CAPÍTULO 23

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Vekkardi estava pensativo. Tinha que encontrar um meio de reverter a situação de seu irmão. Sem conseguir dormir, resolveu juntar-se às pessoas no andar de baixo. O salão da estalagem era aconchegante e muitas pessoas bebiam e comiam. Havia um clima alegre no ar e dois músicos tocavam uma bela melodia. Uma flauta cujo som lembrava o vento e um belo alaúde de cordas duplas. Era uma melodia alegre.

Escutá-la fez bem para seus ouvidos e para sua mente perturbada. Quase lhe proporcionou certo relaxamento. Sentou-se a uma mesa vazia e logo uma moça trajando um vestido cinza bastante simples, aproximou-se para perguntar-lhe o que desejava. Pediu um copo de vinho e pão de frutas.

Observava as pessoas conversando animadas, mas algumas tinham olhares reservados e desconfiados. Houve certa movimentação e olhares em direção à entrada da estalagem. Vekkardi seguiu os olhares para encarar olhos que cortavam o ar em seu caminho. Os bigodes grandes e negros do homem, vestido como um oficial da milícia local, desciam até o queixo. Estava acompanhado de dois guardas da região e dois soldados das bandas de Lacoresh.

O oficial de olhar frio dirigiu-se diretamente para a mesa de Vekkardi, que tinha cinco lugares vagos.

– Boa noite. – disse com polidez. – Está esperando por alguém?

Vekkardi respondeu, – Não senhor, estou só.

– Não se incomoda se eu e meus homens ficarmos com sua mesa.

Vekkardi estava bastante calmo e sentia um tom de ameaça na voz do oficial. – Não. Estou tomando muito espaço... – fez menção de levantar-se e foi interrompido.

– Fique sentado. Nunca quis ficar com sua mesa, apenas juntar-me a você.

– Neste caso, perdoe-me o mal entendido. Sinto-me honrado em compartilhar a mesa convosco.

O oficial fez um sinal com a cabeça chamando seus subalternos para a mesa. Os músicos fizeram uma pequena pausa, e todos olhavam para a mesa com o canto dos olhos. Certo silêncio tomou o lugar.

O oficial disse em alto e bom tom – Fico feliz pela calorosa recepção. – Encarou os músicos com olhar penetrante de seus olhos escuros e ordenou, – Música, por favor!

Pouco depois o clima voltou a ficar descontraído, mas não como antes. As pessoas agiam como se estivessem com medo e falavam mais baixo, expressavam menos alegria.

– Meu nome é Weimart, Comandante Weimart. E o seu forasteiro?

– Sou Vekkardi.

– Vekkardi, que nome incomum... – Ao ver um de seus homens beliscar a moça que veio tomar os pedidos, Weimart explodiu. – Guarda! Dê-se o respeito! Como ousa agir dessa maneira na frente de seu superior.

O guarda assustou-se e gaguejando mal pode pedir desculpas.

– Perdoe-me quanto a isso – Weimart indicou o soldado que mantinha a cabeça baixa.

– Sem problemas... – disse Vekkardi.

– Pois então senhor Vekkardi, o que o traz a um lugar como Audilha.

Desde que vira o oficial entrar na estalagem, Vekkardi tentava pensar em algo para lhe dizer caso fosse interrogado. Com a pressão e seqüência dos acontecimentos ficava mais difícil forjar uma história. – Vim ver um amigo.

– Ah, uma visita! Perdoe-me perguntar, mas entenda é o meu trabalho. Como se chama esse amigo seu?

Vekkardi sentia que sua história não poderia ir muito longe e sentiu um frio no estômago. Um grito arrastado lhe comprara algum tempo. Viu alguém sendo agarrado na mesa ao lado. Um homem com o nariz avermelhado que estava embriagado.

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now