capítulo 2

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Jughead

Antes de sair, encaminhei algumas denúncias e revisei vários relatórios que
estavam pendentes. Por mais que me esforçasse, o volume de processos era
muito superior ao tempo que okeu dedicava ao trabalho. Quando deu a hora do
almoço, peguei todos os documentos e as anotações que usaria no júri e saí
apressado, para não me atrasar.

Sorri ao avistar de imediato uma vaga no estacionamento do shopping. Era mesmo meu dia de sorte e desejei que se estendesse até a tarde, quando estaria em ação. Procurei uma mesa no restaurante que eu adorava. Alexandre me
apresentou o lugar e caí de amores pela comida mineira que eles serviam.

Não almoçava mais ali por pura falta de tempo. Por isso, assim que cheguei, o cheiro
de comida caseira invadiu minhas narinas, fazendo meu estômago vergonhosamente rosnar de fome.
Sentei e aproveitei os minutos livres para enviar alguns e-mails.

Concentrado no celular, nem vi a garçonete me entregar o cardápio. O que foi uma falta de educação imensa da minha parte, tinha certeza de que havia ignorado seu bom-dia. Quando ia me virar para responder e pedir desculpa pelo
comportamento, ouvi uma voz que sabia muito bem de quem era me chamando
e tomando totalmente minha atenção.

— Tio jug! Tio jug! — Vitória gritou a plenos pulmões quando me viu. Fiquei de pé para esperá-la de braços abertos. Puta merda! Eu me tornava um perfeito idiota quando se tratava dos meus sobrinhos.

Agarrada à mão da Clara, que tentava acompanhá-la, minha pequena praticamente arrastou a mãe por todo o restaurante, ainda gritando meu nome.
Faltando algumas mesas para chegar à minha, Clara desistiu e a soltou. Vitória correu para os meus braços e eu a peguei, rodopiando seu corpo no ar. Sua gargalhada enchia meus ouvidos, tornando meu dia esplêndido. Um amor
incondicional e tão grande que transbordava do meu peito.

— Quem é a princesa do tio? — perguntei, já sabendo o que ela diria a seguir.Minha sobrinha levantou dois dedinhos, fazendo um sinal de “V”. Era o nosso código secreto — que de secreto não tinha muita coisa.
— Vitória — respondeu, com brilho no olhar e um sorriso genuíno no rosto.

Dei um beijo na sua bochecha e outro na cabeça, deslizando os dedos peloscachos brilhantes que se formavam logo abaixo do ombro.
— Isso mesmo, lindinha. Agora senta aqui que o tio jug vai dar um beijo na mamãe antes que ela fique com ciúme — expliquei, enquanto a colocava em uma cadeira.
— Mamãe gosta muito de beijos. Ela vive beijando o papai.
— Ah, é?
Arregalei os olhos, sorrindo, e dei alguns passos para chegar até Clara.

Ela estava com uma expressão séria e a respiração ofegante, como se tivesse corrido uma maratona. Não riu do que Vitória acabara de falar, mas ainda assim estava linda, usando um vestido longo em tons de verde que realçavam seus olhos quase da mesma cor. Clara era elegante sem deixar de ser ela mesma. Tão natural quanto seu modo de levar a vida. O cabelo estava preso em uma trança
lateral que a deixava com cara de… de… menina. Era assim que meu irmão a chamava. E era assim que eu a via.

— Tudo bem, meu anjo? — questionei o motivo da sua cara fechada. Clara me puxou para um abraço e eu retribuí.
— Está sim, jug. Só a Vitória que me arrastou por todo o shopping para chegar logo até você. Não tenho mais dezoito anos. Ainda bem que chegamos,
ou eu estaria estirada no chão e com a língua de fora.
Esboçou um sorriso amarelo.
Desviou o olhar assim que terminou de se explicar, e algo em sua resposta não me convenceu.

Mas eu aprendera a lidar com Clara ao longo dos últimos
anos, e sabia que insistir no assunto seria pior. Ela falaria quando estivesse preparada, fosse lá o que a estivesse incomodando.
— E o Alexandre? Não falei com ele hoje.
Ela revirou os olhos.
— Seu irmão vai me fazer enfartar antes dos trinta — disse, um pouco irritada.

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