CAPÍTULO 46

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Toda tensão de Melgosh atenuou-se ao deparar-se com os olhos tranqüilos do conselheiro supremo dos Orb junto ao imperador. O que os olhos de Melgosh enxergavam como tranqüilidade, muitos enxergavam como frieza extrema e racional. Seu rosto era belo e como uma máscara, nunca demonstrava emoções. Muitos afirmavam que nunca havia sorrido, outros diziam que a última vez que sorriu foi na véspera em que assumiu a posição superior no conselho dos silfos, há mais de duzentas estações. As sobrancelhas eram finas estacionadas numa retidão constante. Os lábios delicados emitiam sons com movimentos mínimos, como os de um ventríloquo. Os cabelos eram curtos e penteados de lado fazendo pequenas pontas para o alto. Vestia uma túnica verde escura com golas pontudas, muito sóbria e bem cortada. Usava longas luvas e botas peroladas, que iam até os cotovelos e joelhos. Cinco pequenos broches brilhantes estavam afixados, dois nas laterais externas das botas, dois em posições análogas das luvas e um no encontro das golas pontudas no centro do peito do silfo.

– Conselheiro Zil, como é bom revê-lo! – exclamou o pai de Mishtra.

– Você chegou numa hora oportuna, dedicado Melgosh. – respondeu o conselheiro num tom monótono. Passou os olhos sobre Zoros e Allet e complementou. – Saúdo-os, Zoros dos Maki e Allet, filho de Allaz.

Zoros cumprimentou o conselheiro com um gesto e Allet, surpreso e feliz por ter sido reconhecido, curvou-se satisfeito.

Zil encarou Melgosh e convidou-o a sentar-se próximo à sacada. A vista da mansão de Zil era incrível. Localizada na parte alta da cidade na encosta do paredão, possibilitava um vislumbre completo da baixa Nish e de todos seus portos. Allet sentou-se perto da sacada. Tinha olhos bons e não tardou a identificar o navio atracado entre milhares de outros tantos. Zoros um pouco intimidado por alturas sentou-se na posição mais distante da sacada e Melgosh sentou-se de frente para o conselheiro.

Melgosh percebeu uma rara mudança no tom de voz do conselheiro. – É um momento delicado. A cidade está como o mar tempestuoso. São tempos atribulados que se aproximam. É difícil enxergar o que irá acontecer. – Zil fez uma pausa e Melgosh voltou a ficar tenso e preocupado. Se havia alguém em quem confiava e imaginava que trataria a situação com tranqüilidade e simplicidade, este era Zil, o mais sábio e eminente Orb.

Zoros aproveitou a pausa e falou, – De certo, o senhor teve uma boa razão para dizer que chegamos num momento oportuno, não é mesmo conselheiro?

– Pois sim, Zoros dos Maki. Bem sei do recente incidente em Aurin. – fez uma pausa e encarou Allet. – Lamentável. – voltou a encarar o mago e disse, – Pois um dos muitos pontos de conflito que estão sob minha atenção, justamente diz respeito a vocês.

– E Shark! – acusou Allet inclinando-se sobre a mesa. Sob o olhar repreendedor de Melgosh, retraiu-se.

– Deixe-o falar, Melgosh, pois sua fala foi correta. E foi direto ao ponto.

Allet deu com os ombros e Melgosh sorriu, um pouco tenso.

Zil, que nunca gesticulava, prosseguiu, – Pois bem, deixe-me explanar-lhes sobre certo fatos políticos recentes.

– E quanto ao Shark? – queria saber Allet, temeroso por entrarem em uma interminável discussão política.

– Chegaremos até isso, tenha um pouco de paciência Allet, filho de Allaz. É bem verdade que em sua tripulação, tem alguns servos Lacoreses, não é mesmo Melgosh?

– Pois sim.

– Eles também têm um papel a cumprir. Diversas ambições e interesses giram em torno da questão Quíllica. Ontem à noite, o conselho reuniu-se para acertar uma definição para o caso.

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now