CAPÍTULO 75

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Era apenas mais um dia de aparência sinistra nas terras de Lacoresh. Dois aliados improváveis subiam as encostas do planalto de Or, buscando penetrar a floresta mística de Shind. O jovem Calisto, promessa entre os nobres do novo reinado de Lacoresh e o experiente Vekkardi, último discípulo do silfo Modevarsh.

Pouco tempo depois, caminhavam pelos caminhos sombrios de Shind. Não conversavam muito, desde que deixaram as terras de Calisto na noite anterior. O ar estava fresco e úmido e havia uma espessa camada de folhas caídas e molhadas no chão.

– Então você acha que este lugar está mais sinistro, não é? – indagou Calisto.

– Obviamente está lendo meus pensamentos. Eu preciso dizer alguma coisa, ou vai continuar? – Vekkardi deu com os ombros.

– Se quiser... – Calisto sorria, mas Vekkardi resolveu falar.

– Há muitos anos atrás fiz uma visita a este local. Era mais claro, tinha cores vibrantes e ares leves.

– Eu vi. Então você está preocupado com Elser? Com o que pode fazer conosco, já que estamos em suas terras. Não é?

– Para que o diálogo? Simplesmente continue lendo minha mente.

– É chato... É mais interessante perceber como você fica incomodado na medida que digo o que estou percebendo.

Após um breve silêncio, Calisto disse, – Não se preocupe, Elser me deve sua vida. Ele vai nos ajudar. E sim, acredito que podemos confiar num silfo do mar.

Caminharam por mais algum tempo até chegarem nas proximidades de riacho no qual beberam água e encheram seus odres. A água estava gelada e atravessá-la foi um sofrimento para Calisto. E como todos seus sofrimentos, este foi subjugado por sua sede de poder.

Um zumbido preencheu os ouvidos do jovem lorde. – Você está escutando isso Vekkardi?

– Claro, não leu minha mente? – replicou sarcástico.

– Isso pode ser ruim.

O zumbido que ouviam aumentou e foi interrompido com o brilho azulado e intenso. Escutaram sons de galhos sendo quebrados e em seguida surgiu uma criatura que avançava com ferocidade. Não era animal ou monstro, mas sim um ente vegetal, formado por troncos escuros e retorcidos, a enorme árvore caminhava a passos largos, com longos braços de galha seca, sem folhas.

O estrondo do tapa violento que atingiu o solo no ponto em que estava Vekkardi acelerou o coração de Calisto. Vekkardi escapara saltando em direção à criatura no último momento.

Aproveitando-se da oportunidade, o jovem de olhos negros desferiu um ataque mental contra a criatura. Usava todas suas forças, porém, não parecia surtir efeito, exceto enfurecê-la. E foi um chute furioso que arremessou Calisto à distância como se fosse uma pequena pedra. Cair na água gelada fez com que despertasse, pois perdera por um momento seus sentidos.

Vekkardi não conseguia pensar numa forma de deter o ente e saltava para salvar sua vida. Quando Calisto emergiu, colocando-se para fora do rio cuspia bolas de sangue. Parecia ter fraturado uma costela e sentia uma forte dor aguda no peito. O gosto de sangue deixava-o cego com ira imprudente e neste espírito avançou para a criatura gritando.

A grande árvore negra, seca pelo ódio e contorcida pela loucura parou por um instante calculando o golpe fatal que daria no nanico que se aproximava esbravejante. Antes de liberar o golpe fatal, surpreendeu-se pela explosão que engolfou seu tronco em chamas. As chamas eram intensas e logo se espalharam por seus braços e pelos galhos mais finos acima de sua cabeça. O horror de queimar fez com que o ente se esquecesse de seus pequenos oponentes correndo para atirar-se no rio.

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now