capítulo 16

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Jughead

Nunca, em toda a minha vida, fora tão irresponsável quanto havia sido na última semana. Quando acordei e abri os olhos no dia seguinte, tive certeza de
que alguma coisa de muito errado estava acontecendo comigo. Como podia ter
sido tão impulsivo?

Não tinha que ter ido atrás dela.
Não tinha que ter dado carona a ela.
Não tinha que ter feito nada daquilo.
Não tinha.
Mas havia feito.
E faria tudo de novo.

Havia feito e estava fodido por isso. Porque agora não parava de pensar no seu cheiro, em seus olhos, nas lágrimas, no sorriso triste, na voz desesperada…
Tudo! Elisabeth se apossara da minha mente e eu não poderia estar mais ferrado.

Almoçara no restaurante a semana toda. Ela me atendia quase sempre, e quando não o fazia, eu a olhava de longe, com a certeza de que estava
consciente dos meus olhos sobre ela. Todas as vezes perguntava como ela estava, e Elisabeth respondia com um sorriso no rosto e tristeza no olhar que tudo ia bem. Me agradecera mais de uma vez pelo que havia feito naquele dia, e eu
me certificara de prometer que faria de tudo para pôr o desgraçado na cadeia.

No fim, saía de lá com um sorriso no rosto e uma embalagem de brigadeiros nas mãos. Nos últimos dias,ela nem perguntava mais se eu queria a sobremesa,
apenas trazia, e eu aceitava.
Durante muitas noites,imaginara como seria se as circunstâncias fossem diferentes.

Talvez eu a visse naquele restaurante, sorrisse para ela, e ela sorriria de volta. Levaria alguns dias para demonstrar interesse, e com certeza eu
jogaria uma indireta ou diria o quanto o sorriso dela era lindo. Iria elogiar seus brigadeiros, mas também diria que a dona deles era quem realmente me
interessava. Eu a convidaria para um cinema, ou jantar. Passaria a noite elogiando sua beleza e simplicidade. E a beijaria antes de o filme acabar,
ignorando os créditos subindo na tela, porque o gosto dela seria tão maravilhoso que me faria esquecer qualquer coisa à nossa volta.

Mas isso não iria acontecer.
Porque eu era um promotor e ela a vítima de um dos monstros que eu lutava para pôr na cadeia.
Eu tentava trazer pessoas como ela de volta à vida, mas não era essa a sensação que tinha quando estávamos no mesmo lugar. Seu sorriso era capaz de
queimar tudo dentro de mim, me fazendo consciente de cada grama de ar que entrava em meus pulmões.

Eu me apaixonara por uma mulher que tinha todos os motivos para odiar o amor.
Não sabia o que era mais terrível naquela afirmação. O fato de pensar que estava apaixonado, ou o de ter certeza de que meu coração iria se partir mais
cedo ou mais tarde.

Era sexta à noite e conseguira ignorar ligações e mensagens de todos que tentavam sugerir que eu não ficasse em casa no fim de semana. Engraçado isso:
conseguia me afastar de tudo, menos das lembranças que sempre me levavam de volta para ela.

— É melhor parar por aqui — murmurei, enquanto caminhava até a cozinha. Servi um copo de uísque e levei alguns segundos para decidir se beberia ou não.
Resolvi que seria bom para relaxar, ainda mais depois de uma semana de cão, em que passara quase três dias em um júri popular.

Quinze minutos e três doses depois, abri a porta para o meu irmão, que resolvera aparecer de surpresa. Torci para que Clara não estivesse com ele, pois
não conseguiria esconder nada dela, e era provável que desabafasse toda uma história que sequer poderia ser contada. Clara enxergava lá no fundo, e eu
sempre me perguntava se isso era um grande defeito meu: deixar as pessoas entrarem fácil demais.

Acreditar mesmo quando o universo dizia que ia dar
merda. Alexandre afrouxou a gravata assim que pôs os pés na sala, jogou o paletó no sofá e caiu ao meu lado. Eu vestia calça de moletom e camiseta branca e, naquele momento, nem parecíamos irmãos.

Muito além do AmorWhere stories live. Discover now