s i x t y t h r e e

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Ela demora para virar a cabeça em minha direção, os lábios tremendo, por mais que faça um esforço tremendo para controlá-los. E até que ela consegue. Essa menina deveria ganhar um prêmio por tamanha facilidade em se mascarar. O quanto será que ela já deve ter sofrido sozinha até aprender a ficar tão boa nisso?

Lara engole em seco antes de falar.

— Eu... não consegui. — Sua voz parece a de uma criança acuada. — Ela foi meio cruel comigo. E o pior é que eu acho que ela tinha razão. Sobre tudo.

Lara solta um soluço baixo, mordendo os lábios.

— Como assim... sobre tudo? O que ela te disse, Lara?

Confesso que fico com receio de perguntar qualquer coisa que seja e deixá-la pior, mas eu preciso saber.

Ela não me olha quando começa a explicar, como se me encarar fosse vergonhoso demais. Sei que não está dando tantos detalhes, mas já é o suficiente para que eu sinta algo estranho se apossar do meu corpo conforme Lara fala. E é raiva. Raiva de Ellen Becker. Muita raiva.

Quando ela finalmente termina, me viro para Lara no banco do carro, sentindo uma vontade imensa de abraçá-la.

— Olha, você não precisa passar por essas coisas sozinha. Não mais. — Noto o olhar dela virando-se para mim devagar, claramente curiosa com o que eu vou dizer. — Me desculpa por te fazer falar com ela. Eu pensei... que ia dar certo. Mas, se você quiser, podemos passar por isso juntos. Não precisa mais enfrentar isso sozinha, Lara. Agora você tem uma gangue.

Abro um sorriso cúmplice, tentando amenizar a situação. Porém, ao contrário do que eu pensava, Lara não melhora a expressão. Apenas nega com a cabeça, fechando os olhos por um instante. Não entendo se ela está com medo ou algo assim, até que diga alguma coisa.

— Não dá, Logan... mesmo que eu queira. — Sua voz treme tanto que sinto vontade de calá-la, de dizer que tá tudo bem. Mas não o faço. Não porque Lara continua: — Era... isso que meu pai fazia. Sempre me defendia da minha mãe. Lidava com as partes difíceis por mim. E agora eu preciso... aprender a fazer isso sozinha.

Fico sério ao olhá-la nos olhos, um braço apoiado no volante. Tento entender o que ela quis dizer, mas tenho um pouco de dificuldade. Eu não vejo problemas em aceitar ajuda, não entendo por que Lara quer tanto fazer as coisas sozinha. Talvez por querer uma independência que nunca teve? Ainda assim, uma parte de mim se magoa com a decisão dela; por mais que eu saiba que tenho que respeitá-la.

— Tá, eu entendo. Mas posso te ajudar com alguns conselhos, se quiser. Do que fazer.

Ela assente, os olhos colados na vista lá fora. Não sei exatamente o motivo, mas isso me preocupa. Trás uma estranha sensação ruim.

— Acho que... vou falar disso na terapia. Deve ser o único jeito de mudar alguma coisa. Preciso tentar.

Concordo com a cabeça.

— Sim. É uma boa ideia.

Um silêncio surge, e eu não sei se Lara ainda quer que eu a leve daqui. Continuamos estacionados em frente à sua casa, e, embora eu saiba que Lara não quer ver a mãe, ela não parece mais ansiosa para ir embora. Percebo tarde demais que aquela conversa pode tê-la afetado mais do que eu pensava.

Meu celular vibra de novo, e aproveito para deixar Lara pensar um pouco conforme espio a tela.

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Amor VirtualWhere stories live. Discover now