Deixou suas memórias voltando sua atenção para a estrada, ou melhor, para a enorme formação rochosa a oeste da estrada. Curioso, perguntou, – O que é aquilo?

Chris Yourdon fez sua voz soar com grande autoridade explicando sobre o assunto como um professor. – É o planalto místico de Or. Construção antiga e enorme. Em seu topo, fica a floresta mística chamada pelos silfos que lá habitam de Shind, ou seja paraíso.

Elser, o silfo do mar liberto por Calisto teve a atenção desperta pela explanação de Chris. Falando um péssimo Lacorês indagou, – Muito silfos nem Shind?

Chris olhou para trás com desprezo e respondeu torcendo a boca, – Uns pouco pobres coitados... Selvagens sem cultura como você.

Elser estreitou os olhos negros afiados e torceu os lábios carnudos e naturalmente carrancudos. Suas grossas sobrancelhas negras se arquearam e sem saber porque, atirou uma adaga contra o mago.

Calisto sorriu. Chris atirou-se do cavalo atingindo a estrada cheia de terra avermelhada. Muito sujo e irado, evocou um feitiço que arremessou o silfo, projetando-o de cima do cavalo com violência.

Derek assustou-se e Rayan observava o conflito com prazer.

O silfo girou no ar, e com agilidade incomparável pousou no solo de pé. Chris irado, convocou uma série de lanças de gelo que surgiam ao seu lado a flutuar. Gotas de suor rolavam pela face de Elser e foi preciso em comandar seus músculos e desviar-se com acrobacias das lanças que voavam em sua direção, uma após a outra. Uma delas, rasgou o tecido da camisa do silfo, acima do ombro, e abriu-lhe na pele um talho.

Calisto, divertia-se com a situação criada por ele próprio ao comandar um forte impulso na mente do silfo para atirar a faca contra Chris. Apesar disso, percebeu que seria uma boa hora para por fim no assunto e mostrar quem estava no comando.

Aproveitando-se da distração do mago, atacou sua mente, deixando-o atordoado. Com o arrogante mago sob controle, fez o mesmo com o silfo e anunciou com grande autoridade. – É hora de parar com essas brigas sem sentido. Os próximos se envolverem em uma briga vão ter de acertar as contas comigo.

– Mas Lorde Calisto! Estava apenas me defendendo. – disse Chris enjoado e indignado.

– Cale-se! Você tentou matar um de meus homens.

– Mas ele tentou me matar primeiro.

– Que aprenda a colocar um freio em sua língua venenosa então!

Chris estava irado e sentia-se injustiçado, mas optou pelo silêncio.

– Quanto a você silfo! – gritou Calisto em sílfico (usava o idioma que extraiu da mente do silfo, pela primeira vez). – Que o corte lhe sirva para lembrá-lo de que é bom controlar sua impulsividade.

Elser apesar da ira, sentiu-se tolo. Não entendia muito bem como perdera o controle com tanta facilidade. Talvez fosse a convivência com os humanos que estivesse fazendo com que ficasse assim, descontrolado.

Com isso Calisto selou o assunto e impôs respeito ao grupo, mesmo que baseado na força.

Logo depois, como se nada tivesse ocorrido Lorde Calisto disse, – E então senhor Yourdon, conte-me mais sobre esses silfos de Shind. Por que disse que são selvagens?

Chris respondeu a contra gosto, – Vivem pendurados em árvores caçam e retiram frutos para viver. Não são capazes de construir nada mais complexo que tocas de madeira e nem mesmo criam animais ou plantam o próprio alimento. Seguem com a mesma forma de vida século após século, sem nenhum progresso.

– E por que os reis de Lacoresh permitem que vivam dentro de seu reino? De certo ao menos pagam as taxas.

– Não, ao que parece não pagam as taxas. – retrucou Yourdon.

– Mas como não? – Calisto estava surpreso. – Quer dizer que são um reino independente no interior de Lacoresh?– refletiu por um momento e pensou “Estranho. Preciso estudar mais o assunto. De certo há maneiras de tirar proveito dos tais silfos. Alguma coisa devem poder ofertar ao reino!”

Chris prosseguiu – São loucos, eu diria. Não ligam para posses, nem mesmo tem uma moeda.

– Se tem tão pouco a oferecer, que paguem com seu trabalho. Que sejam declarados servos.

– Sabe Lorde Calisto, é um interessante ponto de vista.

Calisto tomou mais uma nota mental. Se ninguém ainda havia tomado a iniciativa de fazer com que os silfos pagassem, ele o faria. Encontraria alguma forma de fazê-lo, e assim conseguiria mais recursos e mais poder. Mas por hora, precisava dedicar algum pensamento ao demônio que precisavam capturar.

Maré VermelhaWhere stories live. Discover now