capítulo 13

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Jughead

Por mais que Manuela estivesse disposta a organizar o jantar, eu não cometeria a loucura de deixar aquelas duas mexendo na comida que eu serviria a Sofie. Do jeito que elas estavam lidando com a volta da minha ex-namorada,era bem capaz de um vidro de laxante virar molho para o carré que fora
preparado especialmente para a noite.

—Eu disse que já está tudo pronto. Vocês duas alguma vez vão me escutar?
—Foi você quem cozinhou?—perguntou Clara, abrindo a tampa da panela sobre o fogão, sentindo o aroma que saía dela e ignorando completamente minha pergunta.

—Parece bom. Aliás, esse cheiro é meio conhecido.
—Marta veio aqui hoje.
—Sabia—disse com entusiasmo e sorrindo, ao sedar conta de que estava certa. —Sempre soube que você queria roubá-la de mim.
— É só às vezes— respondi, e daquela vez não me senti nem um pouco culpado pela cozinheira de anos do meu irmão vir me visitar de vez em quando. Ela era maravilhosa.

Tentei ignorar Clara, mas era impossível, pois ela era um furacão ambulante. Aliás, meu apartamento parecia ter sido tomado por furacões e tornados. Manu fazia o mesmo que a amiga, abrindo tampa por tampa, não deixando nada intacto e fazendo algumas caretas enquanto isso. Eu devia ter feito algo de muito errado no passado para ter duas ciumentas no meu pé. Clara fez bico, como se não fosse culpada de nada.

—Alexandre…—gritei.
— Não tenho nada com isso— respondeu ele, ignorando meu pedido de socorro.—E medá logo uma cerveja. —Valeu, mano—agradeci com sarcasmo, dando ênfase ao fato de que meu
irmão me abandonara.
Ele sorriu, dando de ombros.
—Às ordens.

Fui até a geladeira, passando por Manuela e Clara, que agora conversavam entre si, peguei uma cerveja, bom além de uma garrafinha de água. Joguei along neck para o meu irmão, errando sua cabeça apenas por que isso estragaria a noite, e entreguei a água nas mãos do Dereck.

—Valeu,bro.—Alexandre arregalou os olhos na direção dele e eu entendi o que se passava por sua cabeça.  Acho que Dereck também, pois logo emendou.—Relaxa, cara, já faz muito tempo.

Meu irmão assentiu, abriu a garrafa e sorveu um gole da bebida. Ainda parecia envergonhado por beber álcool na frente de um dependente químico. Dereck, por sua vez, não se importava nem um pouco, os olhos vidrados na cozinha, onde Manuela estava, a única que tinha sua atenção por completo.

Observei os dois e sorri. Muitas vezes o destino era algo que não podíamos cultivar, esperando colher exatamente aquilo que plantáramos. Ele era folha ao
vento. Não sabia aonde ia parar e muito menos o que encontraria no caminho. Ele apenas seguia. Em geral, as pessoas não concordavam comigo, mas
acreditava que, quando tinha que acontecer, acontecia. E fora assim com Manuela e Dereck. No meio do caminho, eles haviam sido pegos de surpresa pelo destino.
Sabendo que não havia mais nada a ser feito, pegueia louça e os talheres e entreguei nas mãos de Manuela.

— A mesa é sua.— Ela não ficou muito satisfeita e eu a olhei sem muita piedade.—O que foi?Não queria ajudar?—Manu me deu um sorriso forçado e começou a pôr a mesa. Clara inventou uma desculpa do tipo estou grávida e
cansada e foi sentar aolado de Alexandre. Ela era bem dissimulada,isso sim.
Nem barriga a peste ostentava. Realmente…

Ali estava a outra metade do meu
irmão.Certinho! Quinze minutos depois, tudo estava pronto e, por incrível que pudesse parecer, não me sentia nervoso. E isso me incomodava. Não agia como um cara que estava prestes a apresentar alguém importante para a família.  Meu coração
batia no mesmo ritmo e minhas mãos não suavam. Não estava com um nó na garganta e com medo de dizer alguma coisa errada. Não!Eu estava…normal.

Ontem tudo havia sido diferente.
A voz dentro da minha cabeça, que insistia em não se calar, mais uma vez deu o ar de sua graça. Mesmo eu querendo que ela simplesmente desaparecesse, porque era inimaginável continuar pensando nela.

Muito além do AmorWhere stories live. Discover now