistia em queimar dentro de mim. Malu também sentira o peso do que eu havia causado, mas, quase uma semana depois, isso parecia ter mudado. Achava que uma certa menina de cachinhos dourados e que falava pelos cotovelos tinha algo a ver com a transição.

—Vamos pra piscina de bolinhas? Malu não respondeu de imediato, e eu a incentivei.
— Vai com a Vitória, meu amor. A mamãe vai ficar aqui com a tia Clara.Quando ela puxou forte minha mão, me forçando a abaixar, sabia o que queria. Dei um beijo em cada lado do seu rosto e um último na testa. Só depois é que Malu seguiu em direção ao brinquedo, de mãos dadas com a amiguinha.

Cruzei os braços, observando as duas se afastarem com um aperto diferente no peito. A independência da minha filha era algo com o qual estava me
acostumando.

— Vitória mal dormiu essa noite de tanta ansiedade. A voz da Clara chamou minha atenção. Virei para ela e sorri ao vê-la acariciando a própria barriga. Jughead havia dito que ela tinha que tomar alguns cuidados na gravidez, mas parecia que nada se comparava ao que ela havia sofrido na gestação de Vitória.

Ficava feliz em vê-la bem, o pouco que conhecia dela já me inspirava confiança.
— Um menino. Parabéns!
Ela olhou para a barriga e sorriu, confirmando.
— Jughead te contou?
— Desculpa se fui indelicada.
— Não foi nada — balançou a mão —, não era nenhum segredo. Eu só fico feliz em ver Jughead compartilhando coisas da família com você. Significa que é importante para ele. Bom, isso eu sabia, mas é bom confirmar.
Virei meu corpo e fiquei de frente para ela.

— Quero pedir desculpa por aquele dia. Assustei vocês sem motivo algum.Pelo menos não o que eu imaginava. Acho que você conhece parte da minha história, então sabe que estou me reerguendo, por isso saí correndo. Achei que tinha visto meu ex-marido. Clara me lançou um sorriso reconfortante e segurou minha mão.

— Não precisava me explicar nada. Eu sei como é viver à sombra de um passado que, às vezes, parece querer nos engolir. Mas aprendi a conviver com tudo que tenho, inclusive com o que o passado me deixou. Eu sei que Malu é uma parte do que você deixou para trás, e ela é tão maravilhosa que tenho certeza de que você não se arrepende de tê-la. Igual a você, existe algo dentro de mim que me lembra dos dias mais tristes que já vivi, e essa mesma coisa é o que me mantém viva e aquilo que me deu a oportunidade de ter uma família e um futuro. O passado pode ser ruim, mas com jeitinho a gente consegue
transformar a tristeza em amor.

Muito além do AmorWhere stories live. Discover now