capítulo 4

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Jughead

Na minha frente estavam sete jurados. Homens e mulheres que eu nunca vira na vida e que poderiam decidir o futuro de várias pessoas. Do réu, de uma
de suas vítimas, e das famílias de todos os envolvidos. Pessoas comuns, com
uma responsabilidade incomum: tinham a vida de alguém nas mãos.

Olhei para eles e, por longos segundos, encarei um a um. Se havia aprendido uma coisa com meu irmão era que a maioria das pessoas acreditava no que seus
olhos diziam, por isso comecei minhas alegações finais buscando os daqueles
que eu precisava convencer com a minha verdade.
Observei cada um deles. Esperei que vissem estampada em minha face a
veracidade de tudo que defendera durante o dia. Rezei para que o amor tocasse seus corações e a justiça fosse feita. Desejei que olhassem no fundo dos meus
olhos e acreditassem que as minhas palavras eram as únicas que realmente
mereciam ser ouvidas.

Que o réu cometera o crime, era inquestionável. Mas a defesa ardilosamente tentara desconstruir a moral de uma das vítimas, jogando para ela a responsabilidade dos atos dele. Segundo eles, tudo acontecera porque a menina provocara o ex-namorado ao iniciar um novo relacionamento com um de seus amigos. Vinícius foi morto na frente da namorada, na porta da faculdade onde estudavam, quando levou o tiro que era direcionado a ela.

Um crime tão bárbaro quanto a justificativa absurda. Não conseguia acreditar que alguém
pudesse usar um sentimento tão nobre quanto o amor para justificar atos tão brutais quanto o daquele fatídico dia.

Com o microfone nas mãos, continuei olhando diretamente para os jurados e mantive uma postura segura, de quem sabia o que estava prestes a dizer. E eu estava. Não brincava com o destino de ninguém. Era para isso que me preparara: para que a justiça fosse feita. Respirei fundo, certificando-me de que a voz sairia com a entonação perfeita.

- Senhoras e senhores, vocês presenciaram um embate durante todo o dia de hoje. De um lado, a justiça, lutando para ser cumprida. Do outro, um jovem
desprovido de todo e qualquer tipo de sentimento, tentando alegar que tudo vale em nome do amor. Eu acredito no amor, e como acredito. E é por crer nessesentimento tão nobre que me recuso a aceitar que um jovem de apenas vinte anos tenha tido seus sonhos destruídos em nome dele. É por acreditar nesse sentimento que bate em meu peito que luto para que casos como esse se tornem inadmissíveis. O amor não causa dor. Não machuca. Não destrói. Não mata. "Este jovem que se apresenta perante a sociedade hoje planejou friamente o assassinato de sua ex-namorada. Foi atrás dela com o único intuito de tirar sua vida, que, felizmente ou infelizmente, foi protegida por Vinícius, que hoje não está aqui. Um rapaz que não teve o direito de viver esse amor e que pagou um preço alto demais por seguir o coração. E é por isso que peço a vocês hoje, senhores, que pensem em suas filhas, mães, amigas ou em vocês mesmas. Permitir que a mulher continue sendo tratada como objeto e propriedade é permitir que a sociedade regrida a tempos obscuros. Hoje poderíamos estar julgando o assassinato de Beatriz, mas, devido a um ato heroico de alguém que conhecia o verdadeiro significado do amor, podemos vê-la sentada aqui, assistindo a esse julgamento. Vinícius foi morto a sangue-frio enquanto defendia a namorada, e o único culpado por esse ato monstruoso está aqui, apenas esperando a decisão de vocês para que possa pagar pelo crime que
cometeu."

Os jurados me encararam com atenção e alguns com expressões indecifráveis, mas não havia mais nada que pudesse ser feito. Dera tudo de mim,
e esperava que aquelas pessoas fizessem o mesmo. Voltei para o meu lugar e guardei todos os documentos que levara comigo.

Muito além do AmorWhere stories live. Discover now