CAPÍTULO 74

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Conforme haviam combinado, no dia seguinte, Melgosh aproximou a nau sílfica até poderem ver a cidade de Porto Baltimore. Antes que se passasse uma hora, um pequeno veleiro aproximou-se. An Lepard estava a bordo.

Trazia consigo uma carta marítima e documentos. Afirmou ter negociado com seu irmão uma embarcação a ser cedida para que prosseguissem a viagem. Indicou na carta a posição da ilha na qual a embarcação aguardava para ser tomada. Melgosh concordou em levá-los, pois chegariam em menos de um dia. Depois disso retornariam ao arquipélago dos silfos.

Já em curso para a ilha de Xadunia, que na língua de dacs significava ilha das rochas pontudas, Archibald aproximava-se de Kyle para uma conversa.

– Você não parece o mesmo. O que houve?

Kyle ficou quieto. Tinha dentro de si um forte mau pressentimento sobre o futuro.

Archibald voltou a falar, – Foi a conversa que teve com Melgosh ontem?

Kyle acenou levemente com a cabeça antes de responder. – Acho que sim. Melgosh estava bastante preocupado. Me contou a respeito de um sonho.

– Sonho? Os sonhos para os silfos têm significados especiais, muitas vezes neles enxergam o futuro, não é verdade?

– Suponho que sim. O fato é que eu tive um sonho parecido. Muito parecido, mas não tive coragem de contar a Melgosh.

– Você sonhou com a morte de Melgosh, não foi?

– Como sabe? Não vai dizer que sonhou com isso também!

– Não exatamente. Ontem, observei quando vocês conversaram um pouco, logo ali. Quando Melgosh saiu da cabine, senti um terrível calafrio. Como se estivesse sendo cortejado pelos espíritos. Acho que de alguma forma posso sentir quando a hora de alguém está se aproximando.

– Como assim?

– Senti isso antes, quando Noran se foi. Há uma técnica entre os monges Naomir que permite aproximar-se dos mortos, mas há muito foi banida. É um caminho perigoso, sobre o qual, li algumas referências na biblioteca do monastério. É o tipo de caminho que foi tomado pelos usurpadores em nosso reino, os malditos necromantes.

– Me sinto mal, como se estivéssemos sendo atraídos pela desgraça. Meu sonho foi bastante perturbador.

– O que viu?

– Vi o mar tingir-se de sangue. Vi centenas de peixes boiando na água, sendo jogados contra as rochas e areia pelas ondas. No meio destes, havia corpos. Vi o rosto de Melgosh entre esses corpos. Estava pálido e seus olhos abertos pareciam olhar para mim.

– Parece terrível, mas não é apenas isso que lhe perturba não é mesmo?

– Sim, você me entende bem amigo. É minha amiga...

– Amiga?

– Sim, está lembrado de quando falamos sobre alguém que me auxiliava?

– Claro!

– A pequenina, acho que ela pode ter morrido.

– Pequenina? Como assim?

– Deixe-lhe mostrar – Kyle abriu a mão revelando um pequeno objeto oval.

– O que é isso?

– É a Lila, digo, é o que ela virou. A minha amiga, era uma fada que encontrei no palácio imperial.

– Fada? Fala sério.

– É sério, olhe bem – Kyle mostrou para Archibald o objeto em detalhes. – Vê os contornos? É como uma pequena escultura dela dormindo abraçando as pernas. Essa casca dura cresceu ao redor dela na noite em que dormimos em Eril.

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now