CAPÍTULO 32

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A estadia de Lorde Calisto no castelo do Rei Maurícius chegava ao fim. Saía de Lacoresh, levando consigo uma série de conquistas. Entre elas o afeto e amizade da Rainha Alena. Suas visitas às ruas de Lacoresh, produziram duas carroças cheias de bens que levava para sua nova propriedade juntamente com os presentes recebidos. Além disso, novos colaboradores. Alguns cedidos e oferecidos, como os criados e soldados. Outros contratados por ele pessoalmente.

Não recusava servos oferecidos por outros nobres, mas não confiaria neles demais. Sentia que era uma forma de ser observado pelos antigos senhores destes, e não gostava muito da sensação de estar rodeado por estranhos todo tempo. Hora, o cavaleiro Derek a serviço do Barão de Fannel, hora o terrível Barão Dagon, servo do príncipe Serin. Teria de contratar e ter alguns empregados de sua confiança sem ligação com algum nobre, membro do clero, ou necromante.

Assim, contratou um ladrão de carteiras chamado Rayan, habilidoso em lidar com a parte mais suja da sociedade. Nada confiável, mas muito perspicaz. No último dia, com um pequeno suborno, conseguiu adquirir entre os prisioneiros das masmorras de Lacoresh, um silfo do mar chamado Elser, preso por vários delitos, incluindo assassinato e que seria executado em poucos dias.

Contente com a guinada que teve em sua vida, chegou à sua propriedade, escoltado por um oficial do reino, que lhe mostrava no mapa as delimitações de suas posses. Passara por duas das três principais vilas, Hemna e Wuri. Hemna não passava de um aglomerado de casebres miseráveis, nos quais residiam agricultores muito pobres. E Wuri era uma vila maior. Tinha algumas casas de pedra, pequenos mercados e oficinas. Criavam-se pequenos animais em vários cercados nos arredores de Wuri. A casa de Calisto ficava próxima à vila, no alto de uma colina à leste da estrada que levava a Tanir, uma vila de porte semelhante a Wuri que ficava fora da propriedade de Calisto, pertencendo ao Duque de Kamanesh. A leste da colina, o rio Montiguá, o mesmo que cruza a cidades de Kamanesh e Lacoresh, podia ser avistado. Do mesmo ponto, era possível ver a trilha que levava à vila de Situr, de agricultores e pescadores onde também havia um pequeno porto. Situr era menor que Wuri, mas um pouco mais desenvolvida, por ser um ponto de parada da rota comercial fluvial entre Kamanesh e Lacoresh.

A casa da colina, novo lar de Calisto, deixou-o um pouco decepcionado. Não era grande, e tão pouco fortificada. O oficial lhe explicou, que no passado pertencera ao bisavô do duque de Kamanesh que a utilizava para descansar durante o verão. Como o velho duque gostava de cavalos e de cavalgar, a construção que chamava mais atenção era o estábulo. Contou-lhe também, que após um acidente com um dos filhos, o velho duque perdeu o gosto pela propriedade, que ficou quase abandonada desde então.

Havia uma dezena de homens efetuando reparos na casa quando Calisto chegou, e fez com que todos parassem o trabalho para recebê-lo, com curiosidade. O rapaz não foi muito amistoso, tão pouco distante. Era gente simples vinda da vila Situr, a leste.

O interior era espaçoso, porém tinha cheiro de mofo e precisava de muita limpeza. Os criados que trouxe, vindos do castelo de Lacoresh, eram habilidosos e em dois dias deixaram o local habitável. Era um casarão de três andares, construído, parcialmente de madeira e parcialmente de pedra. Custava a acostumar-se com os degraus que rangiam e janelas frouxas que se debatiam, em especial, nas noites quando o vento era mais intenso e assobiante. Havia mobília antiga, e o novo senhor arrependeu-se de não ter tido a chance de trazer mais bens de Lacoresh para tornar a casa habitável.

Durante esses primeiros dias, Calisto permanecia calado, quase todo tempo, apenas concordando com acenos, quando questionado sobre a maneira de consertar ou como ele preferia que móveis e quartos fossem organizados.

No primeiro dia, recebera a visita dos prefeitos de Wuri e Situr. Ambos ofereceram apoio na reforma da casa e já no terceiro dia, quando recebeu uma interessante visita, a lugar parecia-se com uma habitação de um legítimo nobre.

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now