– Minhas preocupações somam-se as suas, bom Radishi. Mas antes de lidarmos com isto, quero pedir-lhe outro favor.
– Diga Sr. Modevarsh.
– Gostaria que seguisse a trilha de Vekkardi e o acompanhasse em sua jornada recém-iniciada.
– Certamente! Já partiu?
– Ontem. Não deve estar longe. Ruma para Lacoresh e isso me preocupa muito.
– Certo, partirei o quanto antes.
– Muito bem, bom Radishi. Agradeço sua presteza.
– Pedirei a seus convidados que entrem. Já esperaram demais.
– Muito bem, novamente, obrigado, bom Radishi.
Com isso Radishi se virou e empurrou as camadas de pano cortinado que bloqueavam a entrada da gruta. Em seguida adentrariam três silfos. O primeiro, alto, jovem e robusto segurou o cortinado para os outros dois passarem. Possuía cabelos negros, curtos e anelados. Usava cavanhaque curto e suas orelhas pontudas eram um pouco mais evidentes que o normal.
Curvando-se levemente entraram os outros dois. Primeiro uma silfa de idade avançada, usando ao redor da cabeça uma coroa de pequenas flores silvestres. Possuía cabelos brancos lisos e curtos e sua pele era levemente enrugada. Apesar disso tinha um largo sorriso no rosto e movia-se livremente o que lhe conferia um aspecto jovial. Carregava nos braços um coelho o qual acariciava.
Em seguida, entrou o outro. Bastante velho com dificuldades de locomoção, apoiando-se em uma bengala. Possuía longos cabelos brancos finamente trançados. Era magro e baixo e tinha uma grande barba branca, também trançada, raridade entre os silfos.
Modevarsh era o mais velho de todos, assim, segundo seus costumes o silfo mais jovem o cumprimentou primeiro. Dali para diante conversariam todos em sílfico.
O jovem aproximou-se, curvou-se e disse: – É um prazer conhecê-lo ancestral! Sou Roubert, seu descendente de quinta geração.
– Quinta? Não sabia que tinha um braço da família tão fértil! Seja bem-vindo jovem Roubert!
Roubert sorriu e deu um passo para trás.
A silfa soltou o coelho no chão, mas este não saiu de seu lado enquanto caminhava. Aproximou-se de Modevarsh e beijou-lhe o rosto. “Estou feliz por vê-lo novamente, Modi. Trouxe presentes.”
Modevarsh sorriu e sentiu uma leveza que não sentia há tempos. – É ótimo vê-la, cara Lalith! Está radiante como sempre!
Lalith fez um gesto delicado com ambas as mãos e imediatamente o ambiente foi preenchido por um perfume suave de flores. Em um instante desabrocharam centenas de flores de cores e variadas nos vasos e canteiros da parte lateral da câmara. Em seguida cedeu espaço para o segundo mais velho se aproximar.
– Modevarsh! Você envelheceu! Ho Ho Ho!
Modevarsh sorriu e disse. – Todos nós, não é mesmo velho amigo!?
– Nada disso! Eu não. Eu não!
– O que pretende dizer, Lourish?
– Que não estou velho, ora bolas!! Estou mais jovem e vigoroso do que nunca. Essa aparência é apenas um disfarce mágico, para não deixá-lo sem jeito!
Modevarsh riu alto. – Isso é muito engraçado, Lourish! Desde quando você desenvolveu o senso de humor?
– Não sei... Talvez tenha sido depois de me encontram com um jovem e misterioso silfo. Chama-se Alunil, e vive na cordilheira de Thai, já ouviu falar dele?
– Alunil, não é? – O sorriso de Modevarsh alargou-se. – Nunca ouvi falar!
– Ho ho ho! Seu velho trapaceiro! – Esticou os braços e abraçou o amigo que não encontrava há mais de quatrocentas estações.
Roubert estranhou a conversa e pouco pode entender. Mas concluiu que haveriam coisas sendo ditas nas entrelinhas. Sendo ele jovem e impaciente acabou sendo indelicado. – Senhores, por favor! Será que podemos ficar aqui rindo, enchendo o local de flores e decoração enquanto todo o mundo está desmoronando lá fora?
– Roubert, Roubert! – Lalith chamou-o delicadamente. – Tenha paciência. Na vida precisamos aproveitar os bons momentos quando eles se apresentam, mesmo que existam outras coisas ruins a nosso redor. Sabe por quê?
Roubert ficou calado e percebeu que havia sido indelicado.
A silfa bondosa prosseguiu – Porque sempre existem coisas ruins ao nosso redor. É apenas uma questão de ponto de vista.
– Não fique abatido meu jovem. – anunciou Modevarsh. – Compreendo bem sua aflição. E é bem verdade que não nos reunimos com o objetivo de festejar. Vamos discutir coisas importantes, sim! Mas precisamos relaxar, descansar e conversar a respeito de outras coisas também, compreende?
– Sim, ancestral. Perdoe-me. Fiquei confuso com a conversa de vocês e deixei escapar um pouco da dor e sofrimento do que presenciei e que agora estão dentro de mim.
– Entenda outra coisa jovem Roubert, e preste bastante atenção. Há urgência em agir. Mas nossas ações nada poderão contra o turbilhão que se apresenta diante de nós.
– O que então poderá se contrapor a esta onda maligna que surge?
Modevarsh olhou para seus companheiros e disse. – Estamos velhos, não podemos contrapor tal coisa diretamente. O essencial em nossas vidas já fizemos.
– Não compreendo, se vocês, os mais sábios e poderosos nada podem, quem poderá então?
– Não disse que nada podemos. Podemos sim. Podemos ajudar. Ajudar aqueles que precisam e querem ser ajudados. Aqueles que não querem ser ajudados, não serão. Serão apenas quando quiserem.
– Perdoe-me ancestral, mas sua fala me confunde. O que sei é que muitos dos nossos foram mortos, muitos mais morrerão. A corrupção chegou ao centro de nosso clã, seu atual lider, Rodevarsh, seu irmão, ordenou que Lourish e Lalith fossem executados. Enquanto isso, o reino dos humanos foi dominado por senhores malignos, e isso tudo parece ser apenas o começo! Como o senhor pode ficar assim tão calmo!? Será que o senhor não se importa?!
Lourish virou-se para Roubert ergueu sua bengala e acertou-lhe na cabeça. – Já basta Roubert! Observe seus modos!
– Seja paciente com ele, Lourish – pediu Modevarsh. – Roubert, meu jovem, é visível que está muito ansioso por encontrar respostas para suas perguntas e para combater o mal. Isso não é necessariamente ruim. De fato, pode transformar-se em uma coisa boa. Sei que já esteve em contato com os humanos e aprendeu sobre suas maneiras.
– Como sabe? O senhor nem me conhecia? – perguntou desconfiado.
– Escute meu jovem, não me questione. E não pense que porque Rodevarsh é meu irmão que sou como ele!
Roubert engoliu secou. – O senhor lê mentes?
– Não, mas tenho muita experiência. Pois me escute! Quero que se vá. O que faremos aqui é discutir e planejar mais que agir.
– Mas senhor...
Foi interrompido por Modevarsh que seguiu. – Quero que acompanhe o bom Radishi e meu discípulo, Vekkardi em uma jornada ao reino de Lacoresh. Lá você terá sua chance de combater o mal e talvez possa entender o que isso realmente significa!
Roubert ficou em silêncio por uns momentos e aceitou o fato. – Sim senhor, eu irei!
– Ótimo, pois é melhor se apressar para ir com o bom Radishi.
Roubert curvou-se para despedir-se dos silfos anciões e tomou a direção da saída. Porém, antes de sair, foi advertido por Lalith. – Roubert querido, procure acalmar-se. Pense em coisas boas e deseje o bem. Procure não usar a força, use-a somente em última instância.
– Obrigado pela preocupação senhora, adeus a todos! – disse o jovem silfo e saiu da gruta carregando grandes amarguras em seu âmago.
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Maré Vermelha
FantasyKyle e seus companheiros atravessam mares no navio, Estrela do Crepúsculo, com a ajuda do capitão Dacsiniano, An Lepard Baltimore. Durante a busca de salvação para Lacoresh, ameaçada pelas forças sombrias, enfrentam perigos nos arquipélagos sílficos...
CAPÍTULO 7
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