"Pudim"

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Abigail pensava a respeito da Ordem enquanto encara Alvo Dumbledore bem na sua frente, ela nunca o havia visto tão bravo. Ele costumava ser compreensivo, mas quando se tratava dela, era irredutível.

Talvez ele não gostasse dela tanto assim.

- Eu não vou desfazer a Ordem. - ela diz com veemência enquanto fitava os olhos azuis do homem.

Dumbledore murmura um "Abigail" de forma quase torturada e da as costas fechando os olhos, pressionando as mãos no rosto.

O que ele poderia fazer além de proibir?

Amarrar ela em Hogwarts até a guerra acabar?

- Abigail, não se trata de uma brincadeira. - ele tenta. - É uma guerra, com mortos de verdade. Não é um duelo vigiado.

- Acho que de nós dois, quem ainda não entendeu que é uma guerra, com todo respeito, foi você. - ela murmura quase inaudível.

- É a minha última advertência, Abigail. - Ele encara a garota na maca, que agora ficava de pé com dificuldade.

- E depois? O que vai fazer se eu não parar? - Se aproximava com dificuldade devido à dor incômoda que sentia, mas tentava não alarmar.

Alvo Dumbledore não sabia o que sentir, sempre foi um homem muito controlado, nunca foi escravo de suas emoções, mas naquele momento, sua sanidade parecia oscilar, tratava-se da vida de uma garota de dezesseis anos.

- Já chega! Não importa, você vai desfazer agora! - ele alerta tentando manter o controle. - Vai liberar os seus amigos da sua ideia suicida, e irá viver a vida de uma garota de dezesseis anos.

A vida que Ariana nunca viveu.

Queria que Abby tivesse mais chances do que Ariana teve.

Por culpa dele.

Toda dele.

- Liberar? - Ela responde alterada. - Acha que eles estão lutando por mim? Acha que o motivo deles estarem arriscando a própria vida sou EU? - o seu tom de voz aumenta um pouco, mas logo diminuiu por respeito.

Ela respira fundo, tenta não dizer nada, tenta se manter sã, mas a sua língua queima dentro da boca, implorando por uma defesa.

- O senhor acha que eles não podem ter os próprios motivos? - ela pergunta chorosa, fazendo o homem comprimir os lábios. - James viu o próprio pai morrendo diante dos próprios olhos, após horas de tortura. - Soluça um pouco lembrando do momento. - A mãe dele nem consegue abrir os olhos no momento, vive em uma cama largada no St. Mungus.

Pensa nos outros, lembrando das atrocidades, aquilo só a fazia ficar mais desequilibrada.

- Remo viu a própria mãe ser soterrada ao lado dele porque o pai dele fugiu dos comensais e os deixou ali, ela literalmente morreu soterrada segurando a mão dele! - ela pensa no motivo dos outros, o que a fazia sentir pior do que já estava.

- Abigail, quando você vai entender que isso não está os levando à lugar algum? - ele já abandonara as expressões formais. - Quantas vezes vai ficar a beira da morte para salvar uma só vida? - questiona. - Você vai me obrigar a parar você, e não do jeito fácil.

Abby o encara pondo as mãos onde doía, o local parecia girar e o gosto de sangue vinha nos seus lábios com frequência, aperta o tecido branco que vestia, reunindo todas as forças para olhá-lo bem no mar azul brilhante que eram os seus olhos.

- Se uma morte não importa para você, ou parece um número baixo demais, sinto muito, mas você já escolheu o seu lado. - ela lamenta. - E infelizmente não era o que eu esperava.

Dumbledore sentia os dedos trêmulos, não costumava perder as palavras, sempre parecia saber o que dizer, mas naquele momento, nada parecia adequado. Nenhuma de suas palavras pareciam encaixar.

- Se quer tanto me parar, eu aconselho que me mate. - enfrenta, e nem ela sabia que tinha tanta coragem. - Eu só vou parar de fazer o que é preciso quando estiver morta, até lá, a Ordem estará de pé, nem que eu tenha que lutar sozinha por cada vida inocente do mundo.

Uma dor pontual atinge o seu abdômen, a fazendo perder a postura que tinha antes e soltando um grito agudo, sente as mãos dele a erguendo delicadamente pelo braço, os olhos arregalados de preocupação e a ajudando a voltar para a maca.

- Eu queria que você estivesse do meu lado, que estivesse na Ordem, não imagina o quanto nós precisamos. - ela quase súplica com as lágrimas escorrendo. - ao invés de tentar nos parar, lute conosco.

Com a chegada de uma enfermeira de cabelos vermelhos, ele se retira, atordoado, com os olhos chorosos pairando na própria mente, com os pensamentos alinhados a tudo que ele não queria ceder.

Abby toma uma poção horrível, que quase a faz vomitar o pouco que tinha no estômago, e a moça sorri bondosa acariciando o braço dela de leve.

Com a dor cessada, a enfermeira fica mais tranquila ao ver Abigail sem se contorcer, e oferece uma gelatina sem sabor, o prato mais gostoso no momento.

A lufana sorri sem graça aceitando o conteúdo nojento da ruiva culpada, sabia bem que aquilo era horrível, mas era a única coisa que poderia oferecer.

Assim que a enfermeira sai, Sirius Black invade furtivamente o cômodo cheio de camas, mas com pouquíssimos pacientes, olhava para os lados antes de entrar de vez e sentar na maca de Abigail.

- Eu trouxe algo para você. - diz sorrindo divertido tirando do bolso um pote cheio de pudim de chocolate com uma pequena colherzinha de plástico.

Puxa a cortina isolando o local que estavam da maneira que conseguia, e voltava a sentar onde estava, abriu o potinho, tirou um pouco do alimento cremoso e colocou na boca dela.

- Definitivamente melhor do que a gelatina sem sabor. - Abby sorri encarando os olhos acinzentados enquanto o rapaz colocava uma colherada na própria boca. - Mas não é a melhor sobremesa do mundo.

- Você reclama tanto, então eu como sozinho. - faz pouco caso dela e passa a língua na colherzinha provocativamente.

- Não! - belisca de leve o abdômen do rapaz, o fazendo pular de susto e esboçar um belo sorriso. - Não seja egoísta, eu quero mais um pouco. - pede com a boca contorcida em um bico.

- A megera da sua enfermeira não pode desconfiar de nada, ela briga comigo até se eu respirar perto de você, quem dirá quando souber que eu estou te entupindo de doces. - sussurra colocando uma grande quantidade da sobremesa na boca pidona.

Sirius observa afetado o os lábios melecados de pudim, sentia tanta falta daqueles lábios em si, do gosto que eles tinham. Suspira de saudade enquanto a observava passar a língua a fim de limpá-los.

- O que está olhando? - ela pergunta confusa. - eu me sujei demais? - Sirius assente, e interrompe a mão dela antes que possa limpar a própria boca.

Segura o pescoço quente da garota com uma das mãos e sua língua já percorria pela boca suja dela, que apenas fechou os olhos aproveitando o toque que sentia tanta falta.

Sirius sugava os lábios dela, mesmo que não tivesse mais nada sujo ali, para ele continuava delicioso.

- Você está apetitosa, Abigail Parsons. - sussurra com a voz mais grossa do que o normal, devido ao estado mental que se encontrava no momento, não era capaz de controlar nem as suas cordas vocais mais.

TELL ME A SECRET || SIRIUS BLACK Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz