CAPÍTULO 24

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A sorte estava lançada. Treze espíritos aventureiros, lançavam-se contra o perigo. Era alta madrugada e pouquíssima gente circulava pelas ruas tranquilas de Aurin. O portão principal da mansão de Shark era bem guardado. Toda a mansão era cercada por um alto muro de pedras lisas, difíceis de escalar. Havia dois sentinelas que eram observados cuidadosamente por olhares nervosos. Zoros aproximou-se lentamente do portão apoiado em uma bengala e vestido em trapos. Cambaleava e emanava forte cheiro de fovasco, um tipo de água ardente popular entre os silfos, produzida a partir das raízes leguminosas também usadas para produzir açúcar.

Forçou um tropeço caindo na direção da grade do portão. Segurou-se em uma das barras da grade e murmurou algo. Um dos sentinelas aproximou-se para enxotá-lo com o cabo da lança que carregava. Foi cutucado duas vezes com força, mas não largou o portão.

– Vai velho! Vá embora! Largue o portão e vá embora!

Zoros continuava com sua atuação insistindo em pendurar-se no portão, resmungar e xingar o sentinela procurando irritá-lo ao máximo.

O sentinela perdendo a paciência pediu auxílio ao seu companheiro.

– Já disse que o mataria, mas parece estar bêbado demais para entender.

– Muito bem, vamos arrastá-lo jogá-lo do outro lado da rua. – Retirou do cinto chaves do portão e antes que pudesse estranhou o súbito silêncio que o envolvera. Tentou falar e percebeu que não emitia nenhum som. Foi esta sua última percepção.

Duas flechas disparadas pelos Silfos leais a Melgosh atingiram-no, no peito e no pescoço. No entanto, não houve nenhum ruído sequer. Simultaneamente, outras duas setas atingiram o segundo sentinela que também morreu gritando envolto no campo de silêncio.

A fase inicial do plano tinha dado certo. Conseguiram abrir os portões e eliminar os dois sentinelas. Ao mesmo tempo, os outros sentinelas que estavam próximos da entrada da mansão, tinham cada vez mais forte em suas mentes vontade de dormir. Sentiam-se pesados e não puderam resistir à forte sugestão que Noran plantara em suas mentes.

Aparentemente tinham a situação sob controle, todos os sentinelas neutralizados e o portão estava aberto. Kyle, Archibald, Gorum e os quatro silfos fiéis a Melgosh juntavam-se a Zoros no portão. Enquanto isso, Noran pulava de cima do muro para aterrissar em plantas no jardim. Havia uma escada do lado de fora e era seguido por Kleon, Mishtra, Melgosh e Kiorina.

Enquanto os outros passavam pelo muro, Noran apressou-se em buscar chaves que estariam com um dos sentinelas próximos à porta principal da mansão.

Kyle sussurrava para Archibald, – Não gosto nada disso, está tudo correndo bem demais.

– Não seja pessimista, se tudo der certo, teremos total sucesso. – Respondeu no mesmo tom, ao atravessar o portão frontal.

Nesse instante, Noran retirava do cinto do sentinela adormecido as chaves da porta da mansão. Sentiu um calafrio e ao longe um traço de uma presença ruim. De costas para a porta encarou Kyle à distância, percebeu o desespero em seu olhar e viu o jovem levantar a mão direita lentamente indicando um perigo. Antes que pudesse gritar, escutou as intenções de seus pensamentos. “Cuidado Noran!!!” Não houve tempo para olhar para trás. Sentiu uma ponta gelada espetar suas costas, seguida de uma forte dor viu projetar-se de dentro de seu peito uma lâmina coberta com seu próprio sangue.

Kyle correu como um louco para socorrer o amigo. Mesmo ferido, Noran reuniu forças para encarar seu oponente. Ao vê-lo, entendeu porque não fora capaz de detectá-lo. Era um esqueleto animado, dele, nenhum padrão de pensamento era emitido. Com horror, mas com uma estranha calma, Noran observou um novo golpe da espada atingindo-o no abdome. Desligara sua mente conseguindo isolar a dor. Escutava a corrida de Kyle atrás de si e pensamentos e comentários horrorizados de seus companheiros. Escutou além das paredes, além de qualquer fronteira vozes mil. No terceiro andar da mansão, escutou a voz de Fernon dizer, – Que sorte! Eliminamos o mais perigoso!

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now