– Festa? É para isso que estão me preparando? Uma festa idiota?
– Pelo menos em uma coisa você está certo, meu rapaz. É uma festa idiota mesmo!
– Qual o motivo? Qual a comemoração.
– Um aniversário.
– De quem, do Rei?
– Não seu imbecil, o seu!
– Para que... Espera. Ai! Dá para tirar esse garfo e faca das minhas mãos?
Weiss retirou sem fazer questão nenhuma de ser delicado.
– Ai seu maldito! – resmungou Calisto analisando os ferimentos nas mãos. –Que história é essa de meu aniversário? Eu mesmo não sei em que dia nasci! Nem sei quantos anos tenho! Diabos!!
– Pois então, agora está sabendo. A festa é dentro de dois dias, e você vai comemorar seus dezesseis anos. Venha até aqui e trate de mergulhar as mãos nessa bacia d’água.
A água da bacia ficou vermelha de imediato. – Está ardendo, droga!!
– Vamos fechar esses ferimentos. – Com isso Weiss apontou os dedos sobre a bacia e operou as mãos de Calisto, deixando apenas, e propositadamente, pequenas cicatrizes.
– Ei velhaco! E as cicatrizes? Tire-as também!!
– Nem pensar... Bater, furar e deixar cicatrizes é o único método pedagógico que funciona com você.
Calisto engoliu a lição. Caminhou na direção do corpo do Senhor Lori. – Ao menos não vou precisar escutar a voz irritante deste... – Retirou o garfo que mantinha o corpo preso a mesa. Com isso foi ao chão fazendo um ruído abafado. – fresco!
Weiss ficou sério, mas em seu íntimo sentia o mesmo que Calisto. Queria gargalhar, mas podia deixar isso para outra hora.
– Há quanto tempo Sr. Calisto! Já está acostumado a luz do sol, não?
– Um pouco Derek. Viajaremos novamente juntos, não é? E quando ao Barão podre, digo Dagon? – Calisto observava Derek. Estava montado, vestindo uma armadura de placas de aço polido. Brilhava contra o sol e refletia as formas ao seu redor com interessantes distorções.
– Nos reuniremos, em breve. Aguarda-nos além da vila de Wuri.
– Que notícia infeliz...
Derek achou graça nas roupas que Calisto vestia. Calça e túnicas de um azul profundo com babados brancos na gola e nas mangas. Disse sorrindo, – Vejo que está vestido como um nobre. Já ganhou algum título?
– Imperador Calisto não soa mal.
– Depende de quem escuta.
– Chega! – irritou-se o menino. – Vamos para a cidade de Lacoresh de uma vez! – Com isso montou seu cavalo acinzentado e partiu com velocidade. Derek teve certo trabalho para alcança-lo e muitas pessoas nas ruas de Kamanesh tiveram que correr abrindo espaço para o avanço selvagem que Calisto impunha sobre sua montaria.
Horas depois, encontravam-se com a figura sinistra do Barão Dagon. Puderam ver suas silhuetas e de seu grande cavalo sobrenatural contra o céu rosado que prenunciava o crepúsculo. Estavam junto a um velho moinho numa parte elevada da trilha.
– Saudações Barão Dagon! – exclamou Calisto.
– Devermos chegar a Lacoresh sem perdas de tempo. – Dagon iniciou a cavalgada e foi seguido lado a lado por Calisto e Derek..
– Verdade, Werick devemos chegar sem demora.
Seguido do silêncio do Barão, Derek disse, – Sr. Calisto, esqueceu-se do meu nome? Chamo-me Derek e não Werick!
– Derek, seu imbecil, não falava com você! Falava com o Barão Werick Dagon.
– Por que está inventado nomes para mim Sr. Calisto?
– Inventado? Quer dizer que desconhece seu próprio nome?
– Meu nome? Meu nome é Dagon! Foi assim que meu mestre me chamou.
– Quer dizer que não carrega memórias de sua vida?
– Memórias? – chiou a voz horripilante de Dagon, aproximando-se de um tom doloroso.
– Sim, seu monte de carne podre! Memórias. Suas lembranças! Não se recorda de ter sido o Barão Werick Dagon, filho do Lorde Werneer Dagon? Não se lembra de ter lutado nas guerras do pântano? E da sua participação na conquista da cidade de Griis?
– Não. De onde tira tantos nomes e acontecimentos.
– De onde mais? Livros de história! Li tudo sobre você, sua família e descendentes... E sabe o que descobri?
– O que?
– Seu mestre, o Príncipe Serin, é seu descendente direto. A oitava geração do seu sangue. Você é um servo de sua própria família.
– Certo.
– Certo? É tudo que tem a dizer sobre isso? Não vai tomar satisfações? E o respeito aos mais velhos? O respeito aos ancestrais? Se eu fosse você tomaria satisfações com o príncipe assim que o encontrasse.
– É mesmo? Por quê?
– Não escutou o que acabei de dizer? Ah... desisto!
– O príncipe é meu mestre e eu devo obedecê-lo.
– Será que não existe um pingo de vontade dentro dessa sua cabeça podre?
– Vontade? Sim. Tenho vontade de comer carne fresca e beber sangue quente.
– Entendo, agora vejo o quanto parece humano. Diria humano demais. Existem apenas duas diferenças entre você e o Derek.
– Duas?! – indagou Derek. – Deve estar brincando! Eu poderia listar cem!
– Mas são duas... O cheiro e a maneira que desejam as mulheres. Você Derek, deseja ter mulheres em seu leito, e você Dagon, deseja ter mulheres em seu estômago. De resto são quase iguais. Grandes, cavalgam grandes cavalos, carregam espadas e submetem-se a vontade de seus mestres sem questionamento.
Derek não gostou da comparação e questionou, – E o Senhor, não obedece a seu mestre?
– É claro que sim, sou-lhe totalmente fiel! – e pensou, “Por enquanto...”.
JE LEEST
Maré Vermelha
FantasyKyle e seus companheiros atravessam mares no navio, Estrela do Crepúsculo, com a ajuda do capitão Dacsiniano, An Lepard Baltimore. Durante a busca de salvação para Lacoresh, ameaçada pelas forças sombrias, enfrentam perigos nos arquipélagos sílficos...
CAPÍTULO 17
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