capítulo 3

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Elisabeth

Eu não sabia o que estava acontecendo, mas o que mais desejava naquele
momento era que ele desviasse os olhos dos meus. Era assustador o jeito como
me olhava, e meu coração disparou, avisando que fora uma péssima ideia dizer
meu nome.

Acontece que eu estava tentando agir da forma mais natural possível. Não queria sentir medo o tempo inteiro, ser dominada por ele, então
decidi que não fazia mal dizer meu nome. Era só um cliente querendo saber o nome da garçonete que o estava atendendo. Era o que minha mente repetia, tentando me convencer de que não havia motivo para pânico. Apenas um cliente..

Mas o homem continuou me encarando como se me conhecesse de algum
lugar, tornando as coisas mais difíceis do que já eram. Impossível! Com certeza
me lembraria de alguém como ele. Parecia mais um galã de novela, de tão lindo.
O cabelo não tinha um fio fora do lugar e chegava a ser perfeito demais. O paletó
escuro jogado sobre a cadeira ao lado e a camisa social que vestia me faziam imaginar se era um empresário ou algo assim. Até a forma como se movia era sofisticada.

Eu o vi assim que chegou, chamando a atenção de muitas mulheres que estavam no restaurante. Recebeu diversos olhares enquanto mexia em seu
celular, mas não correspondeu a nenhum, parecendo não ter consciência de quão atraente poderia ser. Ele era lindo, mas muito esquisito.

Fiquei desconfortável diante do silêncio e fitei o bloco de pedidos nas minhas mãos, tentando fugir dos seus olhos, que, aliás, nunca vira iguais. Eram de um tom forte de azul, que dava a sensação de mergulhar nas águas profundas
de um mar calmo. Uma contradição, porque calmo era tudo que esse homem
não parecia ser. Tinha uma espécie de confiança arrogante.

A garotinha continuou falando, mas eu estava tão nervosa que não compreendi nenhuma palavra. Não gostava de ser encarada assim. Eu me
acostumei a fugir de todos os olhares durante anos e, mesmo agora, qualquer um que me olhasse por mais tempo do que o necessário fazia meu coração acelerar de uma forma quase impossível de controlar.

— Você pode me trazer uma água sem gás, por favor?
Virei para a mulher que estava na frente dele enquanto ela fazia o pedido. Os cabelos eram castanhos, com algumas mechas claras. Os olhos esverdeados sobressaíam no rosto, que mais parecia de porcelana. Sacudi a cabeça, fazendo que sim, e caminhei em direção à cozinha.

— O que foi aquilo, jug? — ouvi a pergunta, e ele respondeu algo que não
consegui entender. — Você tava comendo a menina com os olhos.

Deus do céu! Será que a mulher achou que eu estava dando em cima do marido dela?
Óbvio, né, Elisabeth!
Suspirei, envergonhada, depositando a água e o copo na bandeja e me ajeitando para voltar à mesa. Queria dizer que não era nada do que ela estava pensando.Ele que me encarou primeiro, eu apenas olhei de volta, tentando entender por que me observava daquela maneira tão familiar, se nem ao menos me conhecia.

Uma súbita raiva surgiu dentro de mim. O cara estava sentado com a família — que mais parecia ter saído de um comercial de televisão, de tão linda — e mesmo assim não parava de me encarar. Assim que cheguei à mesa, tive certeza de que a mulher percebera os olhares dele em minha direção, pois o observava de um jeito estranho, desviando os olhos para mim logo em seguida. Mas entendi que ela era elegante demais para fazer um barraco no meio do restaurante.

Mesmo assim, também
não parecia o tipo de mulher que aceitava traição. Deu para ver nos olhos dela,pois em nenhum momento disfarçou que notara que o cara me olhava sem ao
menos se importar com a filha ao lado dele.
Idiota! Idiota! Idiota!
Em silêncio, enquanto deixava a água na frente dela, rezei para que não reclamasse com a gerência, ou eu seria demitida, e não podia me dar ao luxo de
perder o emprego.

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