capítulo 17

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Elisabeth

Eu o observei de longe...
Usava um terno escuro com uma camisa no mesmo tom. Somente a gravata era de um azul que se assemelhava à cor dos seus olhos. Meu Deus, como era
lindo! Sua beleza era única e, acompanhada de sua elegância, Jughead ficava ainda mais impressionante.

Vi quando passou pelas pessoas com uma pressa fora do normal. Mesmo assim, não deixou de chamar atenção, atraindo olhares, colhendo elogios. Mas ele, alheio a tudo isso, parecia desesperado, e isso me preocupou. Meu coração
batia acelerado enquanto meus olhos o seguiram até o restaurante. Ele entrou, olhou para todos os lados e pareceu decepcionado quando abaixou a cabeça e ficou parado por alguns segundos. Só levantou os olhos de novo quando Daniela falou com ele.

Ela sorriu. Claro que ela sorriu.
Mais Jughead não sorriu de volta. Depois de conversarem alguma coisa, ele saiu...
Senti vontade de ir atrás. Um desejo absurdo que me deixava apavorada.

Mesmo assim, ainda cogitava a ideia de ir até lá e dizer qualquer coisa. Eu nunca o agradecera o suficiente por aquele dia.Todas as vezes em que estivera no restaurante nas últimas semanas, eu tentara falar, mas as palavras sempre eram
escassas. No entanto, ele parecia me entender. No início, havia ficado com medo.

Ele sempre chegava no mesmo horário, sentava na mesma mesa, e sorria o mesmo sorriso. Sabia que estava indo lá por mim. Até comentários sobre isso eu ouvi. Fiquei assustada. Medo de ele estar se aproveitando de tudo que eu vivera para me machucar. Afinal, mulher gosta de sofrer, não é mesmo? Mas, no fundo,
algo dentro de mim dizia que ele tinha um bom coração, então comecei a sorrir de volta.

Quando passou de volta por mim, eu me escondi atrás de uma pilastra. Levei as mãos ao peito e o apertei com força, com a sensação de que meu coração queria saltar para fora. Tentei acalmar a respiração, procurando entender por que estava agindo daquela forma.
Meus olhos se inundaram de lágrimas.
Eu sabia o porquê.
Medo!

Jughead despertara algo em mim. Não sabia como e por quê, mas simplesmente não conseguia parar de pensar em uma vida diferente. Se fechasse os olhos, ainda podia sentir seu cheiro e ouvir sua voz dizendo que tudo ia ficar bem. Ele havia feito promessas que eu sabia que não poderia cumprir, mas Deus sabia o quanto meu coração machucado queria acreditar em cada palavra que ele dissera.

Uma vontade enorme de substituir a dor por algo
que me fizesse sorrir.
Cada vez que ele estivera no restaurante, cada sorriso que tinha me dado, cada promessa que me fizera acordaram uma parte de mim que havia muito adormecera. Quando o via lá, sentado, a única coisa que eu sentia era vontade de abraçá-lo como naquele dia na escola, porque havia sido o abraço mais acolhedor que eu recebera nos últimos anos.

Ainda sentia o seu calor… Suas palavras, a forma como me olhava, como se eu fosse tudo. Na hora, não havia percebido, mas sabia que ele fizera por mim o que mais ninguém fizera: ficara ao meu lado.

Mas eu já tinha vivido isso antes. Já tinha queimado de amor e me jogado em uma relação que apenas me deixara aos pedaços.
Eu era uma idiota, e cada lágrima que descia dos meus olhos confirmava
isso. Idiota!

Não podia ser verdade. Eu não podia… Não… A vontade era de gritar, porque eu apenas fechava os olhos e a primeira coisa que via era o sorriso dele.
Deus.
EU. NÃO. PODIA.
Havia um abismo separando nós dois. Mundos totalmente diferentes, que só haviam se cruzado porque ele estava acostumado a descer até o inferno.

Mas o contrário nunca aconteceria. Eu não sabia o que era estar no céu. Mesmo assim,
ainda pensava nele. Em como as coisas poderiam ser diferentes se…
NÃO!
Respirei fundo, tentando me acalmar e convencer meu coração de que não era nada daquilo. Repeti a frase em minha cabeça até que comecei a acreditar em minha própria mentira. Isso era fácil. Acreditar em mentiras era tudo que fizera nos últimos anos.
Você não pode pensar nele, Elisabeth.

O amor dói.
Machuca.
Destrói.
Você não pode amar.
Quando você tem um coração em ruínas, é fácil arrancar qualquer coisa boa que pode vir a crescer dentro dele. Senti-me decepcionada quando me dei conta de que minha vida se resumiria a isto: medo, chances perdidas e o passado
sempre voltando à tona. Uma coisa que aprendera com a dor é que você acabava se acostumando. No fim, Dennis tirara até a capacidade que eu tinha de sentir.

Estava anestesiada. Corpo e alma ainda perdidos naqueles malditos momentos. Não podia ir até Jughead ou qualquer outra pessoa sem antes descobrir como voltar a viver. E eu tinha que fazer isso sozinha. Por mim. Ninguém podia me
curar quando nem eu sabia onde realmente doía.

Fui até o restaurante e Daniela sorriu agradecida assim que me aproximei.
— Vim pegar algumas coisas que deixei aqui — avisei.
Seus olhos me encararam como se eu fosse sua salvadora.
— Muito obrigada de novo, Elisabeth.
— Já disse que não tem por que agradecer.
— Tem sim — suspirou. — Esse emprego vai salvar a minha vida. Segurei sua mão.
— Espero que sim.

Sabia muito bem do que ela estava falando. Conhecera Dani em uma das reuniões que frequentara depois que tudo acontecera. Ela estava tentando largar o namorado abusivo havia alguns meses, mas ainda não sabia como
conseguir sua independência.

Quando decidi pedir demissão, ela foi a primeira pessoa em que pensei para me substituir, e fiquei muito feliz quando a gerência aceitou a sugestão.
Sorri, acenando com a cabeça, e passei por ela, mas parei depois de alguns passos.

— Dani? — Ela virou para mim quando a chamei. — O que aquele moço queria?
Ouvi um longo suspiro apaixonado, e sua reação queimou alguma coisa dentro de mim. Seus olhos brilharam e, por um instante, ela pareceu apenas uma menina sonhando com um príncipe encantado.

— Ele queria brigadeiros — respondeu, e eu recuei, como se algo tivesse me atingido em cheio. Meu coração parou por alguns segundos e tive vontade de chorar e sorrir ao mesmo tempo.
Não. Ele não queria brigadeiros.

Muito além do AmorWhere stories live. Discover now