CAPÍTULO 15

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Durunt e Manile eram muito bonitas, especialmente na primavera. As duas pequenas províncias do Baronato de Fannel ficavam a leste da capital, Liont, numa região coberta por colinas cujo clima era bastante agradável. Nestas províncias geograficamente isoladas, chegava pouca influência do restante do reino.

Seus senhores, sempre repassaram os impostos devidos pela região, bastante rica, deixando o Barão e seus superiores satisfeitos. O isolamento e tranqüilidade do povo de Durunt e Manile estavam ameaçados, cada vez mais, com a presença e atividades freqüentes dos necromantes.

Vekkardi quase conseguia deixar-se levar pela leveza que invadia seu corpo. Os ares matutinos e fraco calor do sol traziam-lhe boas energias. Mas isso não durou muito. Logo, a sombra de seu irmão caiu sobre si, trazendo de volta muita amargura ao seu coração solitário. Em pouco tempo, já não estaria sozinho. Avistou logo adiante, uma vasta região cultivada com videiras. Construções de madeira foram surgindo e aos poucos homens e mulheres. Camponeses que desde cedo trabalhavam vigorosamente. Aquela gente simples parecia boa e calorosa, mas evitava cruzar caminhos com o forasteiro. Alguns mais curiosos escondiam atrás de seus olhares tímidos um grande receio.

Pouco depois, pediu um pouco de água aos camponeses que a bombeavam de um grande poço. Bebeu bastante e encheu seu odre.

Um jovem, de cabelos loiros e lisos e face avermelhada, indagou – De onde o senhor vem?

– De longe rapaz. Venho das montanhas ao norte.

– Das montanhas! O que tem lá? – Era um moço curioso e tinha grande dentes separados que saiam um pouco da boca, mesmo quando fechada.

– Pouco para se ver. – Vekkardi jogou água no rosto e esfregou-o. – Qual a cidade mais próxima daqui, meu jovem?

– Cidade? – O rapaz coçou a cabeça e parou pensativo.

– Uma vila, então?

– Audilha! Está perto! É só seguir aquele caminho. – indicou o jovem com um gesto.

– Obrigado. Tenha um bom dia.

– Vá sob a luz de Leivisa.

Vekkardi acenou para o simpático camponês e seguiu pelo caminho indicado. Meditava a respeito da situação do Reino de Lacoresh. Ocorrera um golpe de estado. Os maléficos necromantes estavam no poder, mas poucos tomaram ciência disso. Imaginava que quanto mais distante estivesse dos grandes centros, menores seriam as influências deles. Tentava medir o quanto seria perigoso para alguém como ele aproximar-se e mostrar a face. Ainda não sabia exatamente. Sabia apenas que deveria ser cauteloso.

Audilha surgiu após uma colina alta. Pode vê-la toda de uma vez. Era uma pequena vila formada por não mais que duzentas casas simples com belos acabamentos. Telhados laranja e avermelhados bem montados, paredes pintadas com cores leves, belos jardins e um pequeno córrego que dividia a vila e duas porções. Desceu por um sinuoso caminho de terra batida atravessando pequenas propriedades com criação de aves e porcos do mato.

Chegando à vila, passou a pisar em chão pavimentado, composto de rochas cinza azuladas dispostas num padrão hexagonal. Seus pés doíam um pouco e sabia que teria de dar-lhes descanso e tratar de algumas bolhas. Procurava por uma estalagem. Sentia-se estrangeiro o suficiente e percebeu que assumia riscos, pois estava chamando bastante atenção dos habitantes.

Chegando a uma praça cujos jardins estavam intensamente florescidos, avistou um monumento que o deixou estarrecido. Um conjunto de esculturas realizadas em pedra cinza azulada com várias fontes de água e no centro a imponente estátua de um nobre. Havia uma placa: – Homenagem do povo de Audilha ao generoso Lorde Lenidil.

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now