Mal processei as palavras que ela dizia. Elisabeth se afastou assim que Clara chegou, e eu me senti mal por ela ter ido para longe. Queria falar mais com ela.
Desejava mais dela. Qualquer coisa que pudesse me dar seria o suficiente para matar a saudade que crescera dentro de mim.

— Aquele dia realmente foi memorável. — Clara continuava falando, como se uma lembrança surgisse em sua mente. — Jughead, você está me ouvindo?
— Aham.
— Olha lá, a Vitória acabou de se pendurar do lado de fora da janela. — Que bom.— Jughead! — gritou ela. — A Vitória o quê? — Foi minha vez de gritar, enquanto meus olhos procuravam a janela. Meu coração só se acalmou quando vi minha sobrinha sentada no chão, abrindo um presente.
Fuzilei Clara com o olhar.
Ela deu de ombros.

— Você não estava me ouvindo.
— Precisa enfiar minha princesa no meio? Ela deu de ombros outra vez. Que diabos!
— Se ela não chamasse sua atenção, mais ninguém faria. Quer dizer… — murmurou, olhando para a mesa de doces. — Acho que só a docinho ali seria capaz de tal proeza, não é mesmo?

Pigarreei.
Ajeitei o chapéu na cabeça e virei as costas. As coisas com Elisabeth já eram difíceis por si só. Não havia nenhuma necessidade de Clara se meter e torná-las ainda piores.

— Não faço a menor ideia do que você tá falando — disse, com falsidade. Clara me seguiu, parando na minha frente.
— Você é um péssimo mentiroso, Jughead Jones. — Sorriu e me deixou seguir, ficando para trás, mas ainda ouvi sua voz murmurar algo como
eu estava certa. Tinha até medo de perguntar do que falava, então apenas continuei caminhando.

Tinha tudo para me distrair naquela festa. Todos pegavam no meu pé pela minha fantasia — menos minha mãe. Santa mãezinha. A conversa alternava
entre assuntos jurídicos, shows de rock, prédios em construção, cirurgias de emergência, crianças, partos… Mas eu não prestava atenção em nada do que eles falavam. Vitória me puxava para dançar com ela de vez em quando, e esse era o tempo que usava para procurar Elisabeth.

Quando meus olhos a
encontravam, era inevitável sorrir como um adolescente apaixonado. Ela, por sua vez, apenas baixava a cabeça e seguia mexendo em qualquer outra coisa. Não me importava. Eu conhecia todos os seus medos, mas agora também sabia de suas conquistas. E a admirava cada vez mais.

Deixei Vitória mais uma vez e decidi ir até ela, mas me interceptaram no meio do caminho. Alexandre apenas sacudiu a cabeça, mostrando um canto afastado do salão.
Olhei para trás, vi Elisabeth, mas acabei seguindo meu irmão.

— Posso saber o que aquela garota está fazendo aqui?
— Não entendi.
— A vítima daquele caso — esclareceu.
— Qual caso? — perguntei entre dentes.
— Não se faça de desentendido, moleque. Você sabe muito de quem estou falando.
— Eu sei muito bem de quem você está falando — repeti. — Só não sei por que você está falando.

Alexandre estava irritado. Os olhos semicerraram e as sobrancelhas se juntaram no meio da testa, como de costume.

— Quero saber como essa garota veio parar dentro da minha casa, junto da minha família? A raiva dele já estava me contagiando.
— Foi sua mulher que trouxe aquela garota. Nem sabia que a Elisabeth estaria aqui. Agora o que eu não entendo é por que você está agindo como um babaca — rebati, alterando a voz, mas ainda falando no mesmo volume. Ele passou a mão pelos cabelos, dando as costas para mim e voltando a me encarar logo em seguida.
— Eles voltam, Jughead. Você sabe que voltam. E eu não quero minha família, e isso incluiu você, nesse fogo cruzado. Sei que a garota não tem nada com isso,
mas se aquele desgraçado chegar perto de um de vocês…

Muito além do AmorWhere stories live. Discover now