CAPÍTULO 20

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O futuro era incerto e as esperanças de que algo de bom pudesse ocorrer diminuíam. Kyle despertou cansado e de imediato seu coração encheu-se de ódio. Olhou à sua volta e não pôde distinguir formas significativas. Sentiu uma tremenda umidade, cheiro ruim e um balanço inconfundível. Estava a bordo de um navio, era noite. Percebeu que não estava só.

No convés da embarcação uma discussão tensa se desenrolava. Dois silfos cujas feições não podiam ser identificadas reencontravam-se, após muitas estações.

O capitão do navio estava irritado e surpreso. – Você tem muita coragem mesmo de vir a bordo desta nau, senhor saltimbanco!

– Vim em paz, e lhe ofereci uma proposta razoável. – retrucou o misterioso visitante.

O capitão deu um passo adiante apertando o cabo de sua espada e disse, – Acha que posso vender um escravo de minha senhora sem sua permissão? Sou um navegador e não um vendedor de escravos. E pior! Vender um escravo para um inimigo jurado de minha senhora?

O silfo deu um passo para trás e ofereceu, – Ao menos me deixe vê-la, se não for quem procuro, dou-lhe metade do ouro e vou embora. O que me diz?

– Mesmo sendo sua proposta atraente não poderia atende-la.

– Como assim? Resolveu ser honesto de repente?

– Não meu caro, espero por um mensageiro que foi até o palácio, consultar minha Senhora quanto à venda de alguns escravos que estão nesta nau, inclusive a silfa que deseja.

– Quem? Quem quer comprá-los?

– Ao que parece, o senhor Shark. Se assim não fosse já estaríamos em alto-mar por agora.

– Enlouqueceu? Por que vender e comprar um lote de escravos num mesmo dia? A menos que...

O capitão do navio desembainhou sua espada e apontou-a para o visitante. – Escute aqui Melgosh. Entregue o ouro e deixe esta embarcação se quiser viver.

– Se é assim que quer jogar, seu capacho miserável... Vim preparado. Sacou duas longas adagas como num flash e defendeu-se de uma estocada veloz do capitão.

Era uma luta sem esperanças, pois no momento seguinte os membros da tripulação sacavam suas adagas, espadas e espadins sedentos de sangue e do ouro carregado por Melgosh.

No porão do navio, Kyle já ciente de quem o acompanhava disse, – Uma luta! Pode ser a oportunidade de escaparmos!

Kiorina tinha a boca amordaçada e as mãos amarradas o que dificultaria a execução de qualquer feitiço, mas devido a sua grande experiência e especialização com as magias do fogo, apenas com sua concentração focalizada aqueceu o metal de seus grilhões ao ponto de fusão, libertando-se.

Noran concentrava-se na dominação da mente do carcereiro. Logo as grades que os prendiam foram abertas.

Archibald fazia uma poderosa prece e clamava pela força do deus Aianaron. – Aianaron! Forti inin megot! Forti inin megot!

Gorum quebrava uma viga de sustentação do navio para improvisar uma lança.

Mishtra aguardava ansiosa por alguém que libertasse suas mãos. Desejava lutar, e ainda mais, queria descobrir quem era o silfo que queria comprá-la, segundo informações captadas por Noran, momentos antes.

Georges, o grande marujo da tripulação de An Lepard, rendera o carcereiro que não ofereceu resistência. Com a corrente que lhe prendia os pulsos largos tirou a consciência do silfo por asfixia. Kleon, o rapaz de cabelos vermelhos como o fogo, tomou o molho de chaves do silfo, antes que caísse, e libertou-se. Em seguida, iniciou a liberação de todos os outros cativos.

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now