Antes do anoitecer chegavam na caverna que era a entrada para um dos esconderijos dos rebeldes na região. Era um ponto próximo ao início cordilheira de Thai. Muitas das cavernas tinham lagos, ou rios em seu interior. O riacho que atravessava o bosque recém destruído, brotava de uma dessas cavernas.

Era uma entrada estreita, e precisavam se agachar para penetrá-la. Will aproximou-se da entrada e emitiu um longo assobio. Logo entrou na caverna e virou-se para puxar Clefto, arrastando-o no chão cheio de limo.

A entrada da caverna era úmida e escorregadia, e seu interior era escuro. A temperatura era fria e agradável.

Will alertou-os, – Tomem bastante cuidado. É muito escorregadio por aqui.

Radishi entrou animado. Gostava de cavernas, adquiriu esse gosto em contato com o silfo Modevarsh. Vekkardi seguiu, estava habituado a cavernas, mas preferia as montanhas e escaladas ao ar livre. Por último, Roubert hesitava para entrar. Sua mente estava em conflito. O medo lhe dizia para não entrar, mas seu grande orgulho não permitiria que se acovardasse. Tenso, engatinhou para o interior da caverna.

Estava muito escuro. Will disse-lhes, – Precisamos esperar um pouco para nossos olhos se habituarem à escuridão. A luz que vem da entrada, será suficiente para chegarmos à toca. – Sua voz ecoou de forma estranha, parecendo amplificada.

Radishi observava o interior da caverna com curiosidade. Aprumando a audição, reconheceu sons de água corrente e pingos ritmados. Apesar da entrada estreita e baixa, estavam em uma câmara enorme, e não podiam enxergar o teto, e, nem mesmo o prosseguimento da caverna.

Pouco depois, conseguiam enxergar formas arredondadas, estalagmites e estalactites no interior da caverna.

Will disse-lhes, – Vamos, podemos prosseguir para a toca. Ajudem-me com o necromante.

Neste momento, Radishi percebeu a forte tensão de Roubert que respirava velozmente e suava. – Roubert meu caro, tente manter a calma. Pense: não há nada aqui que possa nos ameaçar.

– Eu sei. Mas ainda assim, sinto-me desconfortável. Não gosto de lugares fechados. Sinto falta de ar.

– Mas há ar em abundância aqui. Vamos lá, concentre-se para que possamos seguir, certo?

– Muito bem. – Concordou o silfo limpando o suor da testa.

Vekkardi e Will se encarregaram de levar Clefto, enquanto o tisamirense acompanhava o silfo para o interior da caverna.

Após uma pequena parte plana, iniciaram uma descida. Mesmo com cautela, perdiam o equilíbrio com freqüência. Roubert, mais nervoso, caiu duas vezes, sendo amparado por Radishi. No fim da descida, puderam ver um grande piso negro, bem polido.

– O que é isso? Alguma construção? – quis saber Roubert.

Will respondeu, – Não meu caro, isso é um lago. Vamos atravessá-lo.

O silfo sentiu um frio na espinha. Mas aquilo em nada se comparava, ao toque gelado da água.

– Está congelando! – reclamou Vekkardi.

Will indicou-lhes o caminho. Naquele trecho, já não havia muito limo, pois não havia luz para favorecer seu crescimento. Embrenhavam-se na escuridão, apenas escutando os sons produzidos por eles mesmos e confiando na memória de Will para encontrar o caminho. Durante a travessia, o nível da água, nunca ultrapassou a cintura.

Já estavam naquela caverna há muito tempo. O sol já devia descansar fora dali. Depois do lago, seguiram por pedras úmidas e irregulares até um local onde o musgo voltava e além deste, algumas pequenas plantas. Havia uma fraca iluminação no local, proveniente do alto. Havia diversos orifícios por onde fios de luz lunar amarelada penetravam. A escadaria esculpida na rocha foi uma surpresa. – Vocês que fizeram essa escadaria? – indagou Radishi curioso.

Will respondeu fatigado, – Não. Já estava aqui quando encontramos a toca. Provavelmente trabalho de anões.

– Anões, tão longe?

– É, o lugar parecia abandonado há séculos. Vamos, agora falta pouco, e precisamos repousar.

A toca, era um lugar incrível. Um mundo à parte daquelas cavernas. Grandes punhos de pedra cerrados partindo das paredes, emitiam luz azulada quando tocados.

Além da iluminação, o local era mobiliado. Havia alguns divãs, muito confortáveis. O local era estranhamente aquecido, e não havia excesso de umidade.

– Magia! – exclamou Roubert, que estava um pouco mais calmo com a chegada na toca.

– Sim. – concordou Vekkardi. – Algo muito antigo e poderoso!

– Eu não teria tanta certeza de que isso é trabalho dos anões. – disse Radishi.

– Se não os anões, quem? – perguntou Will interessado.

– Os mesmos que construíram Tisamir.

– Mas, Tisamir não é obra dos humanos? – indagou Vekkardi.

– Pois pelo que soube, Tisamir é obra dos anões. – disse Will.

– Bem, é verdade que não há consenso a respeito disso. Mas eu e alguns de meus companheiros em Tisamir, acreditamos que ela seja obra dos Antigos.

– Antigos? Fala dos El’Kin’Phos? O Senhor Alunil, digo, Modeversh, contou-me certa vez sobre eles. El’Kin’Phos, ou mesmo Elfos.

– Não, não estou falando destes. Eram seres da natureza, mas gostavam de céu aberto, assim como os Silfos.

– Pois quem eram esses Antigos? – perguntou Roubert curioso.

– Ninguém sabe ao certo. São chamados de Antigos, Antigos engenheiros, ou ainda de Merrin.

– Merrin?

– Sim, há poucas referências a respeito dos Merrin, mas um pouco do que soube, é que eram os seres mais mágicos desta terra. Aqueles que manipulavam a magia como uma extensão de seus corpos. E segundo algumas lendas, aqueles que trouxeram demônios à essa terra dando origem às guerras milenares.

– A era maldita! – exclamou Roubert.

– Sim. E é por isso que penso que essa toca, seja obra dos Antigos. A primeira raça a existir nesta terra.

– Eram abençoados pelos Deuses? – indagou Will, trazendo à discussão aspectos religiosos.

– Não sei, meu caro. Em Tisamir poucos estudam as divindades. Nosso estudo é focado em história, línguas, matemática e autoconhecimento.

– Meu tio era sacerdote da Real Santa Igreja. – revelou Will. – Por vezes ele me contava, alguns fatos que não eram revelados nos templos e nos cultos. Conhecimentos secretos do Clero, vocês sabem.

– Sabemos. – Vekkardi falou por ele e Radishi. – Tivemos um companheiro, um monge Naomir chamado Archibald, que nos contou sobre esses segredos do Clero.

– Pois, sim! Meu tio dizia que os Deuses, deram vida à uma primeira raça, os escolhidos. Mas é dito que foram dizimados durante as grandes guerras, eram poucos, e teriam perdido o gosto pela vida, concordando não trazer mais filhos para um mundo de tantos sofrimentos, infestado por tantas pragas, guerras e demônios.

– Engraçado. Archibald nunca havia mencionado tal coisa. – disse Vekkardi.

– A igreja e os monges são cheios de segredos. Ao que parece, apenas os mais graduados tem acesso a certas informações. Talvez seu amigo ainda conhecesse poucos segredos.

– É possível.

Will mudou de assunto e disse, – Temos alguns suprimentos aqui. É melhor comermos e depois descansarmos. Devemos amordaçar e amarrar bem as mãos do necromante. Se ele acordar, não seria bom que pudesse evocar feitiços.

E assim fizeram.

Maré VermelhaKde žijí příběhy. Začni objevovat