CAPÍTULO 12

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Era um lugar escuro e úmido. Kyle forçou a vista, mas não conseguiu ver nada. Sentiu que seus braços e pernas estavam presos por grilhões. Estava acorrentado e pode perceber o balanço do mar e seus sons.

Forçou as correntes e chamou – Kiorina, Gorum, Archibald?

Escutou um gemido e logo depois uma resposta. – Kyle? É você? – veio a voz de Noran embargada.

– Noran, onde estão os outros?

Noran concentrou-se procurando elevar sua percepção acima de seu enjôo e respondeu – Estão aqui mesmo, ainda não despertaram. Kiorina, Mishtra, Archibald, Gorum, Kleon, Georges, eu e você.

Kyle cerrou os olhos e disse entre dentes. – E quanto a An Lepard?

– Não está aqui. Talvez esteja no convés.

– Traidor desgraçado! Nos vendeu aos silfos do mar!

– Será Kyle? Eu não tenho tanta certeza...

– Por que não?

– Venderia seus homens também?

Uma outra voz um tanto quanto enfraquecida entrou na conversa. – Não! O capitão An Lepard não nos trairia. Foi Erles! Erles nos traiu.

– Georges? – Indagou Kyle.

– Sim. Entendo que não goste do capitão rapaz, mas ele não é um traidor.

– E agora o que faremos?

– Não sei. Esperar e observar.

An Lepard teve seu braço direito inutilizado pelo virote disparado por Celix. Conseguiu retirar a seta e o sangramento parou depois de algum tempo. Não obteve nenhum cuidado adicional e sentia muita dor. Fora amarrado no mastro principal do navio e mal pode dormir durante a noite. Não lhe ofereceram água ou comida. Por duas vezes lhe deram água do mar para beber apenas por divertimento. Fora humilhado das mais diversas formas por praticamente toda a tripulação do navio sílfico. Fedia a urina sílfica, quando queriam humilhar alguém os silfos do mar não mediam esforços.

O grande e imponente navio sílfico, navegava veloz cortando o mar azul esverdeado em calmaria. Suas diversas velas estavam totalmente esticadas, recebendo um generoso vento matutino. Com isso, formava-se uma brisa agradável, que aos poucos retirou das narinas de An Lepard o intoxicante fedor da urina sílfica. Respirava melhor e apesar da sede tremenda sentia-se aliviado pelo envolvimento da brisa forte.

Um grupo de silfos que cochichava, discutia e planeja alguma tortura física ou psicológica para aplicar no humano capturado ficou quieto subitamente. Pisava no convés seu capitão, o temível Shark. O Capitão esguio e de fraca constituição, espreguiçou-se. Bocejou alto e esticou os braços na direção dos céus. Na cabeça, vestia uma toca vermelha sem maiores ornamentações, apenas pequenos orifícios pelos quais escapavam as pontas de suas orelhas. Vestia um roupão vermelho e felpudo com um cinto branco bem apertado em sua cintura fina. Com os olhos um pouco apertados e o rosto levemente amassado, parecia ter saído da cama há pouco tempo.

Observou o céu limpo, o mar tranquilo e exclamou – Ah! Que manhã linda e agradável!

Caminhou pelo convés até o mastro principal. Teve pequenos sorrisos de prazer ao observar a agonia pela qual o Capitão An Lepard passava. Aproximou-se dele e segurou seu rosto com uma estranha delicadeza. Sua mão branca, com os dedos finos e compridos, girou pelo rosto do capitão, sentindo os pequenos fios de barba nascentes, até se posicionar sobre o queixo do marujo, projetando-o para cima fazendo com que os olhos de An Lepard fixassem-se nos seus.

Shark saboreava cada uma de suas palavras sádicas, – Bom dia, meu querido troféu. Dormiu bem?

An Lepard sentiu a boca e garganta secas tentou falar alguma coisa, mas não conseguiu.

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now