– Mas já?

– Sim, e estou muito preocupado com os acertos feitos até então. Um joguete. Muito depende de um simples joguete.

– Como assim? – indagou Zoros.

– Na realidade um jogo. Algo da estranha insensatez de nosso povo, de nosso próprio conselho. Sugestão do conselheiro Larsh Farmin. Propôs que a disputa política envolvendo a questão da espada fosse resolvida, por um jogo. O desafio de Eluan.

– Trata-se de que? – indagou Melgosh.

– Uma antiga lei. Imagino que a conheça, Zoros dos Maki.

– Pois sim, uma lei que permitia criminosos, reduzir sua pena, ou mesmo redimir-se de um crime através de um jogo de vida ou morte. Mas como é possível realizar um destes, nos dias de hoje? Não era a prova final, um confronto com uma besta feroz ou uma criatura dos abismos?

– Não deve saber do presente enviado pelo duque Hiokar ao imperador?

– Não, o que seria?

– Um formalediôneo.

– É possível? Tais criaturas não são vistas há milênios!

– Seja como for, há uma jaula especial com um formaleliônio, na coleção de bestas e animais do Imperador. E mais, tão logo a idéia foi apresentada por Larsh Farmin, Alderic Hiokar achou-a irresistível. Eu e Elchor Maki, fomos contra, mas Ildur Mikril foi convencido por Larsh. Três contra dois. E assim será. Foram definidas cinco sentenças de acordo com o desempenho dos criminosos.

– Quem são eles? E quanto a Shark, não irá enfrentar a besta?

– Se fosse capturado, seria possível, porém... Quanto aos criminosos, são três humanos e um silfo das terras de Lacoresh. Somados a um anão das grandes cordilheiras e uma fera do povo felino da península do braço da serpente. Eram todos prisioneiros de Shark, que tiveram a liberdade prometida, caso conseguissem reaver a espada de Quill.

– Teriam chance contra uma fera destas? – perguntou Melgosh.

– É dito que puderam lidar com os guardiões da espada, portanto, alguns méritos devem ter.

– E quanto às sentenças? – indagou Zoros, preocupado.

– Pois sim, está é a pior parte. Foram definidas cinco provas a serem resolvidas nas antigas catacumbas palacianas: uma por cada clã. Haverá uma distribuição de pontos e de acordo com o desempenho nas provas, receberão armas ou itens especiais para lidarem com o fomalediônio. O problema é que o próprio destino da espada foi atrelado o destino dos criminosos. Segundo os Hiokar, se não forem capazes de completar ao menos duas provas com sucesso, devem ser executados mesmo antes de enfrentar a besta, e a espada deve ser confinada nos cofres imperiais, o local mais seguro segundo sua opinião. Segundo os Farmin, se completarem três ou mais provas e forem derrotados pela besta, havendo sobreviventes, estes deverão retornar a espada ao seu local de origem, e depois serão vendidos como escravos em um leilão. Já os Maki, defendem banimento segundo a antiga tradição, para os criminosos e para a espada. Ou seja, serão levados todos a alto mar e atirados na água. Isso se completarem três provas e derrotarem a besta. Para o caso de completarem quatro provas e derrotarem a besta, os Orb determinam que sejam levados a uma cidade humana e que a espada seja destruída, de uma vez por todas. E o prêmio máximo, ou seja, a derrota da criatura e a conclusão das cinco provas, os criminosos serão totalmente perdoados e levados onde desejarem com a espada em sua posse, essa é claro, trata-se da sentença Mikril, naturalmente de aparência mais benevolente, porém, a mais perigosa de todas.

– Interessante, imagino que os Farmin estejam cuidando da organização do evento. Certamente algo assim será muito lucrativo. – comentou Melgosh.

– Verdade, porém a questão da espada e dos estrangeiros, é a de menor importância. O que ocorre nos bastidores que traz-nos maiores preocupações. O próprio duque Hiokar já chegou a Nish, e, informações não oficiais, reportam o fato dele ter recebido em sua propriedade, o próprio Shark.

– Então ele está aqui, como imaginávamos! – deixou escapar o imediato.

– Pois sim, e minha previsão é de que tentarão algo enquanto todos estiverem ocupados e distraídos com os tais jogos. Pude antever certas linhas de ação, dentre as quais, posso destacar: uma tentativa de furto da espada, seqüestro de alguma figura importante, como o príncipe Kiel ou mesmo a princesa Aeycha. Ou pior, o próprio assassinato do imperador. O duque Hiokar é ousado e deseja o poder, disso todos sabem. Não se arriscou vindo até a capital sem algum bom motivo. É a primeira vez em mais de vinte e cinco estações que põe os pés em Nish.

– E quanto ao oportunismo de nossa chegada? – insistiu em sua pergunta, ainda não respondida.

– É neste contexto que vocês entram. Vocês e em principal, os estrangeiros que trazem em sua embarcação, são variáveis novas, pessoas das quais o duque, não sabia previamente. Estes sim, se bem usados podem ser trunfos importantes para contrapor as ações nocivas que estão prestes a desencadear-se. Se estiver certo, imagino que o duque sequer tomou conhecimento da presença dos Lacoreses em Nish. Mas isso não tardará a acontecer, portanto, temos que agir e aproveitá-los, enquanto pudermos usá-los como um elemento surpresa.

– Usá-los? – indagou Melgosh um pouco incomodado. – São companheiros queridos para mim, conselheiro Zil. Não tenho certeza de desejo usá-los como o senhor está sugerindo.

– Não se preocupe, já sei o bastante sobre eles. Sei que alguns deles, não perderiam a chance de agir contra Shark, e outros, não se incomodariam em ajudar os mais excitados. Não acredito que precisemos forçá-los a agir.

– Sim compreendo, ainda assim, que tipo de riscos assumiriam?

– Riscos de vida, naturalmente. Mas deixe a preocupação de lado, pois de certo, se pudermos planejar os detalhes será uma ação de riscos controlados. Algo de menor periculosidade que o ataque suicida que empreenderam em Aurin.

– Entendo, por onde devemos começar?

Maré VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora