capítulo 21

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Elisabeth

Uma parte de mim olhava para Jughead e pensava Uau!, mas a outra parte olhava para o homem e pensava que ele era alguém que um dia poderia vir a me machucar. Era insano imaginar que sempre olharia as pessoas assim, classificando-as em graus de periculosidade.

Eu não era burra. Estava na cara que ele havia dito mais do que eu esperava ouvir. No entanto, o que eu iria fazer com essa informação me apavorava. Entrava em pânico só de pensar em entregar minha vida, meu corpo e meu coração para outra pessoa.

Mesmo que essa pessoa fosse um homem que lutava por pessoas como eu. Não confiava em ninguém. Amaldade não vinha com um aviso. Então,não importava se era um maltrapilho ou alguém usando um terno caro. O que ele trazia em sua alma era a única coisa que iria defini-lo. Foi por isso que deixei aquela festa sem falar com ele mais uma vez.

Aproveitei um momento em que estava distraído, falei com Clara e fui embora levando minha filha. A maneira como ela me olhou, e depois para o cunhado, foi estranha. Como se soubesse dos meus pensamentos. Fiquei envergonhada.

Primeiro porque havia sido paga para servir na festa, e não para admirar os homens da sua família. Segundo, por constatar que eu realmente estava admirando um homem da sua família.

Entrei com Malu no carro e partimos depressa para casa. Janaína não ficara nem meia hora na festa e havia ido embora inventando uma desculpa, mas eu sabia que ela estava de caso com um carinha, por isso aproveitava cada momento que não estava comigo para ficar com ele.

No caminho, pensei ter ouvido coisas, e jurei que ficara maluca. Mas não estava. Malu estava mesmo cantando “Livre estou” bem baixinho. Ela cantarolava o refrão enquanto brincava com a boneca que Clara dera como lembrança do aniversário. Comecei a cantar também, sem desviar os olhosda rua. Não queria intimidá-la.

Minha filha parou por um instante, e quando percebeu que eu não a encarava,continuou cantando. Repetimos o refrão umas vinte vezes até chegar em casa, e a música tornou-se a minha favorita de todos os tempos.

Como havia previsto, Janaína não estava em casa. Pus Malu para dormir e, depois de um longo banho, aproveitei o silêncio total para ler um livro novo que
comprara. Tinha me interessado pela sinopse, mas o que me impulsionara a trazê-lo comigo fora a capa. Havia um homem seminu nela. Quando peguei o exemplar,minha primeira reação foi devolver à prateleira.Mas então percebi que a Elisabeth que eu fora não se limitaria tanto assim. Então fiz um exercício que passei a repetir com frequência. Cada vez que tinha que tomar uma decisão, imaginava uma Elisabeth sem o Dennis decidindo por mim.Foi assim que peguei
o livro de volta.

Eu era livre para fazer aquilo e muito mais. Uma liberdade  que
eu conquistara.Não havia sido nenhum juiz que me dera. Fora eu,apenas eu, que decidira sair do inferno. Eram méritos meus e ninguém nunca tiraria isso de mim.

O livro era bom. Na página setenta minhas bochechas começaram a pegar fogo. Partes do meu corpo começaram a esquentar quando li tudo que o mocinho estava fazendo com a mocinha. Desejo insano de estar no lugar dela e ser tocada daquela forma, com tanta devoção,r espeito e amor.

Fechei os olhos e imaginei exatamente isso, que era eu dentro daquelas páginas. Então me toquei. Coisa que voltara a fazer nos últimos tempos. Você precisa conhecer seu corpo. Estar em paz com ele.

Nos últimos dois meses, resolvera me abrir com a psicóloga sobre sexo. Infelizmente, o trauma deixado por Dennis não surgira depois daquele maldito dia. Durante o casamento, era proibida de me masturbar. Afinal, eu tinha um marido em casa que me satisfazia, não havia necessidade de buscar prazer sozinha. Fora privada de tantas coisas ao longo dos anos que me sentia uma virgem.
Não mais…

Muito além do AmorWhere stories live. Discover now