capítulo 18

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QUATRO MESES DEPOIS…

Jughead

Olhava para a mulher sentada na minha frente e, enquanto ela despejava todas as suas angústias, eu só conseguia pensar que, naquele caso, não podia fazer nada. Não podia tirar das drogas seu filho adolescente. Não podia trazer a paz de volta para a sua família. Não podia afastá-lo da morte iminente e do horror que é viver como um fantasma, vagando sobre a terra em busca de um prazer mortal.

Ela secou as lágrimas que rolavam pela face e respirou fundo, a voz ainda tremendo, mas confiante de que eu podia fazer alguma coisa.
— O senhor é minha última esperança, dr. Jughead. Não sei mais o que fazer. Ele levou tudo que eu tinha em casa. Não posso comer porque até o pacote de arroz que tinha sobrado ele tirou de mim. Botijão, panelas, televisão… Um dia eu cheguei do trabalho e minha cama não estava mais lá — sussurrou, e senti vontade de abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, mas não o fiz. A última vez que abraçara alguém, ela levara meu coração.

— Posso tentar conseguir algumas doações para a senhora — propus, mas ela balançou a cabeça em negativa, e depois sorriu. Um riso triste e derrotado. — O senhor não entende. Prefiro dormir no chão e comer em botecos do que
ajudar a sustentar o vício dele. Por isso prefiro uma casa vazia, de onde ele não possa levar mais nada.

O que via era o desespero de uma mãe que sabia não ser capaz de fazer nada, mesmo que lutasse todas as batalhas para isso. Quando alguém entrava no mundo das drogas, ele não destruía apenas sua
vida. Sua família desmoronava sem ninguém nunca ter posto um cigarro na boca. Aquela mãe estava tão magra quanto o filho, mesmo sem nunca ter
cheirado cocaína. O pai estava destruído, e ele nunca experimentara ecstasy. A irmã estava perdida, mesmo que nunca tivesse tocado em heroína. O corpo que usava era o dele, mas todos à sua volta sofriam as consequências junto.

— Vamos tentar uma internação, dona Elisa. É difícil, ainda mais na idade dele. Precisamos de todo o apoio da família, e mesmo que vocês estejam cansados, é necessário que sejam fortes mais uma vez. Não adianta nada
interná-lo em uma clínica sozinho e sem o apoio de todos. Vai por mim, sem
família é muito mais difícil.

Ela sorriu em meio a mais lágrimas que desciam pelo rosto, uma atrás da outra. Lágrimas de esperança, de alívio. Lágrimas de alguém que enxergou uma luz no fim do túnel. Levantei e ela fez o mesmo. Ia pedir para que falasse com o Fabrício, mas ela
me impediu, vindo até mim.

— Posso te dar um abraço, doutor?
— Claro.
Ela se aproximou e me envolveu em seus braços.
— Que Deus te abençoe e cuide do seu coração. Quando se afastou, eu a olhei nos olhos.
— Só fiz o meu trabalho.
— Não — balançou a cabeça —, o amor nos teus olhos não faz parte da tua profissão. Faz parte de quem o senhor é. — Respirou fundo antes de continuar.

— Dr. Jughead, nós vamos te apoiar, mas saiba que eu também entregaria ele pra
vocês. Lutarei por meu menino, mas se ele desviar ainda mais do caminho, vou rasgar meu coração, mas vou entregar ele pra vocês.

Assenti, sabendo o que ela queria dizer. Nem todas as famílias eram assim, conscientes do que deviam fazer. Muitas escolhiam mergulhar em uma falsa ignorância e fingir que nada estava acontecendo. Mas estava. E precisávamos falar sobre drogas, ou um dia elas nos destruiriam.

Expliquei para dona Elisa quais seriam os próximos passos e a encaminhei para a sala do Fabrício. Ele a recebeu com a competência de sempre, e voltei
para minha sala sabendo que fizera o que estava ao meu alcance. Sol apareceu logo depois que sentei, ainda pensando no filho da dona Elisa.
Onde ele estaria agora?

Muito além do AmorWhere stories live. Discover now