CAPÍTULO 9

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Finalmente, Kamanesh! Calisto estava ansioso por chegar a uma cidade de verdade. Era bem maior do que esperava, havia casas e construções de madeira e pedra que chagavam a ter três andares, torres ocasionais com o dobro da altura, e raras com o triplo! Detalhes geométricos esculpidos em nas paredes de algumas das contruções, em outras haviam colunas trabalhadas, e estátuas decorativas. As ruas eram calçadas de forma que não levantavam poeira ao cavalgar por ali. Apesar da excitação da descoberta, o menino sentia um mal estar devido a, um zumbido constante que o incomodava. Derek lhe disse que não havia escutado zumbido algum.

– Falta pouco senhor Calisto. Passaremos pela Praça da Meia-lua e então chegaremos à catedral de Kamanesh.

– Praça de Meia-lua? – perguntou o rapaz com expressão amarga, certamente devido ao incômodo que sentia.

– Sim, a grande praça que fica próxima ao porto, lá é o principal mercado da cidade.

Calisto olhava para os homens e mulheres que ocasionalmente encontravam no caminho. Eram desprezíveis! Olhavam-no com temor. Isso era bom, gostava de ser temido.

O zumbido na mente do rapaz começou a aumentar, deixando-o zonzo. Logo segiu-se um enjôo. Como se estivesse rompendo um limiar, o zumbido transformou-se em uma sucessão incrível e simultânea de pensamentos e vozes. Com o choque, desequilibrou-se e caiu do cavalo. A última coisa que pensou foi: “Estou caindo do cavalo?”.

Mais tarde despertou. Estava em um lugar escuro e úmido. Havia um forte cheiro de livros antigos no local. Estaria de volta à morada de Thoudervon? Logo percebeu que não.

– Ah, você despertou. Sente-se melhor?

Quando a voz desconhecida, falha e suspirante perguntou-lhe sobre como se sentia, parou para analisar-se por um instante. O zumbido havia cessado, assim como as vozes. Em um instante compreendeu o que havia acontecido. Fora vítima de seu próprio despreparo. Sua curiosidade de absorver conhecimentos do ambiente havia deixado sua mente bastante aberta, muito vulnerável. E quando se aproximou de uma multidão, não foi capaz de conter os pensamentos conjugados e confusos que emanavam desta. Sua mente fraquejou não aguentando tamanha carga de pensamentos.

Tocou sua cabeça e percebeu um curativo. Ao tocá-lo sentiu dor e gemeu.

A voz sutil, adoecida, veio novamente. – Quando você chegou, estava perdendo muito sangue. Podia ter morrido. Teria sido um fiasco! Thoudervon, não me perdoaria.

Ao escutar o nome de Thoudervon mencionado sentou-se e virou-se para encarar o interlocutor desconhecido. Estava sentado em uma poltrona sob a luz de um candelabro. Nada pode ver sobre sua aparência, estava escuro, e o homem vestia grossas mantas negras que lhe cobriam todo o corpo. Sua face estava sobre a sombra e não pode distinguir nesta nenhum traço. – Quem é você?

– Sou seu novo instrutor.

– Sei. – Calisto procurou olha-lo dentro dos olhos, ou melhor, onde estes estariam.

De imediato, o homem puxou um bastão e pôs-se de pé. Com grande violência girou o bastão que atingiu o estômago do menino. Calisto gemeu e perdeu sua concentração.

Uma onda de ódio subia a cabeça de Calisto. Pensou rápido como um trovão: “Pronto! Esse aí vai morrer! E vai ser agora!”.

Antes de poder tomar qualquer ação o homem disse severamente, tentando gritar, mas apenas extraindo chiados de sua voz rouca – Escute bem, menino! Nunca! Nunca se atreva a vasculhar minha mente novamente, ouviu bem! Saiba que não sou subalterno de Thoudervon. Como tal, mesmo você sendo seu protegido, estou pronto para puni-lo, se preciso matá-lo! Compreende?

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now