CAPÍTULO 16

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Marcik examinava-os de forma minuciosa. Noran recomendava calma a todos e interagia com a mente de Marcik para minimizar seus piores impulsos.

O experiente silfo segurava a ponta do nariz de Kyle com os dedos em pinça. Levantou seu rosto bruscamente olhando dentro das narinas. Abriu-lhe a boca com a outra mão e examinou-lhe a língua os dentes. Por mais que fosse inútil, Kyle desejava fortemente revidar. Não podia fazer muito, suas mãos algemadas atrás das costas e os pés presos um ao outro. Ainda assim o fez. Aproveitando-se de um momento de distração do silfo investiu com a testa contra seu nariz. O choque foi violento e imediatamente sangue correu pelas narinas do silfo. Ele cambaleou e caiu sentado com uma das mãos sobre o nariz.

Estavam no posto comercial pertencente a Shark e um dos empregados atingiu violentamente a parte posterior da perna direita de Kyle com um chute solado. Kyle gemeu de dor e ajoelhou-se. Sentia sua testa latejar. Marcik recobrava-se e chutou a virilha do cavaleiro. Curvou-se colando o rosto no chão.

Gritou e esbravejou em sua língua, coisas que Noran e Mishtra não puderam compreender. Segurou seu chicote com firmeza e investiu repetidas vezes contra as costas de Kyle.

Kiorina sentia um grande aperto no coração e lágrimas rolavam sobre sua face. Archibald observava aquilo com uma ira controlada. Noran tentava fazer com que o silfo parasse sem controlar sua mente. Georges temia pelo destino de todos e Kleon disse algo em um estranho dialeto.

Imediatamente Marcik parou de castigar Kyle. Perguntou-lhe, curioso, algo no mesmo dialeto. A resposta de Kleon pareceu irritar o silfo, mas ao mesmo tempo trouxe-lhe um pouco de senso de volta.

Levantou Kyle pelos cabelos e disse-lhe, em sílfico – Eot-Ei cinnirun!!

Saiu do posto dando ordens aos outros empregados para prendê-los. Chamou atenção para darem tratamento especial a Kiorina e Mishtra. Foram separados.

Todos os homens foram levados ao porão do estabelecimento e presos em uma cela escura e lá foram trancados. Enquanto isso Kiorina e Mishtra puderam banhar-se sem serem incomodadas. Mishtra explicou a Kiorina que Noran havia trabalhado de forma profunda nas mentes dos empregados do posto a fim de que eles fossem corretos com elas.

Mais tarde durante a madrugada, Kyle estava inquieto sem conseguir dormir. Suas costas ardiam e sua mente fervilhava de ódio e idéias.

– Droga! – murmurou.

– Kyle, o que houve? – indagou Archibald.

– Essas idéias estranhas que as vezes me ocorrem.

– Do que você está falando, Kyle?

– Estava pensando no passado, em toda minha vida, todo o curso dela.

– E então?

– Você já pensou que tudo que acontece em nossas vidas parece estar sendo preparado por alguém? Alguém que nos controla nos mínimos detalhes? Alguém que planeja tudo, desde nosso nascimento até nossa morte, sem nos dar opção de escolha?

– Já falamos sobre isto, lembra-se?

– Ah sim, conversávamos sobre o destino... Já não sei mais se acredito que o destino não exista. Antes pensava no destino como uma força intangível com a qual não podíamos nos relacionar. Agora, estou enxergando como uma pessoa. Alguém com um imenso poder que manipula nossas vidas de acordo com sua vontade, de acordo com seus caprichos. Um sujeito doente que coordena nossas vidas para entreter-se, ou mesmo entreter outras pessoas.

– Não sei se estou acompanhando seu raciocínio, caro amigo.

– Nem eu! Estou confuso e não sei mais se acredito que nós somos realmente responsáveis pelo mundo através de nossas ações.

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now